A vida livresca de Nina Hill – Abbi Waxman

Eu nem sabia o quanto eu estava precisando ler um livro de comédia romântica, até ler este livro, “The bookish life of Nina Hill”.

Nina Hill é uma mulher saindo da casa dos 20. Ela se autoproclama introvertida, e gosta muito de ficar sozinha, de preferência lendo. Mesmo assim, ela tem uma vida social bem ativa com idas à academia pra começar uma nova prática de yoga, moderadora de clubes de livros, sobretudo infantis, e a “noite de curiosidades”. Nina trabalha numa livraria indie (independente) chamada Knight’s*, num bairro bem setorizado da movimentada Los Angeles. Todas suas atividades são planejadas e devidamente anotadas em seu planner. Sim, estamos diante de uma amante de check-lists, afinal, poder controlar o máximo possível cada passo do seu dia é uma das formas que ela encontrou para lidar com sua ansiedade.

Mas então, quando tudo parece estar indo bem, novas pessoas chegam em sua vida, muitas delas, na verdade, mas em sua ocupada agenda parece não haver espaço para mais nada nem ninguém. E o que dizer ainda de sua ansiedade, quando tudo parece estar fora de seu controle?

Este é o contexto principal da história. Embora Los Angeles seja uma cidade bem movimentada, ela também é bem espalhada e muitos de seus bairros têm vida e uma atmosfera própria. E é o caso do bairro onde fica a livraria onde Nina trabalha, Larchmont. Parece um bairro saído de um sonho, pois, mesmo numa cidade como Los Angeles, onde tudo é longe e o transporte público não é lá essas coisas, ela consegue ir a pé ao trabalho, passando por sua cafeteria favorita, onde a atendente já é uma amiga, e que têm os campeonatos de trivia (perguntas de curiosidades) dos quais Nina gosta de participar nas noites de terça-feira.

Por causa dessa personalidade toda de Nina, o livro em si é recheado de curiosidades, cujo nível de interesse depende mais provavelmente o tanto que o próprio leitor tem em curiosidades aleatórias. Eu gostei muito delas e da forma como foram distribuídas na narrativa. Às vezes elas ajudavam num determinado contexto da cena construída, mas muitas vezes só enfatiza como sair falando curiosidades para as pessoas é um mecanismo de Nina para conseguir relaxar seu lado introvertido. Achei muito válido isso e percebi que às vezes faço coisas parecidas (alô, introvertida aqui também). Porém, diferente de Nina, não sou uma máquina de entregar fatos irrelevantes em meio a uma conversa. Na verdade, para uma introvertida, Nina fala até bastante, comparado a outras pessoas introvertidas que eu conheço (eu, por exemplo).

Quanto ao planner de Nina, ele é compartilhado com o leitor todo início de capítulo, mas confesso que eu não tinha parado para ler o que ela anotava porque me parecia (pode rir de mim), um pouco invasivo e porque acho que ele acabava dando um pouco de spoiler sobre o que aconteceria no capítulo. Aliás, o subtítulo de cada capítulo também já acaba adiantando um pouco o que vai acontecer naquele capítulo, e embora eu seja uma pessoa que não curte também surpresas no dia a dia, isso não se aplica para narrativas de livros. Acho que Fredrik Backman já me treinou um pouco quanto a isso, porque ele também tem essa mania em suas narrativas.

Adorei ter lido este livro, e que me levou a refletir muito sobre interações pessoais cara a cara. Nina é uma personagem muito divertida e inteligente, e sua ansiedade faz ela se fechar quando a gente mais torce para ela se abrir e deixar, pelo menos de vez em quando, a vida seguir seu rumo em vez de tê-lo controlado o tempo todo. É incrível acompanhar a reviravolta em sua vida quando ela finalmente dá espaço para o inesperado.

E você? É mais uma pessoa que gosta de ter tudo planejado ou que gosta de deixar a vida te levar? Eu sou muito igual à Nina, mas confesso que as melhores coisas que me acontecem são as inesperadas.

Nota:

*A título de curiosidade, o bairro Larchmont realmente existe, e, embora não exista uma livraria chamada Knight’s, existe uma chamada Chavelier’s Books.