Leo and the octopus – um livro infantil sobre autismo

Tudo começou porque numa das nossas muitas idas à biblioteca eu havia posto os olhos sobre um livro chamado “The autistics: women on the spectrum”. Na hora já me interessei em ler e pensei “acho que vou levá-lo para casa”. Mas eu também já segurava uma porção de livros para o Naoki, além de já estarmos com alguns em casa, da biblioteca central. Então, eu não sabia se daria para eu levar um livro para mim também nessa conta toda, e deixei para voltar e apanhá-lo depois de conferir no totem de check-out. Sim, eu poderia levar; voltei para pegá-lo, mas para minha surpresa, o livro não estava mais lá.

Já em casa, acessei o site da biblioteca para reservar o livro, mas embora eu tenha colocado o título acima, na hora eu não me lembrava, então joguei “autism”* na busca, e acabei topando com o livro “Leo and the octopus”.

*[Só para apresentar um desfecho, eu havia fotografado o livro que eu queria, então fiz a reserva e aguardo a liberação para eu retirá-lo].

Nos resultados da busca, o livro “Leo and the octopus” de destacou chamando minha atenção porque, sendo um livro infantil que tinha um personagem polvo, eu logo pensei “acho que Naoki vai gostar”, e então eu o reservei, e, rapidamente, ele foi separado para mim. Com o livro em mãos, pude conferir minha suposição. Acertei em cheio. Naoki adorou!


Sinopse e minhas impressões sobre o livro:

Leo é um garoto que se sente vivendo no planeta errado. Tudo é muito claro e muito barulhento. As crianças não entendem Leo e ele também não as entende. Ele se sente, portanto, um E.T., que só consegue relaxar quando está escondido em seu canto, na companhia de um bom livro, longe de todos os barulhos e tudo que torna sua vida cansativa, estressante e solitária.

Até que um dia ele conhece Maya. Maya é um polvo, que, num primeiro momento, tem uma aparência para Leo um tanto alienígena. E essa característica que chama mais atenção é que faz ele querer se aproximar dela e descobrir tudo sobre polvos. Conforme ele vai pesquisando sobre essas criaturas marinhas, ele descobre que Leo e Maya têm mais em comum do que poderia imaginar, e então passa a visitá-lo no aquário frequentemente.

Nasce uma amizade entre Leo e o animal, que é fundamental para que o menino vá desenvolvendo suas habilidades sociais e acabe encontrando alguém que ele finalmente chama de amigo.

Este é um belíssimo livro, com ilustrações delicadas e ricas, que traz um arco de desenvolvimento social de seu protagonista, um garotinho, o Leo, encontrando pontos em comuns primeiro num animal, mas depois, em outro garotinho, quando então, uma amizade encontra espaço para crescer.

Acho que livros assim são muito importantes de serem lidos para as crianças, autistas ou não, para trazer diversidade em sua construção de mundo. Sim, uma criança está construindo sua visão de mundo, e como pais, eu penso o quanto é importante trazer livros com protagonistas diversos, seja de cor, gênero (e identidade de gênero), etnia, faixa etária, pessoas com deficiência, neurodivergentes, de corpos diversos, etc., para que ela vá entendendo que o mundo é vasto, e as pessoas que o habitam são muitas e diversas, mas que ao mesmo tempo em que são diferentes, elas têm muito em comum conosco, e que todas elas são dignas de respeito.

Livros também ajudam a desenvolver empatia e, além, de claro, nesta vastidão toda do mundo, sempre oferecerem ao leitor uma oportunidade de entender que haverá ao menos uma pessoa por aí com quem iremos nos identificar mais e com quem estreitaremos os laços de amizade.

É um livro que acolhe ao percebemos que sempre podemos encontrar pertencimento, e que aborda, com muita sensibilidade, a individualidade de uma criança, suas percepções sensoriais, e formas de processar informações e de interagir.

Naoki e eu lemos juntos diversas vezes, e ele também foi aprendendo muito sobre polvos e sobre emoções. Dentro de mim, acredito que ele também vai aos poucos entendendo que cada criança é única, mas todas podem se bem-relacionar, se houver interesse e empatia. O que eu mais acho interessante é que ele adora me perguntar o que mais está acontecendo no livro, por meio das ilustrações. É por isso que disse que elas são ricas. Tem tanta coisa acontecendo no livro, nos momentos em que Leo não é o único no mundo, e eu só percebi como essa intensidade de pessoas representa ruídos para Leo porque meu filho me perguntou, apontando um a um, o que determinada pessoa estava dizendo.

Na realidade, não há falas sendo ditas por elas, mas com um pouco de imaginação, criei papéis para cada uma das pessoas do livro e Naoki se divertiu mais ainda vendo tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.

Eu amei muito o livro, e Naoki, como já disse mais de uma vez aqui, também. Super recomendamos e torço muito para que chegue ao Brasil também.


Curiosidades e comentários:

O livro já existe em português, mas até onde vi, não no Brasil. É uma edição portuguesa, traduzida como Leo e o polvo. Na edição à venda que encontrei, e neste da biblioteca, uma edição de 2021, ainda consta o termo “síndrome de Asperger”, que tem sido criticado. Atualmente, o DSM-5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) utiliza o termo “Transtorno do Espectro Autista – TEA” e o classifica em níveis de suporte, sendo eles 1, 2 e 3, a depender de quanto suporte a criança ou pessoa precisa para comunicação, aprendizado, interação. Assim, o Leo do livro seria um autista de nível 1 de suporte, lembrando, porém, que em momento algum, Leo é apresentado ao leitor durante a história seja como autista, seja como “aspie” (como se chamavam carinhosamente as pessoas com síndrome de Asperger). Essa característica só vem descrita na contracapa, ao trazer o recorte de uma resenha comercial. Como diz a própria autora, numa entrevista:

Leo and the Octopus is a fiction picture book about a young boy on the autism spectrum, though I don’t mention the word in the story. I keep it vague because everyone can see themselves in Leo.” –

Em livre tradução: Leo and the Octopus é um livro de imagens [livro infantil] de ficção sobre um garotinho no espectro autista, apesar de eu não mencionar a palavra na história. Eu deixo isso vago, porque assim todo mundo pode se ver no Leo”.

A autora, Isabelle Marinov, é uma mãe atípica, que quando seu filho era pequeno, buscou livros infantis sobre o tema mas não encontrou nada que lhe parecesse interessante. Assim, ela escreveu esse livro para que outros pais e crianças que vivem a realidade do autismo possam encontrar-se representados na história.

Já as lindas ilustrações foram feitas pelo artista visual, ilustrador e designer Chris Nixon, que já ilustrou 10 livros infantis, mas também conta com um histórico de exibições de suas artes desde 2012 na Austrália, país onde atualmente reside.


Dados técnicos do livro:
  • Capa comum: ‎32 páginas
  • Autora: Isabelle Marinov
  • Ilustrações: Chris Nixon
  • Editora: ‎Templar Publishing; First edition (7 janeiro 2021)
  • ISBN-10: ‎1787416550 – ISBN-13: ‎978-1787416550

2 comentários

Deixar mensagem para Isa Ueda Cancelar resposta