Resenha: Uma História de Solidão – John Boyne

Odran Yates nasceu na década de 50, na Irlanda, país notadamente de maioria católica. Em meio a um lar disfuncional, Odran, ainda menino, vivenciou alguns traumas que o acompanhariam ao longo de sua vida. Só para se ter uma ideia inicial, seu pai se tornou um ator frustrado, começou a beber demais e, um dia, se afogou no mar, deixando mais que um rombo pela ausência de um pai em sua vida. Após tal tragédia, a mãe de Odran veio a se tornar uma católica fervorosa, e acaba convencendo seu filho de que a vocação dele era ser padre. Odran, então, com pouco mais de 16 anos, vai estudar num seminário, onde acaba conhecendo Tom Cardle, um garoto rebelde, e que viria a se tornar um grande amigo seu.

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Odran, com o passar dos anos, conclui que o sacerdócio lhe cai bem, mas nesse meio tempo, a Igreja Católica tem a imagem altamente prejudicada com diversos escândalos sexuais que chegariam até o “alto escalão”, em Roma. E, assim, Odran, após a meia-idade, passa a ter vergonha de ser irlandês e vive, indignado, na própria pele a decadência dessa enorme Instituição.

Somente com a vergonha, a frustração e a tristeza que passa a sentir, é que Odran se põe a analisar situações do passado, avaliando sua inocência, sua ignorância e seu papel no processo de degeneração de seu ofício, de seu país católico, e de sua própria família.


O ano de 2018 está apenas começando, mas eu já tenho a impressão de que esta leitura foi uma das melhores do ano (de toda a minha vida, para ser bem sincera!). Não é porque sou fã indiscutível de John Boyne que estou dizendo isso.

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Aliás, já que toquei nesse assunto, preciso abrir um parênteses aqui.

Para mim, John Boyne é um autor subestimado. Ele ficou famoso com o livro “O Menino do Pijama Listrado”, que é muito bom sim, sem dúvidas. Mas creio que ser conhecido apenas como “O autor de O Menino do Pijama Listrado” não lhe faz jus. Ele tem livros muito melhores e com público-alvo mais adulto. Já leram, por exemplo, “Um Garoto no Convés”? É ótimo! E “Crippen”, então, que nem foi traduzido ainda aqui no Brasil? Sensacional! As editoras estão dormindo no ponto!  Mas bom, voltando, “Uma História de Solidão” faz parte aí dos livros ofuscados do autor. Tão ofuscado que mal se encontra nas livrarias. Só vejo “O Menino do Pijama Listrado” e seu romance mais recente (e só porque é recente), “As fúrias invisíveis do coração” (altamente recomendado também! – se quiser saber mais sobre ele, clique aqui).

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O livro dispõe de alguns elementos que eu sempre considero importantíssimos ao se avaliar um livro como excelente. Vejamos:

  • A escrita de Boyne é perfeita. Ele não apenas escreve bem. Ele escreve bonito, mas sem exageros de sofisticação. É uma linguagem simples, um pouco formal, mas sempre na medida certa. Como os romances dele costumam ser romances históricos, essa “formalidade de leve” empresta sempre um caráter de historicidade para suas narrativas.
  • Adoro histórias com crianças, sejam elas as protagonistas da história, ao tempo da própria narrativa, sejam protagonistas adultos retomando suas memórias de crianças. Eu sempre acho que se aprende muito com o olhar da infância. E quando esse olhar vem com uma análise crítica da vida adulta, tudo fica ainda melhor. Afinal, é assim que deveríamos viver a nossa própria vida: sempre colocando nosso passado, nossa infância, em perspectiva.
  • Traz algum assunto delicado, mas tratado sem medo. No caso de Uma História de Solidão, Boyne traz ao público, de forma ficcional, os escândalos sexuais envolvendo pessoas de dentro da Igreja Católica como Instituição. Falando bem claramente: padres pedófilos abusando de crianças, e cuja única solução dada pela alta hierarquia da Igreja foi, por muitos anos, apenas transferi-los de tempos em tempos.
  • Metáforas. Eu amo metáforas! E o desfecho da história se dá com a conclusão de Odran sobre sua inocência em relação a esses escândalos que também o estigmatizaram. Afinal, ele é o Padre Yates. A conclusão dele, para mim, foi o momento em que o livro definitivamente ganhou um lugar especial entre meus livros mais queridos. O ápice, claro, veio com uma metáfora. Sabe aquelas metáforas muito bem trabalhadas, que aparecem ao longo do romance, e você nem percebe a importância delas, até que tudo então faz sentido? Foi isso que aconteceu, e por isso, dentre tudo o mais, que eu amei tanto esse livro.

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Ficam aí, então, todas as minhas recomendações para a leitura de “Uma História de Solidão”. Se você já leu, compartilhe nos comentários suas impressões sobre o livro. Ou então, você já ao menos leu alguma coisa do John Boyne? Diga-me qual é seu gênero favorito de livros, que talvez eu possa indicar algum “John Boyne” que se encaixe no seu gosto!


Informações adicionais sobre o livro:

Capa comum: 416 páginas

Editora: Companhia das Letras; Edição: 1 (20 de janeiro de 2016)

ISBN-10: 8535926720 – ISBN-13: 978-8535926729

Título original: A History of Loneliness

9 comentários

  1. Eu tenho um problema com o John Boyne: simplesmente não sei qual livro dele escolher, pois todos me interessam! hahaha

    J li O Menino do Pijama Listrado e O Ladrão do Tempo. Ainda estava na dúvida quanto ao próximo, mas depois desse seu post acho que já está escolhido 😉

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    1. Ahh! John Boyne é maravilhoso! Faltam 2 livros ainda na minha estante dele pra eu ler: o Palácio de Inverno e O Pacifista.
      Gosto muito de o Menino do pijama listrado também, e tem todo aquele negócio de carinho especial, por ter sido minha primeira leitura.
      Espero que goste de leitura de Uma história de solidão tanto quanto eu ☺️
      E obrigada pelo carinho! 😘

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