Inaugurando a primeira leitura concluída do ano, já encarando o Desafio Lendo Asiáticos, trago milhas rápidas impressões sobre o livro Yellowface, da escritora Rebecca F. Kuang.
Este foi também meu primeiro contato com a escrita da autora, e, por ter lido no original, em inglês, achei-a muito fluida, cativante, detentora de uma narrativa que prende o leitor do começo ao fim. Não houve nenhum momento de monotonia no livro.

Sinopse e minhas impressões:
Athena Liu é uma escritora best-seller famosa. Ela tem tudo que qualquer escritor poderia desejar: talento, fama, prestígio, fãs, um apartamento legal, um contrato para adaptação de um livro seu pela Netflix… é de dar inveja em muita gente. Bem, talvez não devesse ser assim. E talvez eu esteja errada em dizer que é pura inveja. Mas Juniper vai trazer sua versão dos fatos, fazendo dessa história uma espécie de livro de memória fictícia.
Narradores em primeira pessoa não inspiram confiança muitas vezes. E aqui é certamente o caso, nem por isso o leitor deixará de às vezes entendê-la, por mais que não consiga gostar dela. Mas também não gostamos de Athena, e de ninguém no livro, e mesmo assim queremos ler até o fim.
Existe um grande porém nisso tudo. Athena morre. Isso não é um spoiler. Acontece logo no começo do livro, e é a partir desse fato que tudo se desenrola. Juniper presencia tudo, e decide roubar-lhe um manuscrito concluído.
Rebecca F. Kuang, assim como sua personagem fictícia Athena Liu, é uma escritora amarela, mais especificamente, asiática-americana. E Juniper, ou June, uma suposta amiga, de Athena, é uma mulher branca. Ela publica a história de Athena com o ambíguo nome de Juniper Song, levando muitos leitores a presumirem que Juniper também é asiática-americana.
O livro acaba, assim, tecendo uma crítica sobre os bastidores editoriais, que levantam a bandeira da diversidade de autores e protagonismos, mas só até preencher uma determinada cota. Por outro lado, o brilhantismo da obra parece ser justamente que Juniper Song se sente vítima de um “racismo às avessas”, colocando-se sempre na defensiva de que ela não é interessante para o mercado editorial porque lhe falta a qualidade de pertencer a uma minoria étnica e/ou racial. Numa visão mais geral, acaba sendo uma crítica a todo o mercado editorial voltado principalmente para escritores best-sellers, da pressão sentida por todo escritor que chega à primeira grande estreia: “quando vem o próximo livro?”
Essa leitura tem tudo, drama, romance, comédia, um quê de thriller, e até um final meio pastelão que poderia pôr tudo a perder. Mas na essência, é difícil refutar como ele incomoda além da superfície. E é esse incômodo, que o torna tão bom. Porque nos faz pensar muito. É horrível se identificar tanto com June, mesmo quando muitas vezes a odiamos. Quando é que ela tem razão e quando é que ela está apenas sendo racista? Embora seja possível separar as duas coisas, o que é que isso diz sobre nós mesmos?
Espero que esse livro seja trazido para o Brasil.
P.s.: créditos também para o café muito bom da Coffee & Company Kingston que figura na foto. Pedimos o regular e nos espantamos com o tamanho!
Dados Técnicos do Livro:
- E-book para Kindle, 329 páginas
- Autora: Rebecca F. Kuang
- Editora: William Morrow (16 maio 2023)
- ASIN: B0B9SN8K6H
- Tamanho do arquivo: 1845 KB
- Idioma: Inglês
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