Lendo “Infância”, de Graciliano Ramos nos deparamos com a riqueza da língua portuguesa, não é mesmo? Há tantas palavras que eu desconhecia e tive que procurar, principalmente quando se tratavam de espécies de plantas e frutos, mas foi uma experiência maravilhosa! E mesmo quando o vocabulário se encontra dentro do que já conheço, vemos que há tantas formas de compor as palavras que fico realmente encantada!
Em “Infância”, encontramos vários textos sobre as memórias do escritor alagoano. Eles têm aquela atmosfera nebulosa da imprecisão de memórias há muito vividas, mas essa característica é sempre um atrativo para mim, e, na prosa de Graciliano Ramos, tudo se torna ainda mais curioso de se ler, porque ele revisita e se debruça sobre episódios selecionados de sua infância, muitos deles ligadas à violência e ao medo, ao mundo iletrado, fazendo com que a narrativa, de cunho pessoal, ostente ao mesmo tempo críticas sociais. Trata-se, assim, de uma autobiografia literária. No livro, temos vislumbres de como algumas pessoas e eventos marcaram o escritor, e que serão personagens ou temas trabalhados em suas outras obras; a opressão e a figura marginal sendo alguns deles.
Graciliano Ramos nasceu em 1892, em Quebrangulo – Alagoas, mas ainda criança se muda com sua família para Buíque – Pernambuco, onde seu pai adquire uma fazenda, e, não tendo prosperado no ramo, torna-se, então, um pequeno comerciante, primeiro no largo da Feira, e depois perto do Cavalo-Morto. Ao longo do livro, acompanhamos o escritor descrevendo a vila e alguns de seus habitantes — que ganham capítulos próprios —, suas memórias sobre sua alfabetização, sobre sua primeira noção de (in)justiça e outros ocorridos que marcaram sua infância. Em 1899 sua família se muda novamente para Alagoas, no Município de Viçosa. Essa mudança também ganha um capítulo próprio, e tal qual ocorre com cada um deles, permeia-se de simbolismo. Tais simbolismos são muito bem apresentados no Posfácio, que só vem a enriquecer mais ainda a experiência única de se ler “Infância”.
É bem curioso como esses capítulos, ainda que muito breves, se interligam e dispõem de uma abundância de detalhes, apresentando-se como pequenos contos, mas cuja sucessão de fatos narrados torna suas leituras, somadas, imprescindíveis, e torna, ainda, toda a dinâmica do livro muito interessante e fluida. Essa configuração se explica porque, originalmente, cada um desses capítulos fora publicado de forma autônoma num periódico de Alagoas, e posteriormente reunidos num único volume. No Posfácio, por Cláudio Leitão, descobrimos, porém, que, ao todo, foram 40 capítulos, dos quais 39 seguem incluídos no livro, ficando de fora o capítulo intitulado “Minha Gata”, e também que os capítulos não foram publicados na ordem em que se encontram atualmente organizados nesta edição.
Quem quiser se localizar um pouco no espaço-tempo da narrativa é possível fazê-lo pela “Cronologia” trazida ao final da edição. Aliás, todos os livros de Graciliano Ramos da Editora Record que integram esse novo projeto gráfico dispõem de uma cronologia ao final da edição.
Estou adorando conhecer mais sobre a vida e obra de Graciliano Ramos, e a cada nova leitura, renovam-se minha curiosidade e admiração por sua escrita!
Quem já leu Graciliano Ramos, me diz nos comentários qual foi a obra dele que mais o(a) marcou?
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 352 páginas
Autor: Graciliano Ramos
Editora: Record; Edição: 50 (6 de abril de 2020)
ISBN-10: 8501119512 – ISBN-13: 978-8501119513
Edição recebida em parceria com o Grupo Editorial Record.
Adquira o seu exemplar preferencialmente no site da editora.
Que resenha perfeita! A obra de Graciliano Ramos é maravilhosa e esta autobiografia nos proporciona conhecer um pouco mais da vida do autor. Adorei!
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Um capítulo intitulado “Minha Gata”? Mas, com certeza, quero!
Ai preciso começar a ler Graciliano Ramos para ontem!
Bela resenha!
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A resenha aguçou a vontade de ler o livro. Autobiografias despertam curiosidades. Pela experiência de outros aprendemos muito.
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