Daqui pra Baixo – Jason Reynolds (Caixa de Junho – Intrínsecos)

Começo o post pedindo desculpas por não estar conseguindo seguir as leituras das Caixas do Clube Intrínsecos na regularidade que gostaria, ou seja, apenas um por mês. O último que li foi o da Caixa de Março (2019), e já estamos em julho. Felizmente, o de junho, graças à proposta da própria obra, permitiu que eu o lesse numa sentada só, e ainda declamando em voz alta. Para quem? Bem, isso não sei, mas adoro ler em voz alta, sobretudo poemas. Não se preocupem, não faço isso em público.

O livro de junho do Intrínsecos foi Daqui pra Baixo, do escritor americano Jason Reynolds.

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Na foto, o postal, que é uma prévia da futura capa do livro para não assinantes

Sinopse:

Aos quinze anos, Will conhece intimamente a violência. Ela está no dia a dia do bairro, nos avisos para não voltar muito tarde, nos sussurros dos vizinhos sobre mais uma pessoa que foi morta. Sussurros que agora falam da família dele, de seu irmão mais velho, seu herói.

Tive o cuidado de não trazer a sinopse toda aqui no post, porque entendo que ela traz spoilers. Não sei como ficará a sinopse da edição comum, que será a vendida nas livrarias, mas espero que seja mais sucinta que a que vem na revistinha do clube.

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Infelizmente, ao cortar todo o resto da sinopse, alguns dados importantes ficaram de fora, mas nada que eu não possa corrigir ao trabalhar a resenha do livro.

Em primeiro lugar, trata-se de um romance escrito em versos. Reynolds originalmente o escreveu em prosa, e depois em verso, que é o resultado que temos. Fiquei muito curiosa para lê-lo no original, já que poesia é sempre mais complicada de se traduzir. Mesmo assim, o trabalho de Ana Guadalupe é impecável, e parabenizo-a pela excelência!

O romance tem uma trama que se dá num curtíssimo intervalo de 01 minuto aproximadamente. Há uma espécie de prólogo, que traz a problematização da história e contextualiza melhor o leitor (onde descobrimos que o irmão de Will foi morto), mas o enredo mesmo acontece em pouco mais de 60 segundos, a partir do momento em que Will decide sair de casa e pega o elevador para descer ao térreo e sair à rua.

EU NÃO CONHEÇO VOCÊ,

não sei

o seu sobrenome,

se você tem

irmãos

ou irmãs

ou pais

ou primos

que são tipo

irmãos

e irmãs

e tias

e tios

que são tipo

mães

e pais,

 

mas se o sangue

dentro de você corre dentro

de outra pessoa,

 

você nunca vai querer

ver esse sangue correr

fora deles.


Minhas impressões sobre o livro, a caixa e tudo mais:

Não canso de dizer que a Intrínseca sempre se supera. Não posso avaliar ainda as caixas de abril e maio, porque ainda não tive a oportunidade de ler os livros e ter uma visão global de tudo que acompanha suas leituras, mas esse kit de junho está um espetáculo!

A Intrínseca inovou ao trazer seu primeiro livro em poesia para o clube e também por trazer na revistinha alguns textos que foram escritos por pessoas que não têm experiência alguma com a área editorial. É uma proposta muito bacana que vai ao encontro do idealizado por Reynolds. Conforme entrevista concedida à editora, Reynolds explica que optou pelo formato de versos para sua história, dentre outros motivos, porque precisaria convencer o leitor que a história se passa em pouco mais de um minuto, e que, portanto, teria de ser algo rápido de se ler. Outro destaque importante da entrevista, mas que é facilmente notado ao se iniciar a leitura do livro, é o objetivo de Reynolds de que TODO MUNDO pudesse ler Daqui pra baixo, sem se sentir intimidado de qualquer forma. O objetivo almejado é alcançado com louvor!

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Além da sinopse e da entrevista, na revistinha encontramos textos escritos por alunos de escolas de zonas de periferia das cidades de São Paulo, Natal, Vitório e Rio de Janeiro, cujos professores receberam Daqui pra baixo para trabalhar o livro com suas turmas. Há ainda fragmentos da obra My Name is Jason. Mine Too: Our Story, Our Way, que foi publicado por Reynolds em coautoria com o ilustrador Jason Griffin, e o depoimento de um professor, também de uma escola de periferia, que aborda a importância da escola como lugar de fala, onde os alunos precisam encontrar seus pontos fortes e se fazerem vistos.

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O livro, em conjunto com todo esse trabalho, me cativou bastante. Juntamente com o livro, há um folder que destaca um dos versos do livro: “Certeza que você já ouviu essa história”. Sim, infelizmente, a história que Will nos apresenta, ao contextualizar seu desejo de vingança, é mais comum do que gostaríamos que fosse.  Nem paramos mais para contar quantas notícias de assassinatos ouvimos ao longo de nossas vidas. Mas a forma como Reynolds se vale de Will para contá-la é que nos mostra a força da literatura. Ainda não concluí a leitura de A Arte de Ler: ou como resistir à adversidade, de Michèle Petit, mas Daqui pra baixo me parece uma prova viva de como a literatura é importante sobretudo em “contextos de crise”, e as zonas de periferia estão dentro desse contexto. Aliás, a frase que eu utilizo no blog como epígrafe (“A literatura é uma oferta de espaço”) foi extraída desse livro de Petit.

Não trabalho na área de educação, mas entendo que Daqui pra baixo deveria ser trabalhado em outras escolas, quanto mais, melhor. Entendo também que é um livro muito oportuno para ser levado às “bibliotecas” do sistema penitenciário, não apenas aqui no Brasil. Tenho certeza que seria uma obra proveitosa tanto para aqueles que fazem a leitura como remição de pena por obrigação ou por prazer e amor à literatura.

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Só para deixar registrado aqui meu amor pelo Intrínsecos ❤

No mais, adorei o jogo de palavras magnéticas que veio junto no kit de junho. Já me diverti bastante aqui sozinha em casa tentando compor alguns textos (é mais difícil do que parece), e também pensei nele como uma boa forma de se brincar de gramática, ao se propor separar as palavras por suas classes gramaticais.

O marcador de páginas, com uma cor metálica (que infelizmente as fotos não foram capazes de capturar), que lembra a superfície interna de um elevador, também, está maravilhoso. Eu o considero o mais lindo até o momento!

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E vocês? Com que impressão ficaram do livro? Que vale a leitura ou não?

Minha nota final foram 5 estrelas. Eu já tenho uma afinidade e apreço muito grande pela poesia desde criança, então me senti bem à vontade com essa leitura. Mas, sinceramente, se você não é fã do gênero, não deve se preocupar. Esse livro, Daqui pra baixo, realmente “TODO MUNDO pode ler”, mas eu diria melhor: todo mundo DEVE ler.

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