As risadas que muitas vezes me curaram

Como alguém que passou a adolescência bastante alheia ao entretenimento oferecido pela indústria televisiva, a maior parte das séries dos anos 1990 e 2000 eu só vim a conhecer bem depois, mais precisamente depois que passei a namorar o João, meu marido atualmente. Foi ele que me apresentou o famoso Sitcom Friends, ou até mesmo séries como Gilmore Girls e O.C.: um estranho no paraíso.

Talvez tenha sido como viver uma adolescência tardia, acompanhando essas séries, numa verdadeira maratona, mesmo estando na época com meus lá 23 anos ou mais.

E confesso que tentei reassistir a GG e O.C., mas simplesmente não rolou. Foram séries muito bacanas, mas que até pelo formato, não foram feitas para serem vistas quando bate aquele tédio. Muito diferente do formato dos Sitcoms, que, a gente pode simplesmente ligar a TV, e qualquer episódio que estiver passando, se for uma série do nosso agrado, a gente senta e assiste, e se diverte. To-das-as-ve-vezes.

Friends era assim, um entretenimento rápido e garantido. Quantas vezes não recorri à série depois de assistir a um filme de terror que me tirou o sono, para encontrar conforto nas risadas que eu sabia que os seis amigos iriam me proporcionar? Os seis, mas principalmente Chandler Bing, interpretado por Matthew Perry.

Chandler e Monica sempre foram meus favoritos. A Monica era uma escolha óbvia. Eu e ela temos muito em comum. Mas Chandler tinha um brilho especial, um humor diferenciado, que nada se parece com o meu, e que, por isso mesmo, sempre admirei. Claro que, por trás de um personagem tão bom, sempre existe um trabalho excepcional se mostrando logo à nossa frente, e isso nunca passou despercebido.

A perda de Matthew Perry realmente foi sentida aqui em casa. Acho que em algum grau, João se identificava com o personagem mais icônico interpretado pelo ator, com suas piadas autodepreciativas. Ele nunca escondeu de mim que sempre fez piadas (de todos os tipos) quando se encontrava numa situação desconfortável, justamente para tirar o foco dele ou de ter que se aprofundar emocionalmente, se expondo tão abertamente.

Do meu lado senti sua perda porque, como já foi dito, o ator interpretava o amigo mais querido por mim da série, e lembrar o tanto de vezes que ele trouxe risadas para mim como forma de curar seja lá qualquer incômodo ou dor, menor ou maior meu que fosse, e saber que ele nunca mais estará lá, reunido com os outros cinco, dói bastante. Mas também dói bastante imaginar como devia ser a batalha diária dele com “aquela coisa terrível”, e põe em perspectiva nossa própria vida.

Assistir a Friends, por um tempo, talvez não traga risadas, mas lágrimas. Mesmo ele não conhecendo quem eram seus fãs, tenho certeza que muitos sentiram sua perda como a perda de um grande amigo. Acredito, porém, que, conforme o luto dos fãs for sendo enfrentado, aos poucos, voltaremos a rir com as piadas de Chandler, e, mesmo que sob uma nova ótica, continuaremos espalhando o legado de Matthew por aí: risadas que curam.

Ainda não li o livro dele, e nem gostaria que fosse nessas circunstâncias que eu fosse ler, com ele já do outro lado, mas fico grata que ele tenha deixado um livro de memórias, que, até onde vi, são muito sinceras. As pessoas muitas vezes desconhecem o poder que as histórias delas têm. Mas acho que, de alguma forma, ele sabia que poderia estar ajudando sim muitas pessoas ao compartilhar a sua, então, sim, claro que em algum momento gostaria de conhecê-la.

Vi trechos do livro em que Matthew inclusive dizia que Friends era, muitas vezes, o motivo de ele seguir em frente e não sucumbir de vez, então, mesmo que nunca vá ler isso, muito obrigada, Matthew, por estar sempre ali para nós (I´ll be there for you).


“So no one told you life was gonna be this way
Your job’s a joke, you’re broke
Your love life’s DOA
It’s like you’re always stuck in second gear
When it hasn’t been your day, your week, your month
Or even your year, but

I’ll be there for you
(When the rain starts to pour)
I’ll be there for you
(Like I’ve been there before)
I’ll be there for you
(‘Cause you’re there for me too)”

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