O título desse livro já nos coloca para pensar, antes mesmo de iniciarmos sua leitura, não é mesmo?
Eu nem me atrevi a tentar responder essa pergunta quando recebi o livro de presente da minha amiga, Marie (@matilhaliteraria) — não deixem de visitar o IG dela—, mas esse questionamento ficou martelando por muito tempo na minha cabeça, até começar a leitura do livro.
Sinopse:
“Em Por que Amamos Cachorros, Comemos Porcos e Vestimos Vacas, Melanie Joy investiga de forma brilhante e inovadora por que nós, como cultura, estamos tão dispostos a comer certos animais enquanto jamais sonharíamos em comer outros. Nossa disposição para fazer isso, diz a psicóloga social, só existe porque negamos a realidade. Ignoramos as evidências de que os animais têm consciência, sua capacidade de sentir dor, as práticas desumanas da pecuária, e ignoramos que não precisamos de carne em nossa alimentação, pois, na maioria das vezes, vivemos mais tempo e melhor sem ela.
“Diferente de muitos livros que explicam por que não devemos comer carne, este explica por que comemos carne e como podemos fazer escolhas mais conscientes, como cidadãos e consumidores.”
O livro foi um presente de Natal, mas só vim a terminar sua leitura há poucos dias. São apenas 7 capítulos, bem curtos. Num determinado ponto, porém, tive que dar uma longa pausa, e a leitura seguiu parada por mais de um mês, acredito.
Os primeiros 2 capítulos foram lidos muito rapidamente, porque achei tudo muito curioso. O primeiro capítulo começa com um exercício de imaginação bem simples, mas bastante provocativo, no sentido de mexer com nossas reações emocionais: você comeria um golden retriever, por exemplo? Com essa estranha indagação, Melanie começa a tratar, assim, da nossa percepção de mundo, falando de nossa relação de amor com cães e uma relação/percepção de vaca como carne, explicando sobre a empatia e o entorpecimento psíquico como forma de lidar com nosso desconforto moral (de comer certos animais), até concluir com o fato de que gosto é algo construído (que é algo com o qual sempre concordei). Gosto é hábito, e portanto, passível de ser mudado. E tudo que é construído depende dos valores que atribuímos a cada coisa. Já o segundo capítulo, ligando-se de forma muito coesa com o primeiro, começa a demonstrar como esses valores construídos são perpetuados, colocando o vegetarianismo de um lado e o carnismo do outro, e apontando como o primeiro é tido pejorativamente como “diferente”. Até esse ponto já havia feito muitas reflexões, em paralelo até com outras formas de perpetuar a violência por meio de crenças, pois é assim que Melanie encara o carnismo, como uma ideologia violenta. O racismo é um exemplo de ideologia violenta. Ela possui os próprios mecanismos de permanecer invisível e se perpetuar como “normal”, tão enraizada que algumas crenças se encontram dentro de nós.
Parece exagero? Bom, você pode até achar, se, como eu, só sabia metade da realidade com que os animais para abate são tratados, como o lucro é sempre a maior preocupação das corporações, e como é insustentável essa produção. E foi por isso que o capítulo 3, que vai abordar essa cruel verdade, me fez deixar o livro de lado por um tempo. Foi um capítulo pesado, difícil de ler, com relatos horrendos, que me fizeram me sentir muito ingênua. Se você desconhece tal realidade, procure se informar. Não se sinta culpado(a) por não saber, porque há todo um mecanismo do consumo de carne que visa justamente tornar invisível essa etapa da produção. A única ligação que fazemos é entre o boi e a bandeja de carne, já devidamente limpa e cortada no mercado, apagando todo o resto do rastro da produção. Não se sinta culpado, mas também não continue desinformado sobre o assunto.
Depois que tive coragem de voltar a ler, creio que a leitura foi se dando de forma mais tranquila, embora ainda carregado de fatos que preferíamos que não fossem verdades.
Agora, terminado de ler o livro, porém, não quero ser hipócrita e dizer que não como mais carne, porque eu como. Se vai ser assim sempre, sinceramente, não sei responder, mas não vou dizer que nunca vou conseguir deixar de comer carne. O que sei dizer é que, agora, depois que você lê um livro desse, sua relação com a carne nunca mais será a mesma. Toda vez que decido por comer carne, um alarme soa na minha cabeça, me fazendo lembrar que essa é uma decisão consciente, porque agora conheço a realidade. Entendo que um ótimo primeiro passo, depois de reconhecer que essa é uma decisão com peso moral, é também optar pela redução, que é onde me encontro no momento. Claro que não é o suficiente, mas é um processo a ser desconstruído. Pense no impacto que a redução já causa numa família com 5 pessoas, e se de repente mais 3 amigos, com mesmo número de membros familiares decidissem fazer o mesmo?
Também, acredito que por causa das minhas próprias restrições alimentares (glúten, lactose), estou muito mais aberta à ideia de sair das dietas tidas como “normais”. Uma coisa que sempre me incomodou nas pessoas é elas expressarem certo nojo por comidas que lhe pareçam diferentes demais, que é como o vegetarianismo e o veganismo são vistos. Acho que seria ótimo se, antes de mais nada, as pessoas parassem com isso e até mesmo experimentassem essas comidas com a mesma curiosidade e prazer que experimentam novos cortes de carne, por exemplo. Porque, na minha visão (talvez ainda um pouco ingênua), se as pessoas estivessem mais abertas a provar alguns alimentos “diferentes”, veganos, por exemplo, poderia crescer sua demanda no mercado, e o consumo de carne e todo o preço ambiental que pagamos por ele diminuiriam também como consequência.
