Este ano, quis fazer pelo menos uma leitura temática de Natal, e fiquei muito feliz com minha escolha, por ser um clássico da literatura e muito famoso também, graças à adaptação para os palcos, no ballet de Tchaikovski.
Essa edição da foto, linda por sinal, é da coleção de bolso de luxo da Editora Zahar. Nela, encontramos tanto a versão clássica, consagrada, de Alexandre Dumas pai, quanto a versão original, de Ernst Theodor Amadeus Hoffmann, ou E.TA. Hoffmann, como ele costumava assinar.
Acabei, por ora, lendo apenas a versão clássica, além claro, do texto extra, a apresentação no livro, de onde se pode extrair muitas curiosidades da obra e dos autores.
A versão de Alexandre Dumas é a que inspirou o ballet. Se você já teve a oportunidade de assistir à peça e gostou, é bem provável que vá revivê-la ao ler a versão clássica. No prefácio do livro, diz-se que enquanto no livro, Marie (ou Clara, ou, ainda, Masha, na Rússia) realmente vê seus brinquedos e o soldadinho quebra-nozes ganhando vida para batalhar com o Rei dos Camundongos e seus súditos, no ballet (1892), toda a batalha entre brinquedos e camundongos não passa de um sonho. A maior diferença, portanto, me parece ser esta. Essa proposta de levar toda a parte de fantasia como um sonho de Marie me remeteu diretamente à Alice no País das Maravilhas (1865), mas, sonho ou não, ambas as versões – clássica e ballet – têm meu apreço.
A obra traz as ilustrações originais de Bertall, e que, podem ser um tanto sombrias, combinando com a versão original da história, mesmo que, sim, seja uma história infantil. Eu me assustei um pouco com a cena em que o Rei dos Camundongos vinga a morte de sua mãe. É uma cena bem descritiva de retaliação, e que conta com uma ilustração do resultado dessa retaliação. Quem me acompanha no Insta e viu meus stories a respeito, era por isso que disse que não leria para Naoki tão cedo. De qualquer forma, todas essas leituras clássicas têm alguns pontos que nos dias de hoje são problemáticos. Mas a sua essência é o que as torna livros clássicos, e por isso ganham inúmeras releituras e adaptações. Eu sou a favor de que se deixem as versões originais e clássicas intocadas para que, com senso crítico do leitor e/ou mediador adulto, essas questões possam ser trabalhadas de maneira tranquila. Claro que isso não significa que eu seja contra adaptações e releituras. Digo apenas que, por mais problemática que uma história clássica seja, que ela não sofra censuras.
Agora, se você como eu antes da leitura, nem sequer sabe do que se trata a história de O Quebra-nozes, fica a sinopse:
“É véspera de Natal. Marie se encanta, dentre todos os presentes, por um quebra-nozes em formato de boneco. Ela acomoda o novo amigo no armário de brinquedos – mas, à meia-noite, ouve estranhos ruídos. Aterrorizada, vê seu padrinho, o inventor Drosselmeier, sinistramente acocorado sobre o relógio de parede, e um exército de camundongos invadindo a sala, comandado por um rei de sete cabeças! Contra eles, os brinquedos saem do armário e põem-se em formação. Têm uma grande batalha pela frente, sob as ordens do Quebra-Nozes…
“Entre o sonho e a realidade, Marie viverá histórias maravilhosas e estranhas, de reinos, feitiços e delícias. Histórias em que o inusitado padrinho tem um papel especial, e nas quais só pode embarcar quem tem os olhos e o coração preparados. Você tem?”
Por se tratar de uma história escrita no século XIX, mesmo que seja infantil, ela tem uma linguagem rebuscada para a criança (e para o adulto médio também) dos dias de hoje. Isso pode causar uma estranheza logo de cara e afastar o leitor de prosseguir com a leitura, o que acho muito compreensível. Sempre que vou ler livros escritos em outros séculos já vou preparada para encontrar um formato de texto diferente, que talvez não fluirá da mesma maneira como quando leio um romance contemporâneo, por exemplo, e isso ajuda muito a não ser desencorajada a ler. Geralmente, passadas algumas páginas, essa estranheza é superada, e é possível adentrar a narrativa como se estivesse realmente em outros tempos. E aqui não foi diferente.
Marie é uma criança tão doce e amorosa que acho difícil não se encantar pela história, que a tem como protagonista, ao lado de seu querido quebra-nozes. O ponto problemático do livro, para mim, é justamente esse, de que ela não passa de uma criança, e já é vista pela família como alguém que em breve deverá noivar. Acho que o contorno aqui deve ser feito no sentido de que, embora criança, ela possa sim se apaixonar, porque acontece. Eu fui uma criança que se apaixonou inúmeras vezes por muitos meninos, mas falar em casamento (ou em namoro, como ainda, infelizmente, é muito comum ouvir de adultos da geração dos nossos pais), e ter incentivada a ideia por adultos, é outra questão bem diferente.
Tirando, portanto, essas questões (da vingança e do casamento), a história é muito linda, dando asas à imaginação das crianças e divertindo-as imensamente. É uma ótima história para se ler agora em época natalina, para quem gosta de entrar no clima inclusive com leitura temática, e, de quebra, ainda se conhece mais um grande clássico da literatura infantil.
Dados Técnicos do Livro:
- Capa dura: 344 páginas
- Autores: Alexandre Dumas e E.T.A. Hoffmann
- Editora: Clássicos Zahar; Edição bolso de luxo (27 setembro 2018)
- ISBN-10: 8537817988 – ISBN-13: 978-8537817988