O livro das pessoas malvadas – Toni Morrison & Slade Morrison

Este livro foi escrito por uma das autoras mais aclamadas do mundo. Toni Morrison, a consagrada escritora norte-americana, vencedora de prêmios como o Pulitzer e Nobel de Literatura, mostra como a literatura infantil não é algo menor. Pelo contrário, por tratarem-se de livros voltados para leitores em formação, acredito que sejam de extrema importância.

Quem são as pessoas malvadas? Bom, quando somos crianças, talvez pensemos que tudo aquilo que não nos agrada, tem um pouco de maldade. E o bacana desse livro é que agora, adultos, conseguimos entrar um pouco na cabeça das crianças e entender por que elas pensam assim. Uma das cenas que eu mais amo, é o do professor. Mas talvez seja porque eu me enxerguei demais na criança ali.

Sobre esta cena, meu filho me perguntou por que o caderno do coelho é tão pequeno, e expliquei para ele que algumas vezes as pessoas falam de um jeito que faz a gente se sentir muito pequeno, ou com vontade de encolher e sumir, e então, quem desenhou fez assim pra gente entender que naquela hora o coelho se sentiu muito pequeno. Acho que ele, infelizmente, entendeu, porque depois disso, não perguntou mais.

De toda forma, o livro é uma ótima leitura para ser feita e guiada pelos pais com seus filhos, porque ambos os lados têm valiosas lições a tirarem dela.

O livro é especial ainda por ter sido escrito em coautoria com Slade Morrison, filho de Toni Morrison, o que sobressalta a ideia de que o livro é para duas (ou mais) gerações compartilharem.

Conta ainda com introdução por Daniel Becker, que tem a página de pediatria que por aqui seguimos (@pediatriaintegralbr), e foi inclusive indicada, tempos atrás, pelo próprio pediatra do meu filho.

Naoki amou o livro, e se diverte muito todas as vezes que lemos, graças às ilustrações geniais de Pascal Lemaître.

Considerações extras

Este não é um livro sobre superação, sobre como uma criança assenta seus medos e se torna um adulto seguro. Mas pode ser também, dependendo de como ela transformar o olhar do adulto. Sim do adulto. Explico por quê.

Eu diria que este é mais um livro para que as crianças consigam, mediado por um adulto, aos poucos, entender e diferenciar o que é realmente maldade e o que é desagradável mas importante. Assim, sua leitura é também um lembrete aos pais de tentarem tornar a experiência de crescer num mundo confuso um pouco mais agradável, deixando as saberem que podemos ser o lugar seguro delas.

Já vi muitos comentários no sentido de que os pais dessa minha geração poupam demais os filhos das durezas da vida, e que isso não ajuda a prepará-los para enfrentar os desafios sozinhos que virão inevitavelmente. Mas eu discordo.

É verdade, os pais nunca podem realmente estar o tempo todo ao lado dos filhos e nem protegê-los de tudo. E nem deveria ser assim. Não é saudável. Mas penso que tratá-los com respeito, carinho e consideração é totalmente diferente de não deixar claro limites e muito menos educá-los. E mais, nas inúmeras situações que meu filho terá de se virar sozinho, o que eu mais quero é que, ao final de um dia difícil, ele ao menos se sinta confortável o suficiente para vir me procurar e me contar o que aconteceu. Não para que eu possa resolver a situação para/por ele ou dar algum conselho que eu considere sábio, mas simplesmente porque eu acredito que ele saber que estou lá para ouvi-lo, para abraçá-lo, para reabastecer sua coragem é tão importante quanto. Não quero que ele tenha medo de me procurar. Ele pode não querer me contar alguma coisa por diversas razões, mas que o medo não seja uma delas. Medo de julgamento, sabe? Sei também que os pais não são eternos. Mas eu também quero ser uma lembrança boa para meu filho. Uma lembrança que, depois que pare de doer o suficiente para a vida continuar, que ele consiga encontrar em mim o exemplo para seguir em frente.

Às vezes minha mãe diz que não foi dura o suficiente comigo e com meus irmãos e por isso não nos preparou o suficiente para a vida, mas ela está errada. Primeiro porque não acho que exista uma forma de preparar nossos filhos para todas as circunstâncias que uma vida pode atravessar. Segundo porque, acho que com o jeito amoroso dela, ela nos deu o mais importante, que é o amor à vida. Quem ama viver e estar vivo tem as ferramentas que precisa para seguir em frente.

Leitura que eu e Naoki recomendamos muito!