Este ano, em especial a partir do segundo semestre, ressurgiu em mim uma onda de afeição por HQs. Eu sempre gostei muito de ler gibis quando criança, mas demorei a retomar a leitura de quadrinhos depois de adulta. Em 2009 essa afeição voltou timidamente ao conhecer a maravilha dos quadrinhos de Bill Watterson (Calvin & Hobbes), e continuou crescendo com a leitura de Mafalda, de Quino. Mas depois, confesso que o apreço deu uma estagnada, e eventualmente li “Vincent”, mais por ser fã de Van Gogh do que pelo formato de Graphic Novel da obra em si. Porém, em 2016, felizmente, acabei conhecendo a adorável obra do argentino Liniers, Macanudo, e o ânimo em relação aos quadrinhos foi renovado, mas de forma bastante específica às tiras cômicas do argentino.
E então, eu, decidindo dar continuidade à minha coleção dos volumes de Macanudo, me empolguei novamente com os quadrinhos em geral, e só tive a ganhar com esse interesse revigorado.
A última HQ que li foi O Muro, de Céline Fraipont e Pierre Bailley (publicada pela editora Nemo, do grupo Autêntica), e a leitura dele me levou a duas decisões que eu considero bastante importantes. Primeiro, decidi por ir comprando aos poucos os volumes de Macanudo e exibi-los sim lindamente em minha estante de livros. Segundo, por ter lido O Muro no tablet, acabei me decidindo por adquirir as demais HQs em geral apenas no formato e-book. Foi uma decisão de ordem bastante prática, com vários prós, que apresento abaixo:
- Coleções de quadrinhos, por menores que sejam os volumes, acabam por tomar bastante espaço. Considero espaço um certo luxo hoje em dia – meus livros já estão disputando espaço nas prateleiras e novas delas têm sido uma necessidade;
- Versões e-books costumam ser mais baratas e há promoções bastante frequentes para eles na Amazon;
- O que me leva a poder comprar mais deles – trocando em miúdos, mais livros por menos;
- Adorei a experiência de ler Graphic Novels no tablet – a praticidade e as cores (li no iPad) foram pontos bastante favoráveis nesse quesito;
e, para falar do quinto motivo que me levou a essa decisão, preciso falar propriamente sobre O Muro.
Fiquei bastante satisfeita por tê-lo comprado apenas em formato digital. Por quê? Porque não acho que teria valido o investimento de um livro físico. Simples assim.
O Muro tem uma atmosfera bastante legal para uma Graphic Novel. Nela vamos conhecer a realidade de Rosie, uma adolescente de 13 anos de idade, que vive na Bélgica de 1988. É uma adolescência conturbada e bastante solitária a de Rosie. Sua mãe a abandonou ao decidir partir de casa com outro homem e seu pai mal tem tempo em sua rotina e seu sofrimento pessoal pela traição da mulher para desenvolver uma relação afetiva verdadeira de pai e filha.
Os traços da HQ são perfeitos para transmitir a angústia de Rosie. São duros e frios, o que representam bem a dureza da vida de Rosie e sua necessidade de se descobrir praticamente sozinha no mundo, mas ao mesmo tempo são poéticos, justamente pela habilidade dos autores de exprimir todos esses sentimentos, mesmo numa HQ ilustrada em preto e branco.
Apesar de tudo isso, o enredo deixa um pouco a desejar. Achei que haveria uma mensagem mais especial ao final, ainda que totalmente interpretável pelo leitor, e isso não me pareceu ocorrer.
Embora eu possa entender que a vida não é nenhum mar de rosas e tornar-se adulto tenha lá sua monotonia e seus encargos, não vejo nenhum significado verdadeiro ser repassado ao leitor quanto ao sentido da história de Rosie. Posso estar enganada, claro, e talvez não ter compreendido a dimensão do tema tratado na HQ, mas se isso foi abordado no livro, então acredito que Fraipont e Bailley falharam na transmissão da mensagem, por mais bem intencionada que tenha sido com a obra.
Sei que ainda estou ingressando nesse universo esplêndido das HQs, e não tenho muitos critérios ainda para avaliar a qualidade de um quadrinho, mas certamente essa não é das melhores Graphic Novels que eu li ou vou ler.
Vale a pena conhecer a obra? Sim, mais pelo seu lado artístico, e quem sabe talvez você até aprecie o enredo mais que eu. Não achei que houve um clímax de verdade, por mais que aconteçam eventos bastante relevantes e tampouco uma boa finalização. Mas os pensamentos introspectivos de Rosie são de certa forma interessantes e belos (embora tristes) e podem ser o suficiente para sustentar a simpatia pela obra.
A meu ver, O Muro não é uma leitura imperdível, mas gostei de o ter lido e estar curtindo essa vibe de quadrinhos pela qual estou passando. Ainda que O Muro não seja um título indispensável, ele teve seus méritos, a quem devo sobretudo à Editora Nemo, que tem caprichado muito nas edições!
Enfim, O Muro pode não ter atendido às minhas expectativas e nem figurar como uma dos meus quadrinhos favoritos, mas certamente aguçou minha ânsia por novas leituras de HQs, e para mim é isso o que importa acima de tudo.
Aliás, pessoal, se vocês tiverem alguma recomendação de HQs por favor, não deixe de comentar, pois adoro receber sugestões de leituras!
Informações adicionais (formato físico):
Título original: Le Muret
Capa comum: 192 páginas
Editora: Nemo; Edição: 1ª (15 de abril de 2015)
ISBN-10: 858286163X
ISBN-13: 978-8582861639
Informações adicionais (formato eBook Kindle):
Tamanho do arquivo: 27271 KB
Número de páginas: 196 páginas
Editora: Nemo Editora (16 de abril de 2015)
Vendido por: Amazon Servicos de Varejo do Brasil Ltda
Idioma: Português
Adorei o post!!! