Pioneer Girl: a novel – Bich Minh Nguyen

O mês de maio conta com campanhas de incentivo de leituras de livros escritos por autores de ascendência asiática, sob o nome Asian Heritage Month. Na biblioteca pública de Kingston, eles colocam em todas as datas comemorativas como essa, sugestões de leituras para seus usuários. Apesar de que eu dispunha de pouco tempo livre para leitura no Canadá, me arrisquei a pegar um livro emprestado dentre as recomendações. E a escolha foi baseada puramente em ver as opções e escolher pela capa.

Outras recomendações para o mês do Asian Heritage Month

Achei a capa de Pioneer Girl muito fofa, simples assim. Eu não tinha a menor ideia de que havia um livro sob o mesmo título, de Laura Ingalls Wilder, de quem, aliás, nunca li nada, e também a partir de quem o livro que eu li toma como ponto de partida.

Foi preciso duas renovações na biblioteca para eu concluí-lo, mas fico muito feliz de que, de alguma forma, o livro encontrou seu caminho até mim.


Sinopse e minhas impressões sobre a leitura:

Pioneer Girl: a novel é uma história fictícia, de uma garota norte-americana, filha de pais vietnamitas, que deixaram o país em busca de uma vida melhor nos EUA. A garota, Lee Lien, cresceu em meio aos muitos buffets de comida asiática em que sua mãe trabalhava, sempre ocupada demais para dedicar afeto a seus filhos. Mas o avô, Ong Hai, acompanhou a família, e foi quem, junto com o pai, enquanto este ainda era vivo, preencheu a lacuna de amor de Lien. Ong Hai sempre contou muitas histórias de seus tempos em Saigon para os netos. Lien e seu irmão, Sam, cresceram ouvindo elas, mas uma em especial, marcou Lien demais, por conta de um broche. Um broche muito parecido com o que era descrito num dos livros da autora americana Laura Ingalls Wilder, de quem Lien leu em sua infância.

Pelas recordações de Lien, quem deu o broche a seu avô, ou o deixou esquecido para trás, foi uma mulher chamada Rose, que se afeiçoou por Ong Hai, e passava diariamente no Café 88 para conversar com ele, durante sua estadia em Saigon, há muitos anos. Com uma pesquisa bastante simples, Lien descobre que Laura teve uma filha chamada Rose, e então a garota começa a ligar pontos e ir atrás de informações que pudessem provar que o broche que tinha quase como uma herança da família, realmente pertenceu a Laura Ingalls Wilder.

Como já disse antes, trata-se de um romance de ficção. Há muitas informações verdadeiras no livro, frutos de pesquisa da autora, mas há mais invenção para poder criar ali uma história do que fatos. É importante levar em conta que, na minha leitura, o objetivo principal do livro é fazer o leitor refletir sobre como a história dos outros é também um pouco a nossa história. Em que pontos nossas histórias se tocam com as histórias dos outros.

Esse tipo de reflexão é bem interessante, e até coloca o livro como um terceiro vértice de uma tríade de livros recentemente lidos por mim que tratam, ainda que não diretamente, do tema da apropriação cultural (os outros dois livros foram Yellowface e Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã).

Como uma mulher também de ascendência asiática, do leste asiático, inclusive, cresci, assim como a protagonista do livro, rodeada de referências não-asiáticas, simplesmente porque, em outros tempos, essa preocupação de representatividade, de diversidade de vozes, etc., não tinha a mesma força e importância de hoje. Mas, assim como leitores encontram identificação e se reconhecem em histórias cujos protagonistas muitas vezes cresceram em outros ambientes, outras culturas, ou tenham feições e ascendências bem diferentes entre si, Pioneer Girl é, sobretudo, um livro que busca mostrar como há mais em comum entre o “eu” e o “outro” do que imaginamos.

A jornada de Lien é de autodescobertas, de crescimento e também sobre identidade, claro. Ela dá uma enorme importância para a história por trás do broche porque para ela, saber de seu passado trará, de alguma forma, mais respostas sobre quem ela também é, já que se encontra num limbo profissional. Formada numa área (literatura, letras) de baixo prestígio para os critérios de sua mãe, que não considera escrever e pesquisar como trabalhos de verdade, Lien ainda não encontrou um emprego e não conseguiu concluir seus estudos para impulsionar a carreira (phD). Ao mesmo tempo, alguns segredos da família vão emergindo à superfície, o que cria ainda mais tensão e desnorteia a garota por um tempo.

A história não tem nenhuma grande reviravolta, e até bastante óbvio seu desfecho. Mas ainda assim, torcemos para Lien encontrar seu caminho e todas as evidências que precisa para saber mais sobre o broche.

Se o sabor ao final do livro é de dúvidas e reticências, é justamente porque, talvez, algumas respostas não são tão importantes como pensamos, mas é ao buscá-las que, às vezes, encontramos outras que nem sabíamos que procurávamos, e então finalmente conseguimos seguir em frente.


Dados Técnicos do Livro:
  • Capa comum: ‎304 páginas
  • Autora: Bich Minh Nguyen
  • Editora: ‎Penguin Books; Reissue edição (27 janeiro 2015)
  • ISBN-10: ‎0143126229 – ISBN-13: ‎978-0143126225

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