Este ano tive a oportunidade de ler “Forrest Gump“, livro que deu origem ao filme de mesmo nome, estrelado por Tom Hanks em 1994. O livro, embora tenha inspirado o filme, não ficou tão conhecido como a adaptação para as telas.
A obra de Winston Groom, entretanto, merece uma leitura não apenas por ser o material original, mas porque vamos nos deparar com uma qualidade de história MUITO superior à do filme.
Por favor, não me trucidem antes de o lerem! Eu também AMO a adaptação para os cinemas. Ela é linda, não é? Mas o livro não é tão idealizado assim. E isso é muito bom.
O Forrest do filme logo ganha nossa simpatia e passamos a torcer por ele sem nem nos darmos conta. Ele encarna a inocência e bondade em pessoa. O Forrest do livro também tem uma narrativa contagiante*. Groom se utiliza da figura de Forrest para representar, além da bondade já conhecida do personagem, os preconceitos da cultura ocidental. Ademais, o Forrest do romance não é sempre o cara que está apenas no lugar errado na hora errada (ou na hora certa). Pelo contrário, ele tem plena consciência de sua condição de idiotia** e de seu papel na sociedade e toma partidos, fazendo com que a narrativa ganhe um tom satírico completamente inexistente no filme.
Justamente, as diferenças de Forrest do romance e do filme, além de várias outras questões, são objetos de uma análise muito acurada de Isabelle Roblin feita ao final desta linda edição comemorativa de 30 anos de Forrest Gump, publicada pela editora Aleph.
Gostaria de explorar mais o livro e expor para vocês todas as minhas impressões, mas temo que com isso eu retiraria um dos maiores prazeres dessa edição maravilhosa, que é justamente essa análise minuciosa feita por alguém que entende muito mais de literatura do que eu. Afinal, Roblin é professora especialista em literatura contemporânea anglófona, da Université du Littoral-Côte d’Opale, na França. Por isso, vou me utilizar do argumento de autoridade, mas deixando para vocês apenas minha recomendação para lerem essa edição da Aleph, e me limitando a dizer apenas duas coisas, uma de ordem pessoal, e outra a título de curiosidade, para chegar num ponto que quero.
Quanto à primeira, minha opinião, digo apenas que o material original, que serviu de inspiração ao filme vencedor de 6 Oscars, é uma obra de leitura imprescindível. Se você, principalmente, é do tipo de pessoa que detesta a atmosfera do “sonho americano”, de superação e sucesso ao fim de tudo, esse livro foi feito para você. A história em si já desperta muitas reflexões, mas é muito interessante ler, depois, a crítica de Roblin. Comparando, portanto, livro e filme, a análise que ela faz parte desde questões de ordem técnica (escolha de ator, computação gráfica, etc) e chega até questões mais sérias, de cunho político. Em breves 20 páginas de texto, Roblin brilha ao tecer considerações que vão mudar sua visão do filme, caso você também tenha uma perspectiva romântica dele.
Críticas tendo sido feitas, preciso deixar claro: eu ainda amo MUITO o filme. Por quê? Ora, por todo sentimento de nostalgia envolvida, por todo o carinho que criei desde à primeira vez que o vi. O roteiro do filme, diga-se de passagem, foi praticamente uma recriação da obra original. Assim, há elementos que só vão aparecer no filme, o que o torna sim um feito único! Frases que ficaram famosas, e são conhecidas como verdadeiros “gumpismos”, são exclusividades do longa-metragem: “run, forrest, run!”, “minha mãe sempre dizia: a vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar”, e “shit happens“, por exemplo, são frases de efeito que foram incorporadas à nossa cultura pop e ainda hoje são utilizadas em referência ao filme.
Falando nisso, chego à minha segunda consideração sobre o livro, de caráter apenas curioso.
Lembra-se de Bubba, o amigo que Forrest faz durante seu serviço no exército? Pois é, no livro, Bubba e Forrest se tornam amigos já na época da universidade, vindo a se reencontrarem quando do recrutamento para a Guerra do Vietnã. Muitos outros fatores em relação a Bubba são modificados do livro para o filme: Bubba não é negro, não é idiota, e não é um aficionado por camarão.
Nem por isso, a ideia de se criar uma franquia de restaurantes especializada em camarões deixa de ser uma boa ideia (sobretudo nos EUA!). Assim, chegando aos finalmentes, vou fazer sim um “merchand” de uma franquia americana que ganhou meu coração.
Pondo ideologias ou o mais que seja de lado, e deixando-se levar pela “brincadeira” simbólica do filme, Bubba Gump Shrimp & Co. é uma rede de restaurantes que recomendo ir como uma forma de entretenimento cultural e gastronômico, caso você esteja de viagem pelos Estados Unidos.

Existem dois bons motivos porque gosto muito da franquia: eles têm alguns pratos sem glúten – o que é um fator praticamente decisivo para mim na hora de escolher um lugar para comer -, e o ambiente. Cada restaurante é decorado à sua maneira, mas todos, sem exceções, vão ter diversos artigos que remetem ao filme. Seguem abaixo algumas fotos para vocês entenderem do que estou falando… (essas fotos abaixo foram tiradas no Bubba Gump de Las Vegas – Strip.)

Eles também dispõem de pratos sem camarão, caso você não goste ou seja alérgico. Mas nesse último caso, avisar seu atendente NUNCA é demais, ok? Meu marido não é alérgico a frutos-do-mar, mas é super fã do velho e clássico hambúrguer. Então, fica a dica aí para quem é do mesmo time.
Além do restaurante, existe sempre uma lojinha (ah, lojinhas…) conjugada, onde você pode encontrar diversos itens de souvenir de Forrest Gump. Se não quiser comprar nada na lojinha, porque já gastou muito com os pratos e gorjetas, uma dica é pedir uma das bebidas que você pode levar o copo para casa. Eu pedi a FizzyFun Lemonade, que é essa aí da foto. Vem com um fundo pisca-pisca divertidinho. Mas se não quiser comprar nada também, vale uma olhadela na lojinha, só para se divertir vendo os produtos que eles têm. O legal na maioria dos lugares nos EUA é bem isso, eles não ligam se você está “apenas dando uma olhadinha”.
Alguns restaurantes também dispõe de um banco com os “tênis” de corrida de Forrest Gump, para você se divertir tirando fotos. As de baixo foram tiradas no Bubba Gump de Orlando-FL, na Universal Citywalk. As minhas não ficaram muito boas, porque estava de noite, mas valeu a ida, com certeza!
Esse post está recheado de coisas lindas! Esse livro incrível, lembranças instantâneas do filme encantador e essa franquia cheia de humor… tem percurso literário mais perfeito que a soma livro+filme+comida?
Notas:
*Gostaria de parabenizar a editora pelo excelente trabalho de tradução, que optou por manter a linguagem não apenas coloquial, mas, de fato, oral, na narrativa.
**No livro, Forrest é um verdadeiro idiot savant, traço não distinguível no filme.
Informações do livro:
Capa dura: 392 páginas
Editora: Aleph; Edição: de 30 Anos (18 de novembro de 2016)
ISBN-10: 8576573474
Dimensões do produto: 23,2 x 15,8 x 3,2 cm
Informações do filme:
Título original: Forrest Gump
Distribuidora: Paramount Pictures
Ano de produção: 1994
Duração: 140min
Direção: Robert Zemicks
Levou Oscar por: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Melhores Efeitos Especiais e Melhor Montagem.
Informações sobre o restaurante:
São 43 lojas espalhadas pelos EUA. Há dois tipos de menus, o de drinks (aquela raquete de ping pong da foto, com descrição dos drinques alcoólicos e não-alcoólicos) e o comum, de comidas e bebidas. No cardápio comum há descrição por meio de ícones se a comida contém ou não glúten (e outros alergênicos). Abrem todos os dias para almoço e janta.
Isa, adoro seus comentários sobre o livro e o filme e também das comidas que sempre acompanham em seus post. agora me aguçou a leitura do livro. Parabéns.
Bjs.
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Wow!!! Parabéns!!! Suas postagens são sempre inspiradoras!!!
Sempre desperta a curiosidade, a vontade de ler.
È 🔝🔝🔝🔝🔝🔝
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