A Sociedade de Preservação dos Kaiju – John Scalzi

Este não é um tipo de livro que costumo ler, mas acho saudável sair de vez quando da nossa zona de conforto literária.


Sinopse:

Quando a cidade de Nova York é assolada pela covid-19, Jamie Gray perde o emprego e passa a trabalhar com delivery. Até que faz uma entrega a um cliente especial: um antigo conhecido, membro de uma obscura “organização de direitos de animais de grande porte”, que precisa achar alguém que tope embarcar em um misterioso trabalho de campo. Jamie aceita de pronto.


O curioso, talvez, seja entender como esse livro chegou a mim.

Bom, Naoki, meu filho de 4 anos, está passando por essa fase de monstros, como muitas crianças corajosas passam (eu não fui uma criança corajosa). E, em algum momento, ele conheceu o Godzilla. Detalhes de como isso aconteceu, sinceramente, não me recordo. Ele obviamente nunca assistiu a filme nenhum, e em casa, tudo que permitimos ele ver relacionado à lendária criatura japonesa são vídeos no YTKids ensinando a desenhá-la (alguns tutoriais são bem legais!) ou então como tocar as músicas da Trilha Sonora no teclado. Mas a imagem do Godzilla, imponente, aparece nesses vídeos, provavelmente retirada dos filmes, e ele tem um boneco do Godzilla.

Meu filho já está melhor que os vilões da história, pois até leva seu Kaiju pra passear no museu – um verdadeiro membro mirim da SPK

Um dia, passeando na livraria me chamou a atenção a capa desse livro, porque a cabeça já está toda condicionada pelo filho a ver criaturas monstruosas mais facilmente, né? Achei legal a capa e o título, mas deixei pra lá, porque, como disse, não é o gênero que costumo ler. Mas então, nas minhas leituras rotineiras de newsletter, a Mrs. Moderny Darcy Blog postou nos links da semana uma lista de audiobooks de sci-fis e fantasia fabulosos, e adivinha quem estava lá? A Sociedade de Preservação dos Kaiju. Tomei como um sinal que eu devia lê-lo. E foi o que fiz.

Não foi uma experiência surreal de maravilhosa, mas foi muito positiva, cada vez que paro para pensar mais a respeito.

Pra mim audiobook não rola, então fui de impresso mesmo. E a leitura foi divertida no geral. Me cansou um pouco a quantia excessiva de piadinhas, e entendo agora, porque o João se cansou dos filmes da Marvel. Sabem? É essa a vibe do livro, mas devo lembrar que ele foi escrito no auge da pandemia, e Scalzi desistiu de escrever outro livro para escrever especialmente essa história, que também sem passa em tempos de pandemia da Covid-19, trazendo leveza e diversão num mundo que parecia imerso em incertezas e medos.

Desculpem-me essas fotos aparentemente aleatórias do livro. Eu precisava compartilhar com alguém as fotos que meu filho me pede para tirar.

Claro que o livro tem outros méritos. Aprendi um monte sobre os Kaiju (ou pelo menos tanto quanto se pode aprender sobre criaturas gigantes fictícias), e esse aprendizado rendeu boas conversas com meu filho. Mas gosto de outros aspectos que encontrei nele, sutis ou escancarados:

  • O livro expõe uma crítica velada sobre a enxurrada de notícias a que somos inundados diariamente pelas redes sociais, e nos lembra de que é possível vivermos num ritmo diferente
  • Obviamente, a Sociedade de Preservação dos Kaiju – SPK irá defender a proteção de animais, então o livro acaba por levantar a questão sobre a proteção dos animais – “não estamos apenas protegendo você dos animais. Estamos protegendo os animais de você”.
  • A representatividade LGBTQIA+. No livro, há uma personagem não-binária, e o uso do gênero neutro está bem empregado e não parece haver nenhum estereótipo quanto aos personagens como um todo, o que atribuo também à falta de maiores descrições físicas deles além das atribuições de cargo (formação acadêmica, etc).

De modo geral, senti que os personagens não têm aprofundamento, o que é comum em enredos com proposta mais leve de aventura e ficção, imagino, mas ainda assim, a trama consegue fazê-los construir um relacionamento orgânico e mostrar um talento ímpar de trabalho em equipe, o que foi muito prazeroso de acompanhar.

Meu mini-fã de Kaiju que não leu o livro nem conhece a história, mas gosta assim mesmo.

Apesar de ter sido escrito em tempos difíceis e se propor a uma espécie de refúgio literário do mundo real, o livro é bastante divertido e não me parece ser uma história datada (muito embora, claro, futuramente possa ser listado como um bom livro de sci-fi/Cultura Pop escrito em tempos de Pandemia da Covid-19).

O livro é realmente muito divertido, e, afora meus incômodos pelo excesso de piadinhas, a história prende o leitor e é bem estruturada em sua forma linear. Recomendo para amantes de livros com criaturas monstruosas ou para quem está apenas à procura de alguma leitura leve e de entretenimento.


Dados Técnicos do Livro:
  • Capa comum: ‎304 páginas
  • Autor: ‎John Scalzi
  • Editora: ‎Editora Aleph; 1ª edição (11 setembro 2024)
  • Tradução: Samir Machado de Machado
  • ISBN-10: ‎8576576422 – ISBN-13: ‎978-8576576426

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