Seria possível sentir nostalgia sem nunca ter vivido determinada experiência?
Eu nunca havia parado para pensar nisso, mas esse questionamento me pareceu perfeitamente plausível com a leitura de “Uma árvore cresce no Brooklyn”, de Betty Smith.
Comecei a leitura de forma tão despretensiosa, sem esperar nada, e o livro acabou por se tornar um favorito da minha vida.
Este é um livro clássico da literatura norte-americana, um romance de formação, no qual acompanhamos o crescimento de Francie Nolan no pobre bairro do Brooklyn. Lá todos eram pobres, mas os Nolan eram ainda mais discriminados por conta da constante embriaguez do pai e dos boatos sobre tia Sissy, que diziam ser fogosa demais.
Tanta coisa me encantou nesse livro! Mas acredito que sejam as pequenas coisas, os detalhes, os sentimentos dos personagens que me deixaram nostálgica durante a leitura. Posso não ter vivido as experiências dos Nolan, afinal, sempre tive uma vida privilegiada e confortável, mas ainda assim conheci os seus sentimentos, porque são universais e tão bem descritos. Um exemplo? Quem nunca se apaixonou? Quem nunca teve um coração partido? Quem nunca se sentiu desiludido? Quem nunca encontrou amparo e companhia nas páginas de um livro? E quem nunca sentiu uma empolgação tão grande que a alma parece dançar? Revivi muitos sentimentos com essa leitura, e saí dela muito saudosa.
Demorei a engatar na narrativa, não por achá-la tediosa, mas porque não entendia onde a autora queria chegar e nem a forma pela qual a história era contada, às vezes de modo exageradamente cômico que a tornava infantil, mas que de repente ganhava nuances adultas demais. Houve um momento, porém, uma cena específica, que compreendi, e foi uma verdadeira epifania. Passei, assim, a deixar a narrativa me levar e curtir a jornada de Francie.
Foi uma leitura muito emocionante, com muitas lágrimas derramadas. Pensei muito em minha própria família enquanto lia. Aliás, é difícil não pensar. Compreendi que toda família tem seus problemas, que ninguém é só perfeição ou defeitos. A mãe de Francie, por exemplo, ora dizia algo que eu achava conservador demais, ora ela dizia algo que eu achava super vanguardista à época narrada, e tantos momentos que eu lamentei pela sua conduta foram redimidos por outras tão acertadas e admiráveis. e que cada um de seus membros forma a copa de uma árvore, que pode crescer, mesmo num bairro como o antigo Brooklyn.
Um livro com personagens muito bem construídos e que vai encher seu coração de coragem e fazer esperar por dias melhores.
Abaixo, deixo dois trechos que gostei muito:
“[…] a criança precisa ter uma coisa valiosa que se chama “imaginação”. A criança precisa ter um mundo secreto em que vivem coisas que nunca existiriam. É necessário que ela acredite. Ela tem que começar acreditando em coisas que não são deste mundo. Aí, quando o mundo ficar feio demais para se viver nele, a criança pode buscar e sua mente e viver na imaginação.”
“”Querido Deus”, rezou, “permita que eu seja algo em cada minuto de cada hora de minha vida. Que eu seja alegre; que eu seja triste. Que eu sinta frio; que eu sinta calor. Que eu tenha fome… que eu tenha muito para comer. Que seja maltrapilha ou bem-vestida. Que eu seja sincera… que seja traiçoeira. Que eu seja confiável; que eu seja mentirosa. Que eu seja honrada e que eu peque. Só permita ser alguma coisa em cada minuto abençoado. E, quando eu dormir, que possa sonhar todo o tempo, para que nenhum pedacinho de vida jamais seja perdido”.”
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum : 532 páginas Editora: Verus; 1ª edição (19 julho 2021) Autora: Betty Smith ISBN-10 : 6559240207 – ISBN-13 : 978-6559240203 Título Original: A tree grows in Brooklyn Exemplar recebido em parceria com o Grupo Editorial Record. Adquira o seu exemplar preferencialmente junto ao site da editora. |
Olá. Estou terminando o romance e querendo que não termine. Já adorava o filme, a adaptação do livro. Laços Humanos.
Espero que a editora lance outros dessa autora.
Se gostou, vai gostar também de Mulherzinhas e do meu romance A Paz do Meu Avô (2013).
Saudações literárias!
Isa Fonseca
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Nossa, muito obrigada pelas indicações!
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