Fiquei até um pouco decepcionada com Michael Pollan, por conta de um trecho do livro, em sua parte que serve como guia para discussão em grupo da leitura, que diz o autor e jornalista: “sonhos de inocência são justamente isso; geralmente dependem de uma negação da realidade que pode ser sua própria forma de arrogância”. Não creio que os vegetarianos/veganos sejam arrogantes ou que neguem a realidade. Pelo contrário, são pessoas conscientes da realidade e que se sentem responsáveis pelo planeta em que vivem e que alertam outras pessoas a essa tomada de consciência também. Obviamente há sempre aqueles mais radicais, que impossibilitam qualquer forma de diálogo e até mesmo que outras pessoas entendam os problemas e questões ligados ao consumo de carne; o que não ajuda. Mas isso é outra história, e que não deve ser generalizada ao se descrever as pessoas de um determinado grupo.
No mais, pense você ou não em deixar de consumir carne e produtos derivados de animais, recomendo essa leitura como fonte de informação, principalmente para tomar consciência dos sofrimentos dos animais e pensar criticamente também em todo o setor alimentício/agropecuário por trás de tal consumo. É um livro que nos tira da zona de conforto, mas que considero necessária a leitura para repensarmos nosso papel como consumidores mais conscientes. E mesmo sendo um livro escrito por uma norte-americana, é possível até, no Brasil, ligar os fatos por ela apontados com nosso cenário político, cujo legislativo se encontra tomado boa parte por pessoas desse grupo e que são as pessoas que tomam as decisões por nós, como representantes. E, caso você já esteja também decidido a reduzir/eliminar o consumo de carne, ao final do livro há dicas bem bacanas de sites e documentários.
De minha parte, vou listar alguns @ que sigo que trazem receitas deliciosas ou de restaurantes/lojinhas com cardápio incrível para quem acredita que as opções de uma dieta sem carne são reduzidas:
Restaurantes/lojinhas:
Café com Propósito – Londrina/PR
Comidaria Green – Londrina/PR
Confeitaria Dêds – Londrina/PR
Jubis Vegan – Londrina/PR
Green Cuisine – Victoria (Canadá) – teve post dele aqui.
Receitas:
@nm_meiyee (em inglês)
@frasouza4 (e de quebra, dicas literárias também hahaha)
Gostaram das dicas? Se sua cidade também tem um restaurante vegano que você indica, não deixe de comentar! Quem sabe um dia eu tenha a oportunidade de visitar!
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 200 páginas
Autora: Melanie Joy
Editora: Cultrix; Edição: 1 (21 de fevereiro de 2014)
Título Original: Why we love dogs, eat pigs and wear cows
ISBN-10: 8531612578 – ISBN-13: 978-8531612572
Edição recebida de presente da minha amiga linda Marie! Muito obrigada!
Esse é outro livro que já entrou para a minha lista.
Ser vegetariana não é fácil. Não por causa da comida, mas por causa das pessoas. Desde que me tornei vegetariana, há uns 6 anos, mais ou menos, tudo o que as pessoas fazem é fiscalizar o meu prato, torcer o nariz, fazer um check list do que eu como ou não, “mas e as proteínas”, “minha comida… defeca na sua”, e por aí vai. Até já questionaram sobre a alimentação de possíveis filhos que eu nunca disse se teria! Evito o máximo que posso comer com outras pessoas porque é extremamente desagradável e as pessoas não percebem o quão ruim é essa atitude delas, mesmo que nos falemos. Claro que não são todos, mas pelo menos uns 90% das pessoas que eu encontrei na minha vida.
Acredito que isso se deva, em parte, à falta de contato com essa realidade relacionada à produção de carne e ao não querer saber.
A comida é maravilhosa! O problema segue sendo as pessoas.
Ótima resenha! ❤
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Carol! Estou horrorizada com os comentários que as pessoas fazem! Sério! Quanta ignorância (nos dois sentidos – desconhecimento e agressividade). Eu acho que a parte “social” de qualquer “dieta” é complicada, justamente porque as pessoas querem sempre dar opiniões que ninguém pediu. Eu por não comer glúten por necessidade também sou muito questionada, como se todas as comidas fossem feitas de trigo, sabe? O que mais escuto é “nossa, mas então você come o quê?”… É cansativo responder sempre às mesmas perguntas, e muitas vezes pras mesmas pessoas que só fazem esses questionamentos na frente dos outros, com a intenção de te constranger, sabe? Te tornar uma aberração. É lamentável isso, por isso, te entendo perfeitamente. Há muitos alimentos veganos que, por serem voltados por um público que prima também pela qualidade dos alimentos, oferecem muitas opções livres de glúten, então eu já como eles há um bom tempo, mas toda vez sou questionada pelas minhas escolhas de alimento quando estou em grupo… realmente, a mente das pessoas que quer continuar limitada é sempre o maior problema.
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Não sou vegetariana, mas quando penso em almoçar, logo penso num restaurante vegetariano. Aprecio bastante.
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Apesar de consumir pouca carne, não sou vegetariana. Mas acho que o livro é de grande relevância para informar a todos. Achei bem interessantes suas colocações.
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Acho que somos parecidas (mais) nesse aspecto, então! Sim, eu recomento pela informação mesmo, queira ou não a pessoa deixar de comer carne.
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