O olhar da criança

“Mamãe, o que é isso?”. Esta é uma pergunta recorrente em casa, com uma criança muito curiosa, interessada e participativa (que bênção, né?).

E do alto do pedestal de adulto que acabamos muitas vezes assumindo nossas posições, achamos que somos nós que temos razão, e não a criança. Vejam bem, não estou de forma alguma querendo inverter papéis. Acredito que os pais têm uma grande responsabilidade, justamente por serem os adultos da relação. Responsabilidade de educar, de acolher, de corregular, mas também de levar em consideração aquilo que a criança está tentando nos comunicar.

Então não foram poucas as vezes que, não apenas metaforicamente, mas também literalmente, tive de me abaixar e tentar ver as coisas da perspectiva do meu filho. Muitas vezes, para aquela pergunta que inicia este post, eu sempre venho com uma resposta rápida, que parece até óbvia para mim, e minha criança, tão questionadora quanto é curiosa e interessada, refuta minha resposta: “não é isso, mamãe!”. Uma convicção enorme em sua voz. “Mas então, o que é isso?”, rebato eu. Na minha voz, talvez uma ironia, e também arrogância. Nas entrelinhas, pode-se ouvir: “Então, já que você acha que sabe mais do que eu, o que é isso, afinal?”. E não foi apenas uma vez, mas várias, e muitas outras virão, em que a resposta dele me atinge em cheio. No ego, claro, e me faz descer do pedestal. Mas também como adulta, assumo meu papel, e levo em consideração a resposta dele, tendo a humildade de dizer “nossa, filho, você tem razão. Você está certo. É isso mesmo!”.

Vou dar um exemplo bem banal.

Estávamos ouvindo juntos a uma música no Spotify, uma que ele adora cantar. Então ele viu a imagem da capa do álbum ali na tela e perguntou o que era aquilo (a imagem). Eu olhei para aquela forma arredondada azul e respondi “um círculo azul… acho que é uma pétala de orquídea”. Ele continuou olhando, não convencido pela minha resposta. E então veio com outra: “é uma maçã”. Olhei de novo pra imagem, e vi que ele tinha razão. Mas meu olhar de adulto treinado (ou simplesmente desencantado com o extraordinário), ciente de que não existem maçãs azuis, simplesmente nem havia cogitado a possibilidade de que aquilo fosse uma maçã. Mas meu filho, uma criança de 3 anos, ainda aprendendo sobre as coisas no mundo, enxergou melhor que eu o que havia ali.

Isso não se resume a imagens, claro. Com Naoki, tenho sempre aprendido a olhar mais para a forma como ele enxerga o mundo à volta dele, e aceito seu convite sutil de sair um pouco da nossa falta de deslumbramento e da vida corrida que nos impomos, compreendendo que, mesmo quando somos nós os educadores, também estamos em eterno aprendizado.

Que tenhamos sempre o olhar de uma criança para nos guiar quando nós mesmos nos perdermos nas “certezas” da vida que podam nossa criatividade, nossos sentimentos e maravilhamentos.

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