Arlo draws an octopus – o livro que fez meu filho voltar a desenhar

Contextualização e antes da leitura

Meu filho passou por um período, curto, mas ainda assim preocupante, em que ele se recusava a desenhar. Acho que é importante ressaltar que ele sempre gostou muito de desenhar. No primeiro ano na creche, a professora conversando comigo e com o pai, nos orientou a incentivar mais em casa que Naoki pintasse mais, porque ele tinha uma resistência maior com o “sujar-se” de tinta. Então ele ganhou dos meus pais um cavalete e umas telas, e eu mais telas e mais tintas, e ele gostou muito de pintar as telas. Tanto que, tentando economizar, repintei várias vezes algumas telas de tinta branca para que ele pudesse pintar novamente de uma tela em branco. Conforme percebemos que ele foi se importando menos com a sujeira, também fomos apresentando outros materiais e texturas, para ele experimentar.

Uma coisa que a gente gostou muito, e Naoki também, foi de desenhar na lousa branca. Acho que foi uma das melhores compras que eu fiz, em termos de custo-benefício, além de que, só por não ficar gastando inúmeras folhas de papel sulfite, o meio ambiente (e o nosso bolso) agradece. Inclusive, eu trouxe uma mini lousa branca para o Canadá, a bordo, e canetinhas coloridas, para ele ter uma distração durante a longa viagem, e ele acabou usando numa espera nossa numa estação de trem, além de que tem usado diariamente para desenhar.

Mas a história não é assim linear e contínua. Como disse no início do post, houve uma fase que ele “travou”. Eu não sei dizer exatamente o quê aconteceu, mas quando vimos, ele se recusava a desenhar e me pedia para desenhar no lugar, porque, nas palavras dele ele não desenhava muito bem. Quando eu ouvi isso, meu coração se partiu. Por que, raios, ele sentia que não desenhava bem? Uma criança de 3 anos! Uma enxurrada de perguntas veio à minha mente “será que foi alguma coisa que disseram para ele?”, “será que ele ficou ouvindo muito coisas do tipo, não faz assim, faz assado?”, “quem exigiu perfeição dele, com apenas 3 anos?”. Não importa muito de onde veio isso, na verdade. Eu vi que precisava resolver.

Conversei muito com ele, dizendo que não era verdade que ele não desenhava bem. Não disse nenhuma mentira para ele, porque acho muito importante ser sincera com ele sempre. Então lembrei-o de como no Brasil, eu costumava desenhar as rodas do “monster truck” (aqueles carros de rodas gigantes que fazem manobras radicais) e que ele completava o desenho fazendo todo o resto, a carroceria, as janelas, a rampa, e de como a gente se divertia muito fazendo isso junto. E então ele passou a desenhar os monster trucks comigo novamente, eu fazendo as rodas e ele a parte de cima, e os desenhos dele ficavam incrivelmente criativos. Mas era preciso essa pequena participação e incentivo meu.

Até que um dia, na biblioteca, meu pai encontrou o livro “Arlo draws an octopus”, que ele mostrou a capa para o Naoki só porque sabia que Naoki adorava polvos. Assim que viu o livro, Naoki me pediu para ler. E eu jamais imaginaria que aquele livro de polvo seria o que faltava para terminar de “ligar a chave” na cabeça do meu filho para que ele voltasse a desenhar.

Naoki quando voltou a desenhar


A história do livro

No livro, Arlo era um garoto que gostava muito de polvos (assim como Naoki), e então um dia ele resolveu desenhar um polvo. Mas conforme ele desenhava, mais insatisfeito ele ficava com seu desenho, que, para ele, nem parecia um polvo. Frustrado, ele amassa o papel e o arremessa longe. Mas como havia sido ensinado que jogar papel no chão era errado, ele foi lá buscar. Quando abriu o desenho, viu que não era o dele. Um polvo havia desenhado um garoto e se frustrado com o desenho e feito exatamente a mesma coisa que Arlo. Mas Arlo achou o desenho do polvo muito legal, e o polvo, por sua vez, achou o desenho do Arlo muito legal. No fim, ele percebeu que o desenho dele era bem OK, e então passou a desenhar outra coisa que ele gostava muito: elefantes, mas dessa vez, na companhia de um novo amigo, que também se sentiu confiante em desenhar muitos elefantes.


O pós-leitura

Foi uma história simples assim. Mas eu juro. A gente chegou em casa, e Naoki quis desenhar polvos, e sozinho. Sem minha ajuda. Eu nunca vou saber bem ao certo como Naoki interpretou a história, se ele entendeu que, no final das contas, ele também desenha bem OK. Eu só sei que esse livro tem um lugar especial no meu coração, porque nos ajudou a atravessar essa fase.

Gosto de pensar que para cada problema nosso, existe um livro que pode nos ajudar, só que nem sempre a gente tem a sorte de encontrá-lo na hora certa – ou de sequer encontrá-lo durante toda a vida. Mas arrisco dizer que, se a gente não continuar procurando, realmente nunca vamos encontrar.

Também gosto de pensar que, mesmo que inconscientemente, Naoki já está internalizando que pode confiar no poder dos livros para encontrar conforto, refúgio e até um ombro amigo.

Obrigada, livros, por tudo que vocês me proporcionam.


Dados Técnicos do Livro:

  • Capa dura:‎ 40 páginas
  • Autora: Lori Mortensen
  • Ilustrações: Rob Sayegh Jr
  • Editora: ‎Abrams Books for Young Readers (4 maio 2021)
  • ISBN-10: ‎1419742019 – ISBN-13: ‎978-1419742019
  • Público alvo: ‎4 – 8 anos

1 comentário

  1. Sem querer ajudei o meu neto e fiquei muito feliz por isso mesmo não sabendo desse bloqueio que estava tendo com os desenhos. Naoki tem muito potencial e deve ser explorado dando oportunidades para conhecer e experimentar tudo, assim irá crescer e tornar uma pessoa preparada para o mundo.

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