Sobre Livrarias: onde você compra seus livros?

O post de hoje é uma tradução de um tweet de uma livraria americana chamada The Raven Book Store, que meu marido compartilhou comigo, e que achei muito interessante; tanto que decidi compartilhá-lo com vocês, mas devidamente traduzido¹.

Quem quiser ver o post original, clique aqui.

Hoje, um cliente falou que podia comprar um livro novo de capa dura por US$15 na internet. Nossa missão não é constranger ninguém por suas práticas de consumo, mas sentimos ter a responsabilidade de educar o público sobre o que significa quando um livro novo de capa dura está disponível por US$15 na internet.
Quando compramos diretamente das editoras, conseguimos um desconto de atacado de 46% sobre o preço de capa. O livro em questão tinha um preço de capa de US$26,99, o que significa que nosso custo de aquisição direta da editora seria US$14,57. Se o vendêssemos a US$15, nossa margem seria de… 43 centavos.
Devia ser evidente, mas nós não podemos operar com uma margem de 43 centavos por livro vendido. Temos 10.000 livros em estoque. Se vendêssemos todos eles com uma margem de 43 centavos, teríamos o suficiente para manter a loja aberta por cerca de 6 dias.
Os maiores (e mais baratos) livreiros da internet têm várias outras fontes de receita que são MUITO mais lucrativas do que os livros, então eles podem perder dinheiro em livros. Eles também muito provavelmente conseguem descontos melhores das editoras porque vendem em volumes maiores. É justo.
Mas lembre-se daquilo que esses livreiros gigantes da internet não têm interesse em fazer:
  •  trazer seus autores favoritos à cidade para que você os possa conhecer e ter seus livros autografados
  • criar bons empregos na sua comunidade
  • fazer parcerias com organizações culturais na sua cidade para enriquecer as artes
  • alimentar e cuidar dos gatos da loja com os quais você pode tirar fotos e brincar²
  • criar um espaço seguro e confortável para você passar um tempo
  • trabalhar no apoio aos autores locais de onde você vive
  • realizar eventos abertos para que os artistas emergentes tenham uma plataforma
  • pagar impostos
Toda vez que tweetamos algo desse tipo, alguém responde dizendo algo como “calem a boca e me deixem aproveitar meu livro barato”. Beleza, vai em frente. Nós não temos nenhum direito de te dizer o que fazer. Queremos que isso seja informativo, não constrangedor.
Mas nós vamos dizer: sentimos uma responsabilidade de usar nossa plataforma para educar as pessoas sobre essas coisas. Se você alguma vez se perguntou por que parece que “não há mais livrarias” ou por que as lojas do centro não param de fechar, essa é a resposta. Um livro barato ainda tem um alto custo.
Só por esse tweet maravilhoso, já quero conhecer a livraria, se um dia eu tiver a oportunidade de ir a Kansas, nos EUA.
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Assim como a livraria se posiciona, esse post não tem a intenção de constranger ninguém pela forma que ela decide consumir livros. Mas, se assim como eu, você gosta de livrarias e as vê como uma espécie de paraíso na Terra, creio que este post pode influenciar de alguma forma em suas futuras compras de livros.
Só deixando bem claro, eu também compro livros pela Internet, principalmente em promoções. Também compro e-books e apoio autores que decidem ingressar no mercado editorial por vias alheias às de livrarias. Mas minhas decisões e práticas não são mutuamente excludentes, e reduzi consideravelmente a quantia de livros que compro dos gigantes da Internet, dando preferência a compras diretamente nas livrarias, não me importando muito com a diferença de preços. Sei que muita gente reclama de preços absurdos, pensando como consumidor, mas justamente por ser casada com alguém altamente qualificado e especializado e que não tem o devido trabalho valorizado, acho que entendo um pouco o lado das editoras. Toda a alta qualificação de tradutores, revisores está embutida no preço. Parece-me não apenas justo como também um reconhecimento a toda trajetória desses profissionais. Não vejo muita solução para isso, no entanto, mas no que me compete, este ano resolvi criar alguns sorteios de “despego” de livros para que outras pessoas também possam ter a oportunidade de ler livros de alta qualidade e que muitas vezes são deixados de lado devido ao fator “preço”.
Também, para quem acompanha o blog há mais tempo, provavelmente já se deparou com alguma postagem em que falo que toda viagem que faço gosto de visitar livrarias, principalmente as independentes, e sempre levar um livro ao menos, como recordação.
Esse tweet deles, ainda, me lembrou muito de um livro lindo (o livro da foto acima), do qual já falei aqui no blog. Deem uma passada lá para conferir, caso o assunto desperte interesse.
No mais, creio que por ora seja isso.
Espero que tenham gostado do post, e que ele tenha de alguma forma sido informativo e o feito refletir sobre a sua relação de consumo de livros.
No pior das hipóteses, reforço, com sinceridade, por favor, aproveitem seus bons livros baratos.

Notas:

¹Créditos à tradução ao meu marido João Ohara.

²Aplica-se, especificamente, à livraria que criou o tweet.

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11 comentários

  1. Oies Isa! Achei o tweet e seu comentários sobre o tema muito pertinentes e relevantes, principalmente com a crise das livrarias atualmente no Brasil. Acho que esse é um assunto extremamente complexo, já vi vários artigos e até mesmo em eventos as opiniões de profissionais do ramo sobre o assunto. Há toda uma cadeia envolvida e não dá para simplesmente apontar o dedo na cara da Saraiva por estar quebrando ou de pessoas que só compram livros em promoção.

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    1. Que bom que achou o post relevante! 😊 é um assunto difícil e por vezes polêmico… mas num país onde se lê tão pouco, é ainda bem pouco discutido. Toda a crise nas livrarias despertou um pouco de interesse, mas me parece que só abriu um abismo entre as editoras e as livrarias, o que também acho bem triste…

      Curtido por 1 pessoa

  2. As transformações que temos experimentado, penso ser efeitos de nossas ações/inações … e a velocidade com que tudo se transforma, renova é assustadora.
    O consumo desenfreado das tecnologias modernas aceleram a comodidade, praticidade, informação, etc … Adia-se tudo, como se o calendário da vida não tivesse fim.
    E então, num belo dia, surge um vazio, sem causa aparente …

    Inúmeras empresas estão cerrando as portas, empregos estão sumindo, …novas formas de trabalho afloram …
    Que mundo queremos daqui 20/30/40/50 anos?

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  3. Post bem interessante e que no leva a refletir sobre a forma como consumimos livros. Se não for possível encontrar uma solução para o problema, pelo menos nos leva a repensar as nossas atitudes. ♥

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  4. Adorei o post! Acabo comprando muito pela internet porque, além de tudo, existe a velha comodidade: não preciso sair de casa para resolver minhas coisas. Mas confesso que me dá uma culpa imensa, principalmente quando me deparo com post como esse, essenciais e diretos! Parabéns

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    1. Obrigada! Que bom que gostou. Não é nada legal termos que nos ver como responsáveis, ainda que em parte apenas, pelo futuro das livrarias. Perguntei no IG, quando divulguei esse post, onde as pessoas compravam os livros. A maioria compra na Internet. Não posso culpá-los. Queremos ler, mas não temos bolso que comporte todas essas vontades. De vez em quando, porém, posts assim são necessários para que ao menos possamos refletir sobre como nossas escolhas afetam um mercado que nos diz muito respeito… pelo menos para os que gostam de visitar livrarias. É um assunto complicado, até meio polêmico, talvez, e me parece sem muita solução, infelizmente.

      Curtido por 2 pessoas

  5. A questão do comércio digital não retrocederá, por ser o avanço natural resultante da atividade e tecnologia humana, incessantemente desenvolvida. Há planos para eliminar a maior parte dos trabalhadores humanos em supermercados, por exemplo, fazendo-se tudo robotizado e a seleção das compras pelos clientes, realizadas pela internet ou monitores no próprios mercado.

    Penso que as livrarias não acabarão, apenas reduzirão sua quantidade. Ou podem seguir o mesmo caminho das locadoras de filmes, o que significaria seu fim; espero muito que não aconteça.

    Há um movimento em diversos locais de valorização dos pequenos produtores e comerciantes, onde as livrarias se encaixam. A idéia é não deixar as poucas e grandes empresas tomarem tudo, e destruindo a livre concorrência. Ao comprar presencialmente em um comércio pequeno ou médio, experimentamos calor humano, um ambiente aconchegante, a experiência áudio-visual única, e o tratamento personalizado, simples e verdadeiro. Isso não existe quando elegemos o fator “preço” como o valor máximo e supremo de um produto e uma experiência humana de interação, o comércio.

    E agora, para todos nós, uma boa notícia: a maior livraria flutuante do mundo vai atracar NO BRASIL, a partir de 23 de Agosto!

    Com cerca de quarenta anos, o navio LOGOS HOPE (“palavra” em grego, e “esperança” em inglês) é da ONG Alemã GBA Ships e possui mais de cinco mil livros. Atracará em Santos, Rio de Janeiro, Vitória, Salvador e Belém.
    A maioria das obras é em inglês, mas deverá haver obras em nossa língua. Há também um setor para crianças e uma estrutura para doação de livros. Já passou por mais de 150 países, vendendo obras a preços populares. Ele também promove projetos sociais e de ajuda humanitária, graças ao trabalho mundial de 400 voluntários de 65 países. O navio-livraria-evento já recebeu no total a visita de 46 milhões de pessoas.
    Em Santos, espera-se cinco mil visitantes por dia.

    Em todos os países pelos quais passa, a programação inclui apresentações na sala de concertos e teatro.

    https://www.terra.com.br/noticias/educacao/maior-livraria-flutuante-do-mundo-vai-atracar-em-cinco-cidades-brasileiras-em-2019,0ea889e425fdeb6aa9689b21c8748e53lya4zjv5.html

    https://tudo.com.vc/maior-livraria-flutuante-do-mundo-vai-atracar-em-santos/

    Bem, me parece justo que o “Percursos Literários” tenha um post generoso sobre este evento, e que nos agracie com belas imagens, avaliação e comentários de nossa crítica, leitora, resenhista, observadora, comentarista, viajante, fotógrafa e cozinheira número 1, Isa Ueda (e marido). 🙂

    PS: como informação adicional, eu soube desta notícia arrepiante quando já havia escrito metade deste discur… digo, desta resposta ao post. Como diz um amigo, “não existem coincidências”…

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