No matter the wreckage – Poems by Sarah Kay

Basta um verso.

Sim, basta um verso, aquele verso certeiro, para eu ser totalmente tragada por uma poesia. Mas quando há vários versos que me deslocam, provocando ora arrepios, ora identificação, ora um lampejo, então eu sei que é um livro de poemas excepcional. O tanto de flags coladas em “No matter the wreckage” destacando esses versos não me deixa mentir: eu precisava mesmo lê-lo.

O livro estava há anos na minha wishlist da Amazon, juro. Nunca desisti de tê-los em mãos. E que medo a decepção ser grande, depois de tanto tempo esperando, não? Uma bobagem. Acho que o eu da época que o colocou na lista de desejos é bem diferente da minha versão atual, e mesmo assim, a essência que o fez querê-lo tanto se manteve. A bagagem é que cresceu, e com isso, talvez, muitos trechos que teriam um peso diferente na época, hoje se assentam encontrando pousada. Sei mais coisas, senti mais coisas, e entendo mais coisas. Entendo o peso e a leveza de se dizer “no matter the wreckage” (não importam as ruínas/os destroços, em livre tradução), aos poucos, vamos nos reconstruindo.

E é nesse ritmo, sem pressa, que escolhi também ditar a leitura. Na verdade, em geral, acredito que livros de poemas seguem melhor quando lidos sem a preocupação de qualquer tipo de compromisso com prazos e afins. Vida é poesia, e uma vida apressada faz poesia apressada. Não são livros feitos para serem deglutidos, abocanhados. Degustei cada página, ainda que houvesse momentos em que a vontade era mesmo de devorá-la, por me encantar tanto com todos seus versos, como foram o caso de “Poppy”, que nos faz refletir sobre a trajetória da vida, “Hand-me-downs”, que aborda gerações, tradições e o rompimento daquilo que não cabe mais, e “Hiroshima”, cujo título já carrega tanto significado sozinho.

O livro aborda diversos temas, felizes ou trágicos, como só a vida sabe ser complexa, mas sempre tem essa força de superação, de apoio e suporte, como só a literatura (e a poesia) sabe(m) sustentar, ao calçarmos os sapatos alheios e entender que todas as pessoas têm suas próprias glórias e batalhas.

Meu poema favorito foi “The type”, de cunho feminista, que convoca as mulheres a nunca se apequenarem para caber em espaços onde não se acomoda. A ideia não é nova, mas gostei muito da construção, que tem a delicadeza de nos lembrar que às vezes precisamos nos perdoar também.

A epígrafe escolhida por ela para abrir a poesia também diz muito:

“Everyone needs a place. It shouldn’t be inside of someone else.” – Richard Siken

Traduzindo, “Todo mundo precisa de um lugar. Ele não deveria ser dentro de alguém.”

“[…]
“Do not mistake yourself for a guardian.
“Or a muse. Or a promise. Or a victim. Or a snack.
“You are a woman. Skin and bones. Veins and nerves. Hair and sweat.
“You are not made of metaphors. Not apologies. Not excuses.”

Você pode conferir a declamação desse poema numa edição da TED, pela própria autora:

Este com certeza veio a se tornar um favorito de poesias da vida, e ela uma das minhas autoras também favoritas da vida. Aliás, estou dizendo autora porque, claro, ela escreve, mas ela é uma grande entusiasta da poesia falada, e é inclusive uma dedicada professora que incentiva seus alunos a também criarem suas próprias poesias faladas.

Se quiser conhecer mais sobre o trabalho dela, recomendo demais que assistam esse vídeo. Terminei com os olhos marejados:


Dados Técnicos do Livro:

  • Capa comum: ‎143 páginas
  • Editora: ‎Write Bloody Publishing; Illustrated edição (10 março 2014)
  • Autora: ‎Sarah Kay
  • ISBN-10: ‎1938912489 – ISBN-13: ‎978-1938912481

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