Madeleine L’Engle nunca para de me surpreender! E uma vez acostumado com suas para lá de diferentes narrativas, é possível admirar um trabalho de altíssima qualidade!
Em Muitas Águas, o quarto volume da série “Uma Dobra no Tempo”, acompanhamos os gêmeos Murry, Dennys e Sandy vivendo uma verdadeira mudança. Ou talvez melhor seria dizer mudanças.
Sinopse:
Sandy e Dennys, os gêmeos da família Murry, sempre foram práticos, realistas e nunca prestaram muita atenção à conversas dos pais cientistas sobre coisas altamente teóricas como tesseratos e farândolas. mas, após um acidente no laboratório do sr. e da sra. Murry, algo acontece com eles que desafiará drasticamente suas capacidades de crer no impossível. Com um desastre à vista, será que os gêmeos conseguirão encontrar uma maneira de voltar à realidade?
Minhas impressões sobre o livro:
Embora seja o quarto livro da série, retrocedemos um pouco no tempo em relação ao terceiro livro, Um Planeta em seu Giro Veloz (que tem resenha aqui). Mas voltar no tempo não deve ser nenhum problema para quem já acompanha a série desde o começo também, uma vez que viagens no espaço-tempo é uma questão sempre levantada por L’Engle. No terceiro livro, os gêmeos já estão cursando a universidade, e neste quarto livro, os gêmeos, que finalmente são os protagonistas da história, ainda estão na adolescência (lembrando que nos EUA é possível tirar carteira de motorista aos 16 anos).
Eu sempre gostei muito dos gêmeos. De alguma forma, eles me lembram bastante os gêmeos Weasley, exceto que a obra de L’Engle (1986) precede à de J. K. Rowling (1997). Os gêmeos Murry estão sempre juntos, são os atletas da família, os céticos, os “normais”, ao passo que os pais são cientistas, o irmão caçula, Charles Wallace, é um gênio super dotado e a irmã mais velha, Meg, é a “diferentona” e ascética. Os gêmeos sempre foram a parte leve da série, com tiradas de humor e conversas mais banais também. Assim, foi com muita alegria que eu percebi que os gêmeos seriam o foco da vez.
E foi uma experiência muito feliz. Os gêmeos provam neste livro que o lado pragmático também tem suas vantagens, porque muitas vezes é preciso não apenas teorizar, mas sim pôr em ação nossos pensamentos. E assim é que a aventura se desdobra, com os gêmeos se descobrindo muito mais capazes do que se imaginavam, mas também se descobrindo abertos a mudanças de perspectiva, de crenças e também com eles encarando com bastante maturidade e naturalidade a transição entre a fase de menino para a fase adulta.
Acho incrível, mais uma vez, como L’Engle consegue abordar temas como ciência, religião e fantasia com tanta destreza e de forma tão prazerosa! Ainda falta o último livro da série, mas, por enquanto, eu creio que neste o tema religião esteja bem mais presente. E eu espero sinceramente que isso não seja um obstáculo para a sua leitura. Vejam bem, eu fui criada num lar onde nunca se deu muita bola para religião (meus pais não frequentam a igreja), mas estudei boa parte da minha vida numa escola católica e outra parte num colégio evangélico. Sou descendente de japoneses, que sempre acabam conhecendo um pouco as filosofias zen-budistas e tenho alguns parentes e amigos ateus (mas também outros católicos, budistas, espíritas, presbiterianos, umbandista, wicka, – etc, pouco me importa); eu não pretendo educar meus filhos sob nenhum prisma religioso. Eu mesma não pratico religião alguma, embora creia de alguma forma numa entidade superior, que, até onde eu sei, poderia simplesmente se manifestar na beleza da perfeição da matemática. Então, vá por mim, não é esse atributo da religião, sempre presente nas obras de L’Engle, que deveria lhe impedir de ler uma boa história, seja qual for a sua crença. Nesse ponto, tenha a mente aberta, tal qual os gêmeos se permitem ter ao menos dessa vez. O resultado será muito satisfatório, garanto.
Outro elemento que também é sempre bastante trabalhado nos livros da série é a importância da família, e aqui não poderia ser diferente. Mas em Muitas Águas, em específico, achei que os holofotes se voltam à velhice, ao envelhecer. Eu chorei nas passagens em que o Avô na história se põe a falar sobre si, ou quando alguém comentava algo sobre ele; inclusive decidi trazer algumas delas para vocês:
“— É complicado — disse a voz profunda. — As pessoas não têm mais a reverência aos idosos que tinham. Não querem ouvir suas histórias”.
“— É o que eu previ. Meu filho nos trouxe alívio. As parreiras vicejam. Os rebanhos crescem. Mas com sua prosperidade veio o orgulho. Sou solitário na minha velhice”.
“— Não sabemos aproveitar nossos longos anos”.
“— […] Espero que meu filho deixe a teimosia de lado para vir e plantar-me no chão.
[…] Quem sabe? Talvez eu apareça de novo na primavera, como as flores do deserto. Talvez não. Pouco se sabe destas coisas”.
É, enfim, uma história que se lê muito agradavelmente, que tem muita beleza encrustada, mas com aquele toque especial que só L’Engle sabe dar, misturando entidades míticas com ficção científica, viagens no tempo, personagens bíblicos e um par de protagonistas que ainda vão descobrir que são tão extraordinários como os demais membros da família Murry!
Espero em breve poder ler o quinto e último livro da série, pela qual já criei um carinho imenso!
Este livro foi cortesia da parceria do blog no ano de 2018 com:
Informações adicionais sobre o livro:
Capa dura: 320 páginas
Editora: HarperCollins; Edição: 1ª (1 de agosto de 2018)
ISBN-10: 8595083290 – ISBN-13: 978-8595083295
Título Original: Many Waters
Não tenho o costume de ler séries de livros, mas essa parece ser muito boa e com edições muito lindas. Se eu ganhar o sorteio da Harpercollins, prometo ler todos os livros. kkkkk ♥♥
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Hahaha, boa sorte, então, no sorteio! 🤣💕💕💕
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Muito obrigada! ♥♥
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Lendo a resenha, principalmente os registros destacados sobre envelhecer, conclui que já entrei na velhice … sempre observei, respeitei e ouvi os mais velhos … adquiri muitas experiências (continuo aprendendo), mas tudo faz parte de lembranças, memórias arquivadas na solidão dos meus pensamentos … as vezes, convertidos em conselhos, ações … enfim, alguém ouve, compreende?
Nunca esqueço do que um dia li “para conhecer a história de uma pessoa, calce os seus sapatos e caminhe por onde ela andou”
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Você não está na velhice rsrs, mas tem muita sabedoria, isso com certeza!
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