Sinopse:
“Na escola, no interior da Irlanda, Connell e Marianne fingem não se conhecer. Ele é a estrela do time de futebol, ela é solitária e preza por sua privacidade. Mas a mãe de Connell trabalha como empregada na casa dos pais de Marianne, e quando o garoto vai buscar a mãe depois do expediente, uma conexão estranha e indelével cresce entre os dois adolescentes — contudo, um deles está determinado a esconder a relação.
Um ano depois, ambos estão na universidade, em Dublin. Marianne encontrou seu lugar em um novo mundo enquanto Connell fica à margem, tímido e inseguro. Ao longo dos anos da graduação, os dois permanecem próximos, como linhas que se encontram e separam conforme as oportunidades da vida. Porém, enquanto Marianne se embrenha em um espiral de autodestruição e Connell começa a duvidar do sentido de suas escolhas, eles precisam entender até que ponto estão dispostos a ir para salvar um ao outro. Uma história de amor entre duas pessoas que tentam ficar separadas, mas descobrem que isso pode ser mais difícil do que tinham imaginado”.

O título e a sinopse desse livro me fisgaram de forma instantânea, e ao ser disponibilizado o e-book para os parceiros da Companhia das Letras, não tive dúvida e o solicitei para leitura. O título me chamou a atenção porque acredito que não existam “pessoas normais”, no sentido de normatização social. Na verdade, criar padrões não apenas retira a individualidade das pessoas, ao estereotipá-las, como também pode gerar uma série de angústias, comparações e frustrações desnecessárias naqueles que sentem não fazer parte do grupo dos “normais”. E falo como quem já se ressentiu muito por acreditar que era vista como fora dos “parâmetros” até entender que tudo não passa de uma grande besteira e que devo me amar como sou.
Assim, a ideia do livro me pareceu também muito pertinente, justamente por explorar esse sentimento de repúdio à dita “normalidade”.
Porém, ainda que eu tenha sido trazida a esta leitura por genuíno interesse no tema e acredite na importância de abordá-lo, o livro não foi nem um pouco o que eu imaginava. Mas já que o tema nele tratado é justamente a “normalidade”, achei igualmente importante destacar minhas impressões.
Leitura é algo muito pessoal, uma experiência vivida individualmente. A boa ou má sensação que um livro nos traz vem não apenas dele, mas eu diria que vem boa parte de nós mesmos, de toda a bagagem que já carregamos conosco. Tem a ver com identificação, e não apenas com empatia – muito embora os livros também possam nos ensinar sobre sermos empáticos.
“Pessoas Normais” tem sido um livro muito querido por muita gente, e respeito a opinião das pessoas, porque, pelo que percebi, quem o amou se identificou muito com os personagens. Não vou dizer que não me identifiquei com nada; na verdade, há muitas passagens que eu grifei porque achei muito boas e já experimentei os mesmos sentimentos, mas a história simplesmente não me cativou.
Os personagens são muito bem trabalhados, a escrita de Sally Rooney é bem interessante (e achei o ponto forte do livro), mas eu sinceramente não curto enredos em que os personagens passam anos entre idas e voltas, empatando o tempo um do outro, tentando negar um sentimento recíproco. Isso é, como disse já, algo muito pessoal, simplesmente porque não me imagino na pele dos personagens me autossabotando dessa forma ou não sendo capaz de deixar claro para o outro o que eu quero, o que eu gosto, o que eu penso. Se por um lado isso me irritou, é exatamente porque acredito que Marianne e Connell têm camadas e camadas muito reais, capazes de criar uma reação inegável em mim, ainda que de indignação. Terminei o livro, como dizem meus amigos do Clube do Curinga, na força do ódio, com a sensação de empate de tempo também, exceto que sem o peso da culpa por ter arrastado outra pessoa comigo, como seria num relacionamento.
Achei, portanto, o livro apenas “OK”, com uma boa escrita, mas sem um grande evento, em que o tempo é um terceiro personagem inerte, realçando mais ainda a inércia dos protagonistas frente às próprias vidas. Quero deixar bem claro, porém, que não penso que haja um “mimimi” por parte dos personagens. Marianne e Connell, acredito, têm problemas que devem ser levados a sério, o que realmente não curto é a história se sustentar apenas nessa longa relação não-relação e acreditar que isso forma uma boa e suficiente trama.
Se você discorda de mim e acredita que o verdadeiro romance pode ser pintado nesse cenário de longo prazo numa ciranda infinita, provavelmente o livro irá cativá-lo e indico a leitura, já que Marianne e Connel são muito reais. Se você se identificou com os motivos da minha ligeira irritação, então talvez seja melhor deixar passar dessa vez e procurar outros livros que abordem o tema da “normalidade social”. Quem, aliás, tiver alguma dica nesse sentido, estou aberta a sugestões!
Dados Técnicos do Livro:
Formato: eBook Kindle Autora: Sally Rooney Editora: Companhia das Letras (30 de setembro de 2019) Número de páginas: 256 páginas – Tamanho do arquivo: 1370 KB ASIN: B07SZ4QRCJ Exemplar lido através da plataforma NetGalley, em parceria com a editora Companhia das Letras. Adquira o seu preferencialmente pelo site da editora. |
Incrível como a sinceridade desperta o interesse em ler o livro. Parabéns pela resenha!!!
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Obrigada! Bom saber! Sempre prezo muito pela sinceridade. Significa que as críticas não precisam ser falsamente elogiosas para levar a leitura às pessoas. E isso é maravilhoso!
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Quando bati o olho no título – Pessoas normais – só pude pensar na famosa frase da Nise da Silveira “Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata.”. Infelizmente isso pode ser aplicar a livros quando seguem o modelo de que os casais precisam passar a história toda separados para só na última página terem o tal do final feliz. Acho chato. Acho normal demais (como narrativa). Acho “curado” demais. Prefiro a loucura e o surpreendente ❤
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Adorei essa frase! Concordo com ela hahaha
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Não se isso acontece com você. Mas, sabe aquele livro que só pelo título você sente que não vai gostar (pode me chamar de preconceituosa). eu vi algumas pessoas comentando sobre ele no IG e quando vi no Netgalley, não senti nenhuma vontade de ler. Depois que li sua resenha, acho que foi uma sábia decisão. Não é o tipo de história que eu gosto.
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Às vezes acontece sim, Gio. Mas dessa vez o título e a capa me enganaram hahahah, me atraíram muito e eu realmente fiquei com vontade de ler o livro. Pena que não foi nada do que eu esperava.
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