Catalogando as leituras do meu filho

Ah, planilhas e mais planilhas… e o que elas contam

Sempre amei planilhas, confesso, ou checklists. E, no início, foi esse apreço por elas que mais me motivou a criar uma para as leituras que faço para o Naoki.

Recorte de print da planilha de leituras

Faz dois anos já que passei a catalogar os livros lidos para o meu filho. Estou usando o Notion para isso, na versão gratuita mesmo, porque não é preciso de nenhum recurso avançado. É apenas uma planilha, onde coloco informações básicas como título do livro, autor, país de origem (do autor), número de páginas e quando foi lido.

Acho que a ideia é bem legal, a de cadastrar os livros que leio para ele, ao longo dessa fase pré-leitor, antes de começar a escola propriamente dita. Porque, é claro que ele não vai se lembrar deles, mas os dados vão ficar disponíveis (enquanto o Notion permitir – e existir, pelo menos), e se lá na frente ele tiver curiosidade para dar uma olhada, a oportunidade está aí.

Tem um livro que eu me lembro mais que os outros, da minha infância, dessa época em que meu pai lia para mim. E eu já fiz muitas buscas pelo Google à procura de qual seria o nome do livro, baseado, infelizmente, só na minha vaga memória de criança. Resultado: até hoje não sei qual era o livro. Pode ser que ele nem exista mais, por não ter sido republicado ou reimpresso, mas nunca vou saber ao certo. Não é que eu queira criar esse sentimento de FOMO (fear of missing out – medo de perder alguma coisa, informações, notícias, etc) no Naoki, porque, como disse, é apenas uma planilha, não muito acurada, e que ele nem sabe da existência por enquanto.

Ainda assim, uma planilha também pode contar histórias, e está rica de memórias. Talvez, lá no futuro, eu não me lembre de todas as fases por quais Naoki passou, mas as escolhas de livros vão ajudar a preencher as lacunas, penso eu. Livros de criaturas marinhas, livros de monstros, de dinossauros… eles estão lá por um motivo, e geralmente em épocas concentradas. As datas da leitura, claro, também não são exatas, porque há um hiato entre a leitura e o cadastro, e acontece de muito tempo depois o Naoki voltar a ler algo que não li há meses.

Em regra, porém, o que importa é o ano e mês que foram lidos. Naoki, agora, por exemplo, tem 3 anos e 8 meses, e adora livros de monstros. A fase de dinossauros está ficando para trás, e o mais curioso, é que nem faz tanto tempo assim. Dos quase 3 anos até 3 anos e 6 meses, a curiosidade dele girava em torno de dinossauros, e fomos migrando para monstros, incluindo o Kraken, o que tem aumentado o interesse dele por polvos, por exemplo.

Então, me contradizendo um pouco, planilhas são apenas planilhas. Mas seus dados, se analisados, contam uma história, têm uma narrativa. E é por isso que tenho me dedicado a catalogar as leituras que fazemos juntos.


Outras propostas Para além das planilhas

A biblioteca pública de Kingston, Ontário, tem um desafio de ler 1000 livros antes de a criança entrar no que seria nosso equivalente ao G4 (ensino infantil obrigatório a partir dos 4 anos de idade). A proposta me inspirou também a contabilizar quantos livros já lemos. Mas, claro, desafios devem servir para nos motivar, e não para nos compararmos com os outros. No máximo, para que comparemos nosso eu de antes com o eu de agora, e nos sentirmos fortalecidos com nossa trajetória.

Isso dito, informo que estamos bem longe dos 1000 lidos, e eu teria de praticamente ir à biblioteca buscar novos livros para o Naoki todos os dias para atingi-lo. Mas a ideia não é essa, e não temos pressa. O que, de verdade, eu prezo é pela variedade e diversidade de leituras dele, que vai ampliando sua visão de mundo e até oferecendo oportunidades de ele ir decidindo as coisas e assuntos pelos quais realmente se interessa. Isso vai ficando cada vez mais claro conforme ele mesmo vai dizendo o tema dos livros que ele quer que procuremos para ele na biblioteca. E, gente, juro, isso é gostoso demais! Ele está numa idade deliciosa, que está começando a entender o que é autonomia, mas também companhia e parceria. Ele escolhe o tema, porque está desenvolvendo os próprios gostos (isso também é autonomia), então eu seleciono o livro (parceria) e depois nos sentamos e eu leio o livro para ele, não sem os comentários dele (companhia E parceria).

Não vou, porém, dizer que todos os pais deveriam criar uma planilha de leituras (a menos que um dos pais seja o(a) doido(a) da planilha igual a mim); mas caso as crie, meu alerta fica para que não se prendam nunca a números. Não é uma competição de quem lê mais!

Veja a planilha apenas como uma aliada, uma retentora de dados e memórias, que ajuda a ver para onde caminham os gostos e preferências de seus filhos, para guardar de recordação mesmo (para vocês e para eles), um momento tão especial, em que, à noite, aconchegados, vocês se deitavam junto deles na cama e entravam em mundos novos e desconhecidos. Quem sabe um dia, eles queiram ler as mesmas histórias para seus próprios filhos, e bem, que bom ter uma planilha à qual consultar.

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