Por que o passeio ao National Gallery foi um percurso literário nosso
Você, leitor, com certeza consegue entender rapidamente a frase “um livro leva a outro”. Uma leitura leva naturalmente a outra leitura, por referências, por sugestões, pelas conversas que trocamos com outros leitores, num encadeamento do tipo “se você gostou deste, vai gostar desse”, e por aí vai.
Mas livros também levam a lugares. E acho que se além de leitor você é alguém que adora viajar, isso também é muito claro.
Eu li “Em família” para o Naoki, e no livro, uma família vai ao museu, e então algumas obras são referenciadas, visualmente. Fui atrás das referências, e acabou que uma delas me levou à obra “Maman”, a aranha gigantesca de Louise Bourgeois. Não demorou muito e descobri que uma das Maman (são 7, uma de aço inoxidável e mármore e outras 6, que são uma série, de bronze e mármore) estava em Ottawa, a capital do Canadá, bem próximo de onde viríamos a passar 6 meses, em Kingston, Ontário.

Enquanto planejava nossa longa estadia, e ia conversando com meu filho sobre essa nossa temporada fora do Brasil, eu mostrei fotos da Maman e prometi a ele que iríamos vê-la pessoalmente: “vamos ver a aranha do livro Em família”.
E então, cumprindo a promessa, fomos a Ottawa, especialmente para ver a aranha gigante de Bourgeois, mas claro que também entramos no museu (para ver a aranha, não é preciso pagar), onde ela se situa logo em frente, o National Gallery of Canada – NGC.
Fazendo uso dos recursos da biblioteca pública de Kingston
Fomos ao museu utilizando um passe familiar disponibilizado pela Kingston Frontenac Public Library, mediante reserva, e claro, somente para usuários cadastrados. A reserva saiu muito rápido! Fiz a reserva numa quarta-feira e na sexta já estava disponível para retirá-lo. Como são 5 dias para retirar e depois 7 dias para usá-lo, retiramos na segunda-feira e o devolvemos na outra segunda, indo passar um rápido fim de semana em Ottawa.

Saiba antes de visitar
Mas quem não puder se utilizar desse serviço, sinceramente, o ingresso do museu não é caro. Na verdade, até agora, foi o passeio pago mais barato que fizemos no Canadá ($CAD. 20.00 por adulto), com exceção de passeios locais em Kingston (e mesmo assim, alguns deles são mais caros). Como o National Gallery of Canada não cobra pelo uso da chapelaria, este também é um custo com o qual os visitantes não precisam se preocupar. Fomos eu, meu marido e meu filho com o passe, mas meu irmão estava junto, e o ingresso dele, comprado antecipadamente pelo site foi no valor que falei acima. Quem não puder comprar antecipadamente, acredito que também é muito tranquilo comprar no momento que chegar ao museu. No dia que fomos, estava muito tranquilo, tanto o museu quanto a bilheteria, e era um sábado.
Não é permitido a entrada nas galerias portando mochilas ou bolsas grandes, nem comidas e bebidas, nem mesmo água, então é muito provável que qualquer visitante faça uso da chapelaria, que como já disse, é gratuita. Fique à vontade para deixar seus casacos também, porque o ambiente, como em todo lugar fechado no Canadá, é climatizado. O atendente da chapelaria foi muito gentil e prestativo conosco, principalmente quando eu tive de voltar lá durante o passeio, porque meu filho ficou com sede e descemos para que ele pudesse beber água da garrafa que eu havia trazido para ele. Mas há bebedores e sanitários logo ao lado da chapelaria também.
Quem precisar fazer uso de cadeiras de rodas, carrinhos de bebê, pode solicitá-los também, sem qualquer custo adicional. Eles dispõem de cadeiras motorizadas também, e não é preciso reservá-las antecipadamente. O museu é muito acessível, não só por disponibilizar os devidos meios de locomoção, mas conta com rampas e elevadores para acesso às galerias, além de botões de acionamento de abertura de portas.

Estacionamento:1 para quem chega de carro, o museu conta com um estacionamento subterrâneo, este sim pago. Atente-se para o cartão que for utilizar, ou tenha dinheiro a mão. Nossos cartões não foram aceitos, mesmo utilizando-os normalmente no Canadá já há meses. Por sorte, meu irmão tinha um cartão pré-pago e o dele funcionou. Isso de o cartão não ser aceito no estacionamento, adianto, não foi exclusividade do museu, também tivemos o mesmo problema no estacionamento de um shopping que fomos em Ottawa. Tenha sempre dinheiro em mãos e considere ter um cartão pré-pago também, principalmente se estiver a turismo no país.
O museu em si
A área de recepção do museu é enorme e já permite muitas fotos lindas. Tanto que no dia estava havendo um ensaio fotográfico de um casamento lá, com noiva e madrinhas. Mas ainda que não tenha a intenção de fazer nada profissional assim (o que acredito que até precise de autorização), a arquitetura super moderna do museu já vai render uns cliques bem bacanas.
A começar pela área onde ficam disponíveis as cadeiras de mobilidade, bem abaixo da área do átrio de água. Como a “piscina” tem o chão de vidro, no andar da recepção esse chão faz as vezes do teto, e é possível ver o átrio através desse vidro com água. É lindo, e as crianças adoram essa área.


Passando por esse hall com teto de vidro, há os sanitários, a chapelaria, e a vitrine da boutique, a loja do museu. E passando a loja, temos uma cafeteria, cujo acesso se dá também pela boutique, e próximo à entrada principal do museu (que dá acesso também ao Maman), fica a bilheteria.

O National Gallery of Canada dispõem de quatro grande galerias ou salões: no primeiro andar, temos a Indigenous and Canadian e a Lower Contemporary; no segundo, o European and American e a Upper Contemporary. Você pode acessar o mapa do museu aqui, lembrando que, claro, ele também é disponibilizado impresso no museu, em inglês e francês.
Começamos pela European and American, porque era a galeria que eu tinha mais interesse. Interrompemos o passeio por ela para comermos alguma coisa no Happy Goat Coffee, porque embora já fosse mais de 13:00, o restaurante, Tavern at the Gallery, estava fechado pela temporada. Agora em maio encontra-se aberto (verifique antes a informação no site deles, para programar seu passeio), e acredito que eles abram na primavera, mas não necessariamente logo que ela se inicia, porque quando fomos, tecnicamente, já era primavera.


Há obras de artistas bastante conhecidos no Museu, sobretudo nessa primeira parte que fomos. Nomes como Van Gogh, Rembrandt, Monet, Klimt, Goya, Renoir, Chagall, Dalí, Magritte e outros devem ressoar à memória da maioria das pessoas. Acho que é a galeria de maior interesse, pelo apanhado de artistas mais conhecidos. Mas além do quadro Iris, do Van Gogh que eu queria muito ver, eu adorei ver a parte “Indigenous and Canadian”.







Acho que até por tudo que vivenciamos no Canadá, o clima, as paisagens, ver aquilo retratado em pinturas tão exuberantes e de outras épocas me tocou profundamente. Os tempos podem ser outros, mas o inverno, com sua neve espessa, torna os cenários tão acrônicos. Foi muito interessante. Além disso, já havia me familiarizado com algumas obras de artistas canadenses, porque na casa que ficamos em Kingston, havia muitos quadros que eram prints numerados dessas pinturas.


De tudo, não visitamos apenas a Upper Contemporary, porque o passeio estava se tornando cansativo para o Naoki, que queria muito ver a Maman (deixamos para o fim, porque estava chovendo quando chegamos e porque sabíamos que seria muito difícil convencê-lo a entrar no museu se ele visse a escultura gigantesca logo no início). Tendo em vista que saímos de carro de Kingston no mesmo dia e fomos praticamente direto para o museu, o saldo foi surpreendente. Outros passeios a museus de arte terminaram com um saldo de 50% sem ser visto, e aqui foi de apenas 25% (foi um progresso).

Algumas obras no museu não podem ser fotografadas, uma delas era uma de Klimt, puxando agora de memória, e tudo bem. Hoje em dia temos a Internet.
Achei o museu, de infraestrutura, excelente. As obras, embora sejam de artistas conhecidos, podem não ser as mais facilmente reconhecidas pelas pessoas, mesmo assim, vale super a pena a visita se estiver passando pela capital do Canadá. Em maio, no parque ao lado do museu, há também o cherry blossom, que são as flores de cerejeira abrindo. Se não estiver por lá na primavera, ainda assim a vista é linda, e fica muito próximo ao Parlamento, que também é bem bonito.

Dicas para quem passeia com crianças
Passeio com crianças em museu de artes pode ser desafiador para alguns pais. Acho que ter isso em mente já é uma grande ferramenta, e é algo que já falei por aqui, em outros posts, e também no Instagram:
É difícil a criança não se entediar, e embora não seja nenhuma especialista nisso, vou deixar algumas dicas sobre como tornar o passeio nesses casos mais atraentes para ela.
- Procure saber se há algo do interesse da criança no museu;
Exemplo na prática: além da aranha gigantesca, Naoki está na fase dos monstros. O que ele mais gostou foi de procurar por “monstros” nas pinturas, então, claro que uma das partes que ele mais gostou foi das artes do período renascentista, mais especificamente, da Idade Média. Mas ele também curtiu a arte dos Inuítes, na galeria dedicada aos povos indígenas do Canadá, por conta das representações de muitas de suas lendas e mitos.

- Tire fotos das obras;
Exemplo na prática: às vezes é uma obra muito em específico que as crianças acabam gostando. Fique atento a isso e, se for permitido, fotografe a obra para que a criança possa ficar visualizando a imagem quantas vezes quiser. Se não for permitido fotografar a obra, fotografe a placa informativa da obra e procure por ela na Internet.
Considere também, caso a criança já seja maior de deixar o smartphone com ela e peça para que ela fotografe tudo que ela achar interessante no museu.
- Balanceie os seus interesses com o da criança;
Exemplo na prática: o passeio tem que ser divertido e agradável para todos na medida do possível. Nenhuma criança ficará bem se os pais ou responsáveis não levarem em consideração os interesses dela também. Por outro lado, os pais têm obras que talvez queiram muito ver e os filhos não. Aqui, balanceamos com o fato de irmos imediatamente para nossas obras de maior interesse, já que a criança ainda está curiosa e interessada. Mas quando Naoki ficou cansado das galerias, bastou ir para a área do jardim que o foco dele mudou de “espaço fechado” para “espaço aberto” e ele ficou feliz.

- Visite a lojinha do museu, caso ele tenha alguma;
Exemplo na prática: museus grandes costumam contar com uma gift shop na saída. E elas também costumam ter itens voltados para crianças. Caso não pretenda desde o início comprar nada na loja, já deixe isso combinado e muito claro para a criança. “Podemos ver, mas não vamos comprar nada, ok?”. Com Naoki isso funciona bem, mas cada casa (família) é um caso.


- Procure ler livros com conteúdos de museu
Exemplo na prática: antecipe suas leituras se possível, vão a um museu de arte? Que tal familiarizar seu filho ou filha com alguns artistas? Hoje em dia há muitas opções de livros infantis que contam um pouco da vida e obra de alguns artistas. Não é um museu de arte? Sinceramente, as chances de a criança se divertir, são maiores, mas ainda assim, leituras que trabalham o tema “museu” podem ser bem aproveitadas. Neste caso, sugiro o próprio “Em família” e “A Marvelous museum”. Quando as crianças começam a se entediar, uma alternativa é puxar uma referência de algum livro. Em outro museu que fomos (o ROM), mostrar estátuas para o Naoki, segurou os ânimos um pouco, principalmente porque ficamos perguntando para ele “ué, onde estão as cabeças dessas estátuas?”.
Se nenhuma das dicas ajudar, lembre-se sempre: vocês estão fazendo um ótimo trabalho. Sei como pode ser difícil, e nem sempre o que funciona para uma criança, funciona para outra. Às vezes não funciona nem com a mesma criança em ocasiões diferentes, não é verdade?
Informações adicionais sobre a NGC:
Endereço: 380 Sussex Dr, Ottawa, ON K1N 9N4
Horários de funcionamento: todos os dias, exceto às quintas-feiras: das 09:30 às 17:00. Às quintas-feiras: das 09:30 às 20:00
- Estacionamento: Pago (no subsolo, atente-se para a informação descrita em “Saiba antes de visitar”. ↩︎
Muito legal ver a formação de um pequeno leitor se construir assim de maneira tão rica. Parabéns!
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Obrigada pelo comentário.
Ficamos sempre muito felizes mesmo quando os livros se transformam numa verdadeira aventura em família.
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