Chocolate quente às quintas-feiras – Michiko Aoyama

Porque hoje é quinta-feira e faz um friozinho delicioso em minha cidade, pareceu um dia perfeito para falar deste livro.

Ficção de cura é o rótulo sob o qual colocam títulos como “Chocolate quente às quintas-feiras” e “Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong”, por exemplo. Eu não tenho muitas críticas à categoria, exceto o fato de que às vezes, rotular é limitante. E claro, porque nada substitui a ajuda profissional, se o objetivo é a verdadeira terapia. Mas é certo que alguns livros podem trazer leveza à nossa vida.

Eu terminei de ler “Chocolate quente” – como vou chamar aqui o livro – um dia depois que nosso carro sofreu uma colisão. O acidente não deixou ninguém ferido, felizmente, mas toda vez que olho para nosso pequeno carro suspiro. Estamos cuidando disso. A batida, porém, tirou nosso ânimo no fim de semana, no qual eu pretendia passear curtindo minha família. O livro, então, me fez companhia ao ficarmos em casa, e aqueceu meu coração, amenizando um pouco a sensação pesada de ter um problema com o qual lidar.

Talvez, contagiada pelo olhar delicado das narrativas contidas em “Chocolate quente”, encarei alguns fatos por outro ângulo. Eu já havia, claro, me convencido de que, por sorte, ninguém se feriu. Mas depois, analisando bem o ocorrido, percebi que tivemos outros fatores de “sorte”, chamem como quiser. Talvez esses pontos não passassem tão logo pela minha cabeça, não fosse essa leitura, que acaba nos levando a olhar para as coisas ao nosso redor de outra perspectiva.


Sinopse e minhas impressões da leitura:

O Café Marble fica ao final de uma viela com lindas cerejeiras enfileiradas, num canto tranquilo de uma cidade agitada e efervescente como Tókio. É um lembrete para, às vezes, desacelerarmos.

Embora pequeno, com apenas três meses, o lugar está sempre movimentado e tem clientes assíduos, que são rostos conhecidos do jovem gerente que administra o café e também prepara e serve as refeições pedidas. Mas um lugar com um magnetismo único como esse está sempre receptivo a novas pessoas.

O livro é dividido em doze curtos capítulos, que levam cada um seu próprio título e estão associados a cores diferentes.

Cada capítulo parte de uma perspectiva diferente, que confere ao livro narradores múltiplos, cujo ponto de intersecção em suas vidas é o Café Marble. A história, portanto, não é linear, e inclusive se passa ora em Tókio, ora em Sydney, mas é possível conectá-las facilmente, e esse é, na verdade, o mais prazeroso do livro: ver como as vidas se entrelaçam, como as pessoas estão todas interligadas, mesmo que por laços invisíveis e talvez jamais tomem conhecimento um do outro.

Gosto também de pensar que isso acontece na vida real. E quem sabe, se assumíssemos isso como um fato, tratássemos uns aos outros de maneira mais cordial, porque é a palavra ou a atitude de algum estranho, que talvez nunca veremos na vida, que pode ser capaz de mudar toda a nossa trajetória.

Cada capítulo é delicioso à sua maneira. Testemunhamos pessoas que estão dando o melhor de si, mesmo que acreditem que seja algo pequeno. São os desafios do dia a dia sendo vencidos. E, como mãe, eu sei da importância de cada pequena vitória, mesmo que, de fora, para os outros, pareça pouco ou passe despercebido.

É um livro, enfim, para celebramos as pequenas coisas da vida e as pessoas à nossa volta. Um convite para bebericarmos um café, ou, por que não, um chocolate quente e prestar atenção ao mundo e a riqueza das trivialidades. Pode não curar, como querem definir a literatura que foca em recortes cotidianos das pessoas (slice-of-life), mas mostra que a potencialidade reside também nos pequenos detalhes.


Dados Técnicos do Livro:
  • Capa comum: 160 páginas
  • Autora: ‎Michiko Aoyama
  • Tradução: Jefferson José Teixeira
  • Editora: ‎Editora Arqueiro (1ª edição, 2 setembro 2024)
  • ISBN-10: ‎6555656719 – ISBN-13: ‎978-6555656718

3 comentários

  1. Que bom que não foi nada mais grave.

    Acho que os livros sempre podem ser uma espécie de consolo e cura, independentemente das categorias em que se encontram, né? Mas é bom quando a gente acha um que se encaixa bem no momento em que estamos vivendo. Fiquei curiosa para ler esse aí.

    Um abraço!

    Curtir

Deixar mensagem para Carolina e Catarina Cancelar resposta