“Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz”

Minha avó estava passeando um dia conosco numa livraria e viu esse livro chamado “Ikigai”, e o título logo lhe chamou a atenção. Ela imediatamente me disse “Nossa! Ikigai… sabe que essa palavra é muito boa, né? Tem significado muito bom!”, e então ela acabou comprando o livro.

Minha avó é nascida no Brasil, mas seus pais nasceram no Japão, então ela teve uma educação bem japonesa na casa dela, e, infelizmente, não pôde completar os estudos, de modo que o português dela, além de carregar um evidente sotaque japonês, não é perfeito, mas é compreensível. E, embora o japonês que ela saiba hoje seja considerado arcaico para o Japão, ela consegue se virar bem com ele entendendo a língua. Por sorte, ainda que toda língua viva evolua juntamente com seus falantes, algumas palavras fortes se mantêm, às vezes até como verdadeiras expressões muito próprias de um determinado povo. É o caso da palavra “IKIGAI”.

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Os autores do livro, Héctor García e Francesc Miralles, não ousaram traduzir tal palavra; pelo menos não sem dizer que era uma tradução grosseira. Na verdade, quando perguntei à minha avó qual era exatamente o significado de “ikigai”, ela também não conseguiu traduzi-lo para mim. É como tentar traduzir “saudade” para outras línguas. Não existe um significado preciso. A língua tem dessas coisas, não é mesmo?

Mas é preciso partir de algo próximo para pegar a ideia do “ikigai”. Então, segundo os autores, o conceito seria algo como “a felicidade de estar sempre ocupado”. Ao irem mais fundo, tentando entender cada vez melhor o que era o “ikigai”, eles perceberam que não existia ainda nenhum livro do gênero (de crescimento pessoal) abordando tal conceito (hoje já existem outros livros). E daí, nasceu a ideia para o livro, em que a filosofia japonesa do “ikigai” poderia ajudar a responder algumas questões que todos nós temos, tais como: “qual é o segredo da existência longa e feliz?”, “qual é o sentido da minha vida?”, dentre outras.


Minhas impressões

O livro é bastante didático e apresenta uma série de curiosidades e dados que  ajudam o leitor a visualizar a ideia do “ikigai” posto em prática na vida dos japoneses. Percebe-se que os autores se preocuparam não apenas em entender seu significado, pesquisando os hábitos de determinadas comunidades longevas do Japão, mas também em transportar tais hábitos para nossa realidade ocidental, seja fazendo uso de personalidades e pessoas mais conhecidas, ou mesmo dando dicas práticas que podem ser aplicadas por qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. Um exemplo disso é quando falam de alguma dieta específica, esclarecendo que aqui no Ocidente determinado ingrediente, mais difícil de encontrar, pode ser substituído por este ou aquele outro similar, mais comum.

Além da didática, é um livro que, embora seja bem curto e rápido de ler, não foi feito para ser “devorado”, mas sim para ler com calma, absorvendo cada ideia, e refletindo como colocar em prática determinadas técnicas na sua rotina, caso o leitor deseje levar uma vida saudável, longa e feliz. Até porque, um dos assuntos que o livro aborda é exatamente esse, do mau hábito que temos hoje em dia de fazer tudo com muita pressa, sem saber apreciar o momento. Realmente, ler apressadamente, a meu ver, nunca foi uma virtude. Seja para quem for.

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É claro que não concordo 100% com tudo que está no livro, mas achei interessante conhecer coisas novas e realmente aprendi muito com essa leitura, inclusive fazendo novas reflexões sobre algumas informações que eu já tinha conhecimento, justamente por ser descendente de japoneses, mas que nunca tinha parado para pensar com mais profundidade. Um exemplo disso é que eu já tinha ouvido falar da expressão “ichi-go ichi-e”, que significa algo como “este momento é único, não voltará”.  É um conceito muito utilizado nas cerimônias do chá, uma verdadeira arte, na qual seus praticantes (tanto aquele que prepara o chá, quanto o convidado) devem apreciar o ritual como uma experiência singular, pois nenhuma cerimônia é igual à outra, e cuja reprodução é impossível. Mas eu sinceramente nunca havia parado para pensar que o “ichi-go ichi-e” poderia ser aplicado para tantas outras coisas na vida.

Conceitos filosóficos assim, aliás, estão por todo o livro, mas o legal também são tantas outras curiosidades ao longo dele, que tornam a leitura ainda mais agradável. Ele traz até alguns exercícios de rádio taisso, ioga e tai chi, além de dar algumas dicas para que a pessoa aprenda como fluir (flow), basicamente, realizando uma tarefa por vez, de forma focada, concentrada e aprazível.

