Mais uma leitura concluída na meta de ler mais quadrinhos este ano!
E que leitura! A qualidade das HQs que ando lendo está me surpreendendo! Na verdade, desde que li Maus eu não consigo ignorar a obrigatoriedade de ler pelo menos os que volte e meia as pessoas indicam.
E com Persépolis não foi diferente.
A primeira vez que eu ouvi falar dele já faz um bom tempo, e foi nada menos que através da atriz Emma Watson, reconhecidamente uma grande incentivadora da leitura.
Este ano, justamente por ter estipulado a meta, dentre outras, de ler mais quadrinhos, pedi sugestões no Instagram e a comunidade bibliófila me indicou vários. A primeira sugestão acatada foi, portanto, Persépolis. Eu entendo a comoção em cima dele.
Deixe-me apresentá-lo melhor para quem nunca tinha ouvido falar da HQ…
Sinopse:
Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita – apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa.
Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama – e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.
Minhas Impressões:
Como vocês puderam perceber, trata-se de uma verdadeira graphic novel (romance em forma de quadrinhos) que narra toda a trajetória de uma garota iraniana que viveu a transição do Irã que mesclava as tradições persas com valores ocidentais, para o Irã tomado pela ditadura islâmica.
A HQ começa com uma introdução que traz um breve apanhado histórico do Irã para contextualizar melhor o leitor. E, então, inicia-se a narrativa de Marjane Satrapi, da infância à fase adulta, com ocorrências pesarosas demais mesmo para um período de tempo não tão longo, mas certamente memorável. Não teve Marjane oportunidade de viver uma tranquila transição da infância à adolescência e à fase adulta. A algumas pessoas (ou povos inteiros), infelizmente, a vida reserva-lhes fases de trânsito abarrotadas de transformações.
A história foi publicada originalmente no francês, em quatro volumes. Nessa edição que lhes apresento, optou-se pela reunião dos quatro volumes em um único tomo, o que me pareceu uma boa decisão.
Falando em volume, algo que achei bem bacana do livro é que ele não tem suas páginas enumeradas. Isso me trouxe sensações conflitantes durante a leitura, que acredito ser parte também da experiência. Nos momentos de extrema tensão na história, eu me afligia, em reflexo, por não saber ainda quantas páginas aquela angústia poderia durar, causando-me uma sensação extenuante de estar lendo algo denso demais para uma história em quadrinhos. Ao mesmo tempo, porém, havia momentos de leveza e humor que me faziam esquecer sequer de pensar em quantas páginas já havia lido ou quantas ainda faltavam. Satrapi conta sua história com tanta honestidade e sensibilidade que consegue mostrar que mesmo em meio à toda crise é permitido rir um pouco de tudo aquilo.
Por ter tão pouco conhecimento da cultura persa, que para mim se limitou a alguns capítulos das apostilas estudadas no colégio, foi uma leitura bem proveitosa, ainda mais depois de já ter lido livros como O Conto da Aia e Para Educar Crianças Feministas. Dá muito o que pensar. Houve muitas partes no livro que me chocaram, claro, me deixando por vezes bem triste. Mas as que me deixaram com mais raiva foram aquelas em que se retratou o extremismo islâmico recaindo sobre as mulheres; isto é, colocando a culpa nas mulheres. Frases do tipo “se você não quer ser estuprada, basta usar o véu” tornaram-se bastante corriqueiras às mulheres ditas “modernas”.
Os toques de humor ficam por conta ora das ingenuidades inerentes à própria infância — que Satrapi sagazmente não deixou de fora—, ora da própria singularidade com que ela conta a sua história. O humor está em sua personalidade, acredito, mas sendo por óbvio obscurecido em determinados momentos diante dos terríveis eventos infelizmente comuns a qualquer regime ditatorial (prisões, execuções, torturas, etc).
É, assim, uma HQ que merece ser lida por todos, continuando assustadoramente muito atual.
E só a título de curiosidade, o livro (publicado em forma seriada de 4 volumes como havia dito) ganhou o prêmio de melhor história em quadrinhos da Feira de Frankfurt de 2004. A Feira de Frankfurt, para quem não sabe, é apenas o maior evento do mercado editorial do mundo. Ou seja, vale muito a pena ler essa HQ, e a minha opinião é validada pelos maiores nomes do cenário editorial.
Informações adicionais sobre o livro:
Capa comum: 352 páginas
Editora: Quadrinhos na Cia; Edição: 1ª (10 de dezembro de 2007), 24ª reimpressão (2018)
ISBN-10: 8535911626 – ISBN-13: 978-8535911626
Título original: Persepolis
Lindas fotos. A vontade de ler a obra me é presente. As sensações da leitura já são sentidas apenas em ler a resenha, como uma mostra prévia.
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Fico feliz que dê vontade de ler com as minhas impressões sobre o livro!
Obrigada pelo carinho de sempre.
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Bela resenha! Mesmo já conhecendo um pouco da história, ainda quero ter o prazer de ler esta obra. 👏👏❤❤
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Obrigada, Gio! Leia sim, tenho certeza que só vai enriquecer a sua experiência com a história que já conhece!
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Essa HQ é show mesmo! E amei a resenha ❤
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Passei a infância lendo HQs e essa parece muito interessante. Ontem, passando pela livraria Cultura, vi essa HQ, mas infelizmente não a folheei porque outra HQ tb me chamou a atenção: Diário de Anne Frank.
Por limitação de bagagem, deixei a compra para a próxima vez …
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Oies Isa! Ah essa hq está na minha listinha infinita de desejados há bastante tempo e com certeza deve ser uma leitura incrível!
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Não vai se arrepender de ler! 😉
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