Comunicação não violenta – Marshall B. Rosenberg

Comecei a ler este livro porque abriu um curso de aprimoramento para os funcionários do lugar onde eu trabalho sobre o tema da Comunicação Não Violenta (CNV) e o livro do Marshall Rosenberg estava na bibliografia do curso, e é, na verdade, embasado nele, fazendo inúmeras referências ao livro e extraindo diversos trechos dele na apresentação do conteúdo.

O curso foi tão interessante que, apesar de não exigir a leitura de toda a extensão do livro para finalizá-lo e responder à avalição, eu decidi ler mesmo assim, porque a leitura também foi bastante agradável, com muitos exemplos de casos práticos.

Para que não está familiarizado com o conceito de “comunicação não violenta”, trata-se, como o próprio subtítulo diz, de “técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, através da forma como nos comunicamos.

A sinopse é bem simples:

“Manual prático e didático que apresenta metodologia criada pelo autor, voltada para aprimorar os relacionamentos interpessoais e diminuir a violência no mundo. Aplicável em centenas de situações que exigem clareza na comunicação: em fábricas, escolas, comunidades carentes e até em graves conflitos políticos.”

Mas pelo próprio autor, a comunicação não violenta consiste mais em um verdadeiro modo de vida, porque para incorporá-la em nosso dia a dia, é preciso mudar nossa forma de encarar as pessoas e o próprio mundo, e isso exige um treino talvez para a vida toda.

A violência na comunicação não necessariamente é física ou mesmo verbal, no sentido de gritar, de ferir com palavras. Essa violência pode acontecer de formas tão sutis que muitas vezes nem percebemos, mas é justamente esse desconstruir que nos é sensibilizado ao mudar nossa forma de expressar aquilo que queremos e também de escutar os outros, de modo que todos possamos conviver da melhor forma possível, com uma conexão maior, com empatia e consideração aos outros e a nós mesmos.

Segundo Marshall, os seres humanos têm uma natureza compassiva, mas por algumas razões, algumas pessoas se desligam dessa natureza compassiva e passam a agir de maneira violenta, enquanto outras pessoas, não importa a situação dolorosa por qual passam, nunca se desligam dessa nossa natureza compassiva. Assim, foi justamente correndo atrás das respostas do porquê desse desligamento ou do não desligamento que o psicólogo americano Marshall Rosemberg desenvolveu o conceito da comunicação não violenta. Para Marshall, a violência surge justamente porque todas as pessoas, sem exceção, têm alguma necessidade. E quando ela não é atendida, isso pode gerar uma violência. Para ele, “toda violência é a expressão trágica de uma necessidade não atendida”.

Marshall delineia ainda, os quatro pilares para uma comunicação não violenta, que são verdadeiros guias para que sejamos conduzidos a um resultado de expressão que possibilita um diálogo e conexão profundo com as pessoas, evitando conflitos e visando o bem-estar de todos. São eles: 1) Observar sem julgar, 2) Nomear seus sentimentos, 3) Identificar e comunicar suas necessidades e 4) Pedir sem demandar.

Falando assim bem por cima, tudo parecer não apenas muito abstrato como também “lindo demais para ser verdade”. Mas eu, que fui criada por uma mulher que parece raramente se desligar dessa natureza compassiva, posso dizer que é possível sim seguir as técnicas de Marshall e criar um ambiente muito mais saudável e feliz de convivência. Os exemplos de diálogo no livro não só reforçam essa possibilidade como ainda mostram, na prática, como proceder.

Este curso e o livro não foram meu primeiro contato com o conceito, que na verdade me foi apresentado através da leitura de “Por que gritamos”, da Elisama Santos. Mas foi imensamente gratificante para mim ler em primeira mão, de fato, “Comunicação não violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”.

Gostei tanto da leitura, que o presentei a minha mãe, para que ela pudesse ver, por uma perspectiva um pouco mais com “método”, o que ela já faz naturalmente, e quem sabe, transformar ainda mais as relações em volta dela com seu carisma e empatia intrínsecos.

Mas, de verdade, é um livro que gostaria que o maior número possível de pessoas lessem, pelos benefícios que poderiam advir dessa leitura não apenas para si, mas para o mundo. O livro ajuda a entendermos a diferença de sentimento e sensações, e de sentimentos e julgamentos. Quando passamos a entender a diferença entre eles, nossa postura já pode começar a se modular. Passamos a nos expressar com mais cautela, com mais honestidade (conosco mesmo, inclusive), e com mais compaixão. Acho que se existe um caminho para um lugar melhor no mundo, é este da comunicação não violenta.