Leitura Conjunta: O Morro dos Ventos Uivantes – Emily Brontë

Olá, leitores, tudo bom? Hoje eu trouxe um post um pouco mais longo que o comum, porque tenho uma série de coisas para compartilhar com vocês! Caso estejam somente interessados na minha opinião sobre o livro, fiquem à vontade para passar para o terceiro item: “Minhas impressões sobre o livro”.


 

1. Sobre a leitura conjunta: 

O Morro dos Ventos Uivantes foi minha segunda leitura conjunta realizada este ano. Dessa vez, feita com minha querida amiga Day, do @leiturela e a @livros_da_may. Mas muitas pessoas se empolgaram com a leitura e também acabaram lendo o livro no mês de abril, ainda que não participando da leitura conjunta. Fiquei super feliz com a repercussão e desde já, aproveito para dizer que estou adorando a experiência da leitura conjunta, tanto que já combinei a próxima, do mês de maio com um amigo, o Rodrigo, do @rodrigoeoslivros. Quem quiser participar, fique atento em maio, que o livro selecionado foi Drácula!

Mas voltemos a O Morro

Queria esclarecer, antes de mais nada, que a leitura conjunta que eu tenho feito tem funcionado de forma bastante livre. Não propomos o número de páginas ou capítulos para serem lidos em determinada semana e nem obrigamos qualquer tipo de discussão a respeito do livro ao longo da leitura. A proposta tem sido estipular um prazo comum para o término da leitura, para que cada um dos participantes possa ler a seu bel prazer, no seu próprio ritmo e dentro de suas rotinas. Também, a discussão do livro ao longo da leitura não é obrigatória, mas o fato de ser feita em conjunto pode estimular outro participante a dar prosseguimento nela. Se você tem algum comentário pertinente a fazer que possa incentivar seu colega a terminar a leitura, acho super válido que o faça. Não sei se alguém já participou de alguma corrida de rua. Eu costumava participar bastante até ano retrasado, mas resolvi economizar o dinheiro das inscrições para comprar mais livros hahaha. O fato é que, correr ao lado de outras centenas, milhares de pessoas ao seu lado é estimulante; nos faz persistir, nos faz com que nós queiramos ser parte daquilo tudo ali. Na leitura conjunta, o sentimento é parecido, exceto que você não precisa suar tanto. Podemos, ainda, compartilhar nossas angústias ou alegrias do livro por meio de conversas entre nós ou simplesmente fazendo alguns posts comentando o andamento da leitura. Creio que o fato de que dessa vez eu tenha feito várias postagens no Instagram comentando sobre o livro e minha leitura tenha despertado o interesse de tanta gente a lê-lo também, o que foi uma surpresa muito agradável! E, ao final, quem quiser compartilhar a resenha também é muito bem vindo, não esquecendo de marcar os participantes da leitura, para que todos possam comparar as próprias impressões com a do outro, enriquecendo ainda mais a experiência.

O prazo estipulado foi bem folgado (mais de um mês), porque achávamos que a leitura poderia vir a se tornar maçante em determinados momentos, e todas nós estaríamos lendo O Morro revezando com algum(ns) outro(s) livro(s). Ao longo da leitura, porém, eu comecei a gostar muito da história e acabei terminando antes do prazo (o prazo era hoje).

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Ainda assim, achei que demorei mais que o normal para ler o livro, mas nem foi porque a leitura não estava me prendendo. Muito pelo contrário. O primeiro motivo da demora, creio, foi que eu estipulei a leitura dele somente para o período noturno. O segundo motivo foi que, pela primeira vez, decidi fazer um resumo para cada um dos 34 capítulos! Sim, quem quiser, estou vendendo o resumo, caso tenha que ler para algum trabalho! Hahahaha. Gente, é brincadeira. Eu não realizo esse tipo de serviço. Eu não tenho formação acadêmica para tal feito e não me vejo como uma crítica literária, mas apenas como uma leitura que gosta de dividir minhas experiências de leitura com leitores e não-tão-leitores-assim. Também, nunca fui muito a favor de “atalhos” acadêmicos. Mas não tenho nada contra se você é do tipo de pessoa que faz uso deles. Cada um sabe como dispor do seu próprio tempo, sendo dele senhor. Enfim, essas foram as razões da demora, mas também foi uma prática muito positiva para minha própria autoestima. Creio que sempre tive um poder de síntese muito bom. Eu era do tipo de aluna que anotava no caderno as aulas expositivas, mas não numa tentativa hercúlea de escrever palavra por palavra o que os professores falavam. Eu transformava as palavras deles nas minhas. Mas como já faz alguns anos que estou fora das salas de aula, eu havia me esquecido dessa habilidade, o que foi bem legal relembrar. 

A Day divulgou as impressões dela na quinta-feira passada (25/04), e vocês podem conferir clicando aqui. Eu amo o jeito que a Day escreve, ela sempre me faz rolar de rir.


Sinopse:

Esta é a história de um amor que nem mesmo as armadilhas do destino e a morte conseguem destruir. É também uma história de obsessão e dor, perversidade e vingança. No centro dos acontecimentos está a relação de simbiose entre a obstinada Catherine Earnshaw e o rude Heathcliff, que aprende a odiar após sofrer humilhações e rejeições de todos os tipos.

Publicado originalmente em 1847, O morro dos ventos uivantes é um retrato profundo e comovente da degradação humana. E, como todo bom clássico, tem várias portas por onde se pode entrar. O difícil, no entanto, será encontrar a saída, pois o efeito de sua leitura ficará entranhado para sempre na lembrança.


Minhas impressões sobre o livro:

O Morro dos Ventos Uivantes com certeza é um livro que vai ficar marcado na minha trajetória como leitora.

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Quando eu me propus a lê-lo com a Day, eu não sabia praticamente nada sobre o livro, exceto duas coisas: 1) que a Bella, da série Crepúsculo havia lido o livro e que, então existiam algumas referências a ele na série; e 2) que existia uma música, chamada Wuthering Heights (título homônimo ao do livro, no original) interpretada por Kate Bush, e que eu só conheci graças à minha paixão pela banda de metal brasileira Angra, que fez um cover maravilhoso quando o Andre Matos ainda era o vocalista. Pode-se acrescentar a isso que, justamente por conhecer a música, eu sabia que existia um casal, que era a Cathy e o Heathcliff. Se você nunca ouviu a música, clique aqui, pois acho que vale a pena conhecer, a título de curiosidade, nem que seja para ver a letra da música e ter uma noção da obsessão existente no romance.

Romance, aliás, é uma palavra engraçada a meu ver para definir o gênero literário de O Morro. Mas acho que consigo vislumbrar o motivo. Trata-se de uma verdadeira história de amor e ódio. Esqueça qualquer casal novelístico que você já viu e que considerou viver essa relação tumultuada de amor e ódio. Nenhum casal irá superar essa dualidade como Catherine e Heathcliff.

Quando eu respondi à tag no meu Instagram – IG (neste post aqui) e escolhi O Morro como o livro que me fez surtar, há várias razões para isso. Creio que nunca senti tanta raiva de tantos personagens ao mesmo tempo. Sei que muita gente odiou o livro e não conseguiu se conectar de forma alguma com ele porque a história é em quase sua totalidade preenchida de atos odiosos e de personagens horrendos, chatos, mimados… uma leitura que se faz com muitos revirares de olhos, é verdade. Ainda assim, peço que não se desestimulem tão logo de cara e deem uma chance ao livro. Se servir de incentivo, eu o classifiquei como um livro 5 estrelas, o que me fez lembrar porque gosto tanto de ler os clássicos também. Eles são clássicos porque são eternos.

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E por que 5 estrelas?

No IG, divulgando a leitura conjunta, expus algumas considerações a respeito da tradução do texto, e que estava muito satisfeita com a minha escolha pela edição da Zahar. Por se tratar de um livro clássico, do século XIX, se a tradução fosse muito rebuscada, poderia ser mais difícil prender o leitor que não está acostumado com uma linguagem de dois séculos atrás. Então, a experiência já começou positiva por aí. Achei a tradução ótima, mantendo-se o contexto da obra, mas ainda assim bastante acessível para quem está mais acostumado a leituras contemporâneas.

Outro aspecto muito bacana da edição é que há uma apresentação bastante rápida mas eficiente de quem é a autora Emily Brontë. Eu não sabia, mas Emily é descrita como uma possível misantropa, e é incrível imaginar como uma pessoa tão tímida e reclusa conseguiu produzir uma obra de tamanho peso no cenário literário e que retrata tão bem as relações sociais e a condição da degradação humana. Saber desse fato com certeza só potencializa nossa admiração pela obra. Mesmo por parte de quem detestou a história.

Agora, deixem-me resumir um pouco melhor como surgiu a relação entre Catherine e Heathcliff e de onde surgiu tamanho desejo de vingança por parte deste. Havia Hindley e Catherine Earnshaw, filhos dos Earnshaw. Um dia, o pai de Hindley e Catherine volta de Londres com um menino cigano, que é Heathcliff. Hindley imediatamente se ressente. Catherine chega a desenvolver um forte laço de amizade com Heathcliff. Amizade que se confunde com amor. Mas Heathcliff nunca foi bem tratado por Hindley e pela família da propriedade vizinha, os Linton, e certamente menos ainda depois que o Sr. Earnshaw morre, deixando-o desprotegido. E toda essa rejeição e desprezo com que fora sempre tratado transformam-se em puro desejo de vingança, ainda mais porque Catherine se casa com o filho dos Linton. Assim, a história se desenvolve em torno desse triângulo amoroso: Catherine Earnshaw, Heathcliff e Edgar Linton. Ninguém sabe o sobrenome de Heathcliff, o que só aumenta o desprezo por ele não pertencer a família renomada alguma.

Como é uma história cujos personagens se relacionam entre famílias, com algum grau de parentesco próximo, uma boa dica que a Camila do A Bookaholic Girl me deu, e que eu agora também dou a todos que forem ler o livro é: procure uma árvore genealógica das famílias Earnshaw e Linton para consultar sempre que preciso ao longo da leitura. Sério, foi de utilidade extrema e a agradeço novamente!

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Ok, sabendo de tudo isso, espero que estejam preparados para duas coisas no livro: provavelmente o leitor irá odiar Heathcliff por toda a história. É um longo caminho sem volta essa construção de seu caráter abominável. E outro fator que pode desestimular  a leitura é a narrativa ser às vezes um pouco confusa. Mas espero que minhas considerações o ajudem a contornar este problema.

Num primeiro momento, a narrativa é feita pelo recém chegado à propriedade de Trushcross Grange, o Sr. Lockwwod, que se tornará inquilino de Heathcliff. Heathcliff é  proprietário tanto de Trushcorss Grange, que está para alugar, quanto de Wuthering Heigths, onde mora. A narrativa de Lockwood é um pouco maçante, mas dura pouco. Dos 34 capítulos, apenas os 3 primeiros (o terceiro sendo para mim o mais confuso do livro), parte do 4º capítulo e cerca de 2 ou 3 ao final são narrados por ele. A maior parte, portanto, é narrada pela Sra. Dean, que é a criada de Trushcross Grange quando Lockwood chega. Quando a narrativa é dela, o livro fica muito mais prazeroso de ler, e é quando de fato passamos a conhecer a história toda do triângulo amoroso. Fica confuso quando a Sra. Dean começa a contar o que outra pessoa lhe contou. Nessas horas, basta um pouco mais de atenção. Assim, já fiquem atentos ao capítulo 17, que foi onde vi isso acontecer em muitos níveis: fulana conta à Sra. Dean o que fulano e beltrano disseram… mas basta ler atento!

Além disso, a Sra. Dean me parece ser a única personagem de quem eu gostei. Não cem por cento, porque também tive meus momentos de decepção com ela, mas que acaba se redimindo aos meus olhos. Tem até uma citação que achei muito oportuno compartilhar com vocês e que parece resumir bem as minhas impressões sobre todos os personagens da história: “[…] enquanto isso, eu cumpria minhas tarefas domésticas, convencida de que entre as paredes de Grange só havia uma única alma sensata, e que essa alma se alojava no meu corpo.” 

E, por fim, mas só porque não pretendo me estender mais, uma outra razão pela qual o livro me marcou muito, creio que advém de circunstâncias alheias à leitura e que dizem respeito a mim mesma.

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Ocorre que, enquanto lia o livro, deu-se um evento que considerei extremamente injusto e que me abalou muito. E afinal de contas, eu me via como a injustiçada no caso. Minha primeira reação foi de raiva, confesso. Eu estava possessa, e fiz algo que não fazia há muito tempo: já que eu estava escrevendo o resumo de cada capítulo, resolvi também colocar no papel tudo o que se passava no meu coração e que o livro me fez refletir. Então escrevi, como se fosse um diário, sobre o ocorrido. E foi assim que o livro me ajudou a superar o episódio.

Não quero diminuir o impacto da obra, mas se se puder resumi-la num propósito, creio que seja justamente o de mostrar que o ódio, a raiva, o desejo de vingança, não leva a lugar algum senão à corrosão da qualidade humana. Eu, irada, lembrei-me imediatamente de Heathcliff, e quis na hora afastar a ideia daquele ser abjeto de mim. Eu não queria ser igual a Heathcliff. Não quero. Não quero que a raiva gere mais raiva, que o ódio alimente mais ódio nas pessoas e no mundo. Mas, como disse, essa foi uma experiência pessoal, que, no entanto, só me fez voltar meus olhos com mais grandiosidade para a obra. E espero que, se algum dia você se sentir injustiçado, essa obra também desperte em você a repulsa pelo impulso odioso. A literatura tem esse poder, e eu consigo entender porque este livro se tornou um clássico tão adorado. Talvez pela história de amor possessivo e obsessivo de Heathcliff, que não tem nada de lindo e romântico, apenas pavoroso, mas cujo lembrete crucial está estampado em cada uma das páginas do livro: o de que é sempre possível sucumbirmos à degradação, à nossa pior versão, se tomados pelo ódio.


Informações adicionais sobre o livro:

Capa dura: 480 páginas

Editora: Zahar; Edição: 1ª (10 de maio de 2018)

ISBN-10: 853781752X – ISBN-13: 978-8537817520

Título Original: Wuthering Heights

10 comentários

    1. Obrigada, Jess 😊😊😊 hahaha, ahn, que pena que não te convenci… acho que faltou eu escrever mais então 🙄🙄🙄 brincadeira hahaha
      Poxa, mas não é um livro pra qualquer um não. Eu tive uma repulsa enorme pelos personagens, mas ainda assim, tive bons momentos de reflexão e sorrisos no rosto ao ler este livro.

      Quem sabe um dia, ne? 😉

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  1. A primeira vez que tentei ler esse livro fiquei perdida em meio aos personagens e à narração, mas agora eu consegui me concentrar bem na leitura e e consegui ler sem me atrapalhar. Que resenha perfeita! Adorei. ♥♥

    Curtido por 2 pessoas

  2. A idéia da leitura conjunta faz muito sentido, realizá-la sabendo que alguém que se conhece está lendo com você, e depois poderão compartilhar emoções e impressões. Ler também pode ser atividade social, mesmo o fazendo sozinho no quarto. Estimulante.

    Fui corredor de rua, também. E a sociabilidade é impulsionadora, encontramos conhecidos e fazemos amizade correndo provas.

    As diferentes traduções de uma obra literária seguem prioridades diferentes, e eu nunca havia pensado nisso. Por isso há pessoas que preferem ler o original, assim não há problemas de ter que optar por ortografia, métrica, rima, sentido literal ou figurado, etc. que é impossível abarcar igualmente em uma adaptação a outro idioma.

    Ouvi muito sobre o livro, mas lendo a resenha, percebi que não é para mim. E também tenho agora uma idéia geral do motivo de este ser um sucesso.

    Ouvi a canção. Que voz a do André Matos! Eu lembrei dela, é uma versão de uma música famosa, e eu nem sabia que era desse livro.

    Também li a análise de sua amiga no IG, bem humorada e explicativa.

    Sinto que tenhas sido injustiçada, Isa, embora eu não consiga imaginá-la manifestando esse ódio de modo efetivo. O que termina sendo bom para você, uma vez que o ponha para fora de algum modo, como escrevendo ou conversando sobre isso, e depois deixando para o passado.

    E as fotos, as fotos! Cinco, uma mais bela que a outra! Se eu tivesse uma livraria, você seria minha fotógrafa oficial para os lançamentos. Muito mais atraente e verdadeira que as feitas em estúdio nas já manjadas edições de estética perfeita e sintetizada, computadorizada, envernizadas.
    Sua direção de fotografia sim, é a perfeição; beleza, sensibilidade, autenticidade e paixão nas imagens. Magnífico!

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    1. Poxa, Leonard, muito obrigada demais por todo esse comentário!
      Realmente, foi bem estimulante a leitura coletiva, espero o mesmo da próxima.

      Legal saber que minha analogia de corredora foi feliz pra vc hahaha

      Não, não é um livro pra qualquer um, mas fico feliz de ter lido essa obra. Sensação de dever cumprido!

      Eu não consigo expressar muito bem meu ódio kkkkkkk o que me fez ter muita repulsa pelos personagens, pq são bem o contrário de mim, mas sim, só de eu ter compartilhado ainda que superficialmente o ocorrido, já estou conseguindo dar risada da situação.

      E obrigada pelo elogio às fotos 😍 são simples, mas têm todo meu coração nelas.

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  3. Enquanto lia o post, surgiram algumas reflexões … As relações humanas estão sucumbindo? … o ódio, a ira, a inveja, a indiferença, o egoísmo estariam avançando? Perdeu-se a capacidade de respeitar, amar, superar? Se a história é cíclica, como dizem, qual será o futuro?

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