Por dentro de Rita Hayworth – Marcos Alexandre Faber

Na literatura, há espaço para todos tipos de narradores. Bebês, defuntos, crianças, idosos, pessoas ou pets fazem parte deste vasto repertório. Em “Por dentro de Rita Hayworth”, porém, é a primeira vez que me deparo com um pôster como narrador. Não qualquer pôster, por favor. Trata-se da célebre atriz Rita Hayworth, estampada num retrato de 1,30m de altura e afixada na cela de Andy Dufresne; sim, o banqueiro preso na fictícia Penitenciária Estadual de Shawshank, que ganhou fama pelo filme “Um sonho de liberdade”.

Rita Hayworth tem muito a dizer aos leitores, e seu olhar, de alguém que já testemunhou muitos fatos dentro daquela carceragem, dignifica ainda mais o prisioneiro e a própria pin-up girl impressa.

A Rita da parede de Andy deixa de ser uma mera representação da fantasiosa companhia que a solidão humana inventa (quem lembra também da bola Wilson em “Náufrago”?) para se tornar uma personagem que, embora ciente de sua condição de papel impresso, desenvolve sentimentos, tem suas próprias opiniões e interpretações.

Um livro que mostra que uma mesma história pode ser recontada inúmeras vezes, sob novas roupagens e novas vozes. Uma narrativa deliciosa de se acompanhar e que nos faz lembrar que a vida comporta muitas perspectivas. Fictícias ou não, elas têm o poder de mudar nossa percepção sobre aquilo que achamos que já conhecemos. Às vezes, é só isso que basta para a magia acontecer.