Em síntese, o livro vai abordar provavelmente muita coisa que você já sabia, mas que nunca parou para pensar no quanto elas são importantes para que você possa ter uma vida longa e feliz. Mas vai além disso, com muitas dicas, técnicas, exercícios e curiosidades que valem a pena separar uma semana para sua leitura.

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Embora não exista uma fórmula ou uma receita para uma vida longa e feliz, o conceito do “ikigai” parece ser de alguma forma um consenso entre as comunidades mais longevas do Japão: você deve encontrar algo pelo qual queira acordar todos os dias, deve encontrar uma motivação, um propósito para sua vida. Não precisa ser nada grandioso, às vezes você até já a encontrou e apenas não se deu conta disso. E o que é que encontrar o propósito da vida tem a ver com “a felicidade de estar sempre ocupado?”. Bom, eu poderia dizer apenas que aquele que encontrou seu propósito na vida vai encontrar uma forma de o fazer, ainda que tenha de sacrificar algumas coisas no dia a dia, e não irá se queixar disso. O “ikigai”, aliado a outros hábitos saudáveis, como manter boas relações com amigos e família, comer moderadamente e com qualidade, parecem, senão o segredo, ao menos uma bela tentativa do ideal de uma boa vida.

Eu espero poder viver por muitos anos ainda. E se você me perguntar, eu lhe direi: sim, eu encontrei meu “ikigai”, e atualmente lhe dou vazão através justamente deste blog aqui. Acredito que, assim como eu um dia me apaixonei pelos livros, posso fazer ao menos uma pessoa também sentir o mesmo. E por isso esse blog tem tanto carinho, como um amigo meu leitor já veio uma vez me dizer, e mesmo que planejar cada postagem, cada conteúdo, cada foto acabe me tomando o tempo que eu poderia usar para muitas outras coisas, como descansar, eu estou sempre encontrando formas de alimentá-lo. Se algo pelo que você acredita ter paixão o irrita, bom, provavelmente essa não é realmente a sua paixão. Esse não deve ser o seu “ikigai”. Mas você pode ler o livro e tentar entender o que está errado nisso. Fica aí minha sugestão.

Boa leitura… e depois passa aqui pra me dizer se você gostou do livro!


Informações adicionais sobre o livro:

Capa comum: 208 páginas

Editora: Intrínseca; Edição: 1ª (14 de março de 2018)

ISBN-10: 8551002791 – ISBN-13: 978-8551002797

Título original: Ikigai: The Japanese Secret to a Long and Happy Life

 

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9 comentários

  1. Adorei a resenha. Embora não seja uma leitora assídua, avancei bastante, pelo menos assim me vejo 🤗😆 E com certeza tudo devido à sua paixão pela leitura e livros. Na minha infância, graças às vizinhas, pude ler e ouvir as estorninhas da Disney. Ficava fascinada e imaginando o mundo ali descrito. Disney era um sonho inatingível. E um dia, lá estava eu …. foi emocionante. A leitura, com certeza, auxilia em todas as decisões e caminhos que escolhemos para trilhar a nossa vida.

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  2. É sempre muito bom conhecer um pouco mais das outras culturas. Achei interessante essa questão da evolução da língua japonesa. Parabéns pela resenha! ♥

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    1. Depois de ler o livro que eu descobri que é um conceito que tem sido abordado bastante! Legal que no livro, entrando mais na sua área, é incentivado que as pessoas que acreditam ter algum tipo de transtorno psicológico procurem ajuda profissional 😘😘😘

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  3. Excelente publicação! Li o livro recentemente e também publiquei uma resenha em meu blog – foi uma experiência muito boa.

    É um livro bastante pequeno para a quantidade de novos temas que aprendemos com a leitura e, ainda mais interessante, eu terminei a leitura animado para aplicar algumas das ideias em minha vida. Recomendo!

    Sua visão de que “[…] o livro vai abordar provavelmente muita coisa que você já sabia, mas que nunca parou para pensar no quanto elas são importantes[…]” é totalmente verdadeira, e representa a essência do livro. Está em total conformidade com uma convicção pessoal minha de que nós já temos, e sabemos tudo que precisamos para ser felizes, só não conseguimos notar isso – precisamos que alguma experiência nos mostre o óbvio. Talvez seja esse o maior serviço desse livro.

    À quem interessar, minha publicação está disponível em https://oeruditoerrante.wordpress.com/2018/09/16/resenha-ikigai-os-segredos-dos-japoneses-para-uma-vida-longa-e-feliz/. Comecei o blog recentemente, então, qualquer feedback é muito bem vindo!

    Continue escrevendo!

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