Resenha: Uma Dobra no Tempo – Madeleine L’Engle

Sinopse: Margaret Murry, ou Meg, é a mais velha de 4 irmãos: 2 gêmeos de 10 anos (Dennys e Sandy) e o caçula, Charles Wallace. Meg é uma garota vista na escola, e por si mesma, como uma “feiosinha”, e “fraca nos estudos”, apesar de ter pais geniais. Na escola, Meg é motivo de chacota não apenas pelas notas baixas e mau comportamento, mas também porque seu irmãozinho, Charles Wallace, é tido como um “bobão” que com 5 anos ainda não sabe falar. Somado a isso, tem-se a longa ausência do pai, que, se antes era motivo de compaixão, acaba se tornando uma piada, pois todos acreditam que o pai deles nunca retornará. A Mãe, a Sra. Murry, entretanto, sempre diz a seus filhos “quando o Pai voltar…”, e então, enquanto a Mãe acreditar em seu retorno, Meg o fará também.

Mas Charles Wallace, de bobo, não tem nada. Ele realmente levou mais tempo que as crianças levariam para começar a falar, mas quando finalmente passou a fazê-lo, ele pulou etapas, já formulando longas sentenças completas e com um vocabulário muito adulto. Nas palavras dele: “Pensar que sou um bobão faz as pessoas se sentirem superiores. Por que eu deveria acabar com essa ilusão?”  (p. 36) – diz o pequeno, com apenas 5 anos.

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Charles Wallace na verdade é super dotado e sabe coisas que pessoas normais não conseguem saber. E é assim, com esse excepcional conhecimento, que um dia ele convoca sua irmã,  Meg, para passearem logo após uma noite de tempestade de outono. Meg não sabe, mas estará partindo numa jornada,  universo afora, em busca de seu Pai.


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Este foi meu primeiro contato com a obra da premiada escritora nova iorquina Madeleine L’Engle, e devo dizer que é um livro muito curioso. Começando pelo fato de eu não saber o que estava sentindo enquanto o estava lendo. Estava gostando ou não? Praticamente até a metade do livro, eu devo admitir que não estava tendo “uma leitura agradável”, por assim dizer. E o livro é bem curtinho. A história em si tem 212 páginas apenas. Mas mesmo assim, toda vez que pegava o livro, até certo ponto, me parecia uma obrigação: “preciso terminar de ler esse livro”, e não um prazer. Não estava empolgada. Só depois que a leitura já passava da metade é que percebi que, na verdade, estava sim curiosa para saber o que estava acontecendo e o que estava para acontecer.

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É um livro diferente de tudo que já havia lido até então. Era este um livro de sci-fi? De fantasia? Uma alegoria? Não sabia dizer. Só lendo para entender o que eu quero dizer. Ajudou bastante saber um pouco mais sobre a escritora, e, por isso, o material extra trazido na edição da HarperCollins foi de suma importância para mim. Nesse quesito, principalmente, felicito muito a editora. Além de toda a beleza da edição, que vocês podem conferir pelas fotos.

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Então, assim que terminei a história, fui ler o Discurso  de agradecimento de Madeleine L’Engle pela Medalha Newbery e o Posfácio escrito por uma de suas netas, Charlotte Jones Voiklis.

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A Medalha Newbery, para que não sabe, é um dos prêmios mais importantes da literatura para crianças do mundo, e o mais importante prêmio literário infanto-juvenil dos EUA.  E Uma Dobra no Tempo a recebeu no ano de 1963. Uau! “Ok”, pensei eu, que até então não sabia disso; e comecei a me perguntar “mas por que ele era merecedor do prêmio?”. E fui seguindo adiante a leitura do Discurso, chegando até o Posfácio de autoria de Charlotte. E então eu fui compreendendo, aos poucos, e ao mesmo tempo num estalo. Posso contar um pouco por cima para vocês, até para convidá-los a ler o livro com um pouco mais de persuasão.

Primeiro, saiba que o primeiro esboço do livro nasceu em 1959, quando Madeleine L’Engle justamente estava cuidado de seus filhos com o marido morando em outra cidade a trabalho. Isso por si só já acende os holofotes para nossos jovens personagens e nos faz criar uma simpatia instantânea por Meg e Charles Wallace.

Também, outros elementos que possam parecer estranhos no livro, tais como a curiosa simbiose de ciência e religião, são melhores compreendidos quando se tem uma visão mais geral da vida da Madeleine L’Engle.

Em 1960 já havia um manuscrito do livro, mas que fora rejeitado por várias editoras (uma coleção de mais de 30 negativas), que não conseguiam categorizar o livro: era longo demais para crianças e de pouco valor narrativo para adultos, comentavam, trocando em miúdos.

Mas Madeleine L’Engle não se deixou levar pelos anseios editoriais. Tinha para si que o escritor deveria ser “servil à obra”, e não o contrário. Mais tarde, quando finalmente conseguiu publicar o livro, o sucesso foi instantâneo, o que mostra que as editoras nem sempre entendem do próprio mercado, e que talvez subestimem um pouco a inteligência das crianças, não é mesmo?

Uma Dobra do Tempo é o primeiro volume de uma série de 5 livros. A HarperCollins irá lançar agora em maio  (2018) o terceiro livro:  Um planeta em seu giro veloz.

Continue acompanhando o blog, pois trarei a resenha da série conforme os livros forem sendo lançados (e conforme eu os puder ler também).

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Eu entendo porque o livro possa não encantar alguns adultos, assim como Alice no País das Maravilhas, que, à primeira vista, parece apenas uma história sem pé nem cabeça. Não me levem a mal, eu sou super fã da obra clássica de Lewis Carroll, mas só vim a admirá-la depois que eu passei a conhecer melhor quem era Carroll (ou Charles Lutwidge Dodgson). Acredito que a situação aqui seja bastante semelhante. A diferença é que Alice eu conheci na minha infância, e Uma Dobra no Tempo, infelizmente, não. Eu me deparei com uma história a princípio fantasiosa, de narrativa promissora para a mente elástica e sem limites de uma criança, mas que pode não impressionar muito adultos que não resolvam ir mais a fundo do processo de criação de L’Engle ou que talvez tenham perdido a capacidade de se maravilhar com a ficção.

Meu conselho é, portanto, se for ler este livro, leia tudo! A história em si e os conteúdos extras ao fim. Preste atenção aos mínimos detalhes, inclusive na dedicatória* e encante-se ao final, como eu me encantei.


Se você se encantou tanto, por que só deu 3 estrelas no Goodreads? 

Creio que 3 estrelas seja minha nota sincera, em resposta imediata à leitura da história por si só, sem a análise advinda dos extras. Penso ser o suficiente para despertar o interesse da leitura de outros adultos para que eles mesmos possam tirar suas próprias conclusões, sem subtrair o mérito do livro (aliás, no Goodreads está com uma ótima média de 4.03) Ou seja, me parece uma nota sincera ao “calor do momento” e ainda assim justa. No mais, indico esse livro sem restrições às crianças, que são o verdadeiro público visado pela autora. Elas irão se identificar mais facilmente com a trama e com certeza se empolgar bastante com as aventuras dos irmãos Murry.

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*Nota minha: Deixando bem evidente, eu vivia me perguntando por que a autora parecia fazer tanta questão de sempre chamar seu personagem por Charles Wallace, e não apenas Charles. Bom, a resposta está logo no começo do livro. Seu pai era Charles Wadsworth Camp, e o pai de seu marido, Wallace Collin Franklin. O livro é dedicado a essas duas figuras masculinas. Achei lindo.


Informações adicionais sobre o livro:

Capa dura: 240 páginas

Editora: HarperCollins; Edição: 1ª (13 de novembro de 2017)

Título Original: A Wrinkle in Time 

ISBN-10: 8595081751 — ISBN-13: 978-8595081758

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