Em busca da livraria perdida e outras ciladas

Antes de mais nada, quero avisar que este texto contém hipérboles, mas nem tanto. Leiam e divirtam-se.

Em julho agora tiramos as primeiras férias em família. Isso significa basicamente que conseguimos encaixar parte dos calendários meu, do meu marido e do nosso filho para coincidir por 2 semanas e sairmos um pouco de casa; o mais longe possível, ou pelo menos, o mais longe que conseguíssemos ir sem tanto estresse e tempo de deslocamento (alguém avisa pra mãe que isso não existe?).

Decidimos por uma viagem mista de avião e carro. Avião para encurtar o deslocamento (e portanto, estresse de viajar com uma criança pequena) e carro para poder chegar onde o avião não chega. O destino foi escolhido com base em uma lista de casas de Airbnb que pareciam saídas de revistas, mas cabíveis na nossa realidade de assalariados. E o vencedor foi Petrópolis. Petrópolis parecia uma ótima opção (e foi, claro, em retrospecto). Iríamos até o Rio de Janeiro de avião e pegaríamos um carro para ir até a cidade serrana.

Agora, você deve estar se perguntando “mas Rio de Janeiro seria uma ótima opção também, por que não ficaram só com ela?”. Meu marido trabalha no Rio de Janeiro, e eu queria fazê-lo sentir-se distante da lembrança de trabalho dele. Essa foi já uma grande cilada, porque as férias teriam sido bem menos estressantes se tivéssemos ficado só no Rio, provavelmente. Mas também não existiria esse post, e talvez eu não tivesse topado com textos hilários na internet, que dizem que não existe ilusão maior como o termo “sair de férias” e coisas do tipo. Pais nunca saem de férias. No máximo, saem de viagem. Ter isso em mente pode tornar toda a experiência mais agradável, ou pelo menos, menos estressante.

Ok, então lá fomos nós para Petrópolis, na casa linda de férias. Já havia lido reviews que o entorno da casa não agradava a maioria, mas nem por isso a avaliação como um todo era ruim; na verdade, era muito boa. Me agarrei a isso quando nos decidimos pela estadia nela. Mas não foi tanto o entorno que me desagradou. O bairro era humilde, sem dúvida, mas a vizinhança era relativamente tranquila, tirando que gostavam de uma festa com som bem alto adentrando a madrugada. Mas estávamos toda noite tão esgotados que dormíamos mesmo com todo o barulho. A casa era linda mesmo, mas o caminho até ele, e muitos outros caminhos em Petrópolis, diga-se, desafiou até meus pesadelos mais notáveis que envolvem ladeiras. Sim, eu tenho essa coisa com ladeiras. Desde criança tenho pesadelos com ladeiras. Na maioria deles, estamos eu e minha família ou subindo ou descendo o que parece ser algo fisicamente impossível de se fazer, mas acontece, não sem me deixar alguns bons segundos sem ar. É o suficiente para acordar tensa e acabada já pela manhã.

E então estávamos lá nós três, num pesadelo de verdade, tendo que enfrentar aquelas ladeiras toda vez que saíamos e voltávamos para nossa casinha nas alturas. Meu marido quando ficava impressionado dizia: “aqui claramente não devia ser uma rua”. E eu concluía: “o ser humano se adapta a qualquer coisa”. Se acontecesse algo com meu marido e ele não pudesse dirigir, eu não sei se teria nervos para eu mesma assumir o volante; mas como sempre sendo sortuda no azar, são conjecturas que ficaram só nos planos das ideias. E o caminho todo era sempre uma trepidação só. O Naoki, meu filho de 2 anos, adorava e gargalhava, mas eu me segurava firme no carro, e torcia para não despencarmos em nenhum penhasco e para que nunca chovesse. Claro que choveu. Ficamos em casa nesse dia até a chuva parar, e proibi meu marido de sair para buscar uma pipoquinha no mercado, porque temi pela vida dele de verdade.

Acabou também que não havia mais o que fazer em Petrópolis, e vi que a ideia muito romântica de fugir do ambiente de trabalho do meu marido foi um grande erro. A capital carioca teria muito mais a oferecer. O tédio é perigoso. Dá ideias perigosas na gente. E foi assim que fomos em busca da livraria que eu havia colocado no roteiro. Sim, eu sempre quero visitar uma livraria em viagem, mas em Petrópolis não parecia haver nenhuma digna de visita, exceto uma que ficava num distrito, bem longe do centro de Petrópolis. Fomos até Itaipava, no endereço indicado pelo Maps. No lugar, havia apenas uma galeria que já viu dias melhores. Era um mini shopping com muitas lojas já fechadas, e a livraria era uma delas. Não contente, de volta à nossa casinha nas nuvens, pesquisei mais sobre a livraria, e decidimos voltar ao distrito no dia seguinte, em outro endereço, dessa vez, o que constava no próprio Instagram da livraria. Nada. Neca. Grande cilada que eu meti minha família. Justo eu que queria evitar estresse por deslocamentos desnecessários, coloquei nós 3 numa empreitada que veio a se tornar uma busca pelo Santo Graal.

Em meio ainda a essa caça frustrada pela livraria, fomos a um restaurante também muito bem avaliado pelos usuários do Google, mas fomos apenas para comer um docinho, como lanche da tarde. O deslocamento até lá não foi tão estressante, porque implicava em pegar a rodovia em vez das tortuosas ruas improvisadas de Petrópolis. Mas a experiência com o restaurante foi a cilada da vez. Pedimos 2 petit gateaus, que nunca vieram. Ficamos aguardando por mais de 1h, para descobrirmos que os pedidos nem sequer haviam sido lançados. O dono do restaurante*, todo simpático, veio nos perguntar se a sobremesa estava gostosa. Não soubemos responder, e achei um desaforo terem nos cobrado as bebidas (1 coca, 1 água e um café expresso). Saímos de lá cansados, desapontados e com fome. Naoki só faltava comer o papel.

Brincadeiras à parte, nenhum papel foi ingerido nesta viagem.

As memórias que ficaram dessa viagem, no entanto, são boas (pelo menos para mim, não ouso perguntar ao meu marido se ele concorda). Sei que meu filho se divertiu muito e conheceu muitos lugares e coisas diferentes. Mas foi uma grande lição também, de que, basicamente, boas ideias podem se tornar, na prática, bem ruins, e que também tenho um enorme talento para me meter em ciladas, mas não sem levar minha família junto. Afinal, família é pra essas coisas também.


*Nota:

Não citarei nomes de nenhum dos lugares desastrosos aqui, mas os lugares que recomendamos em Petrópolis vão ter seus próprios posts.

Créditos da foto de capa: JoshuaWoroniecki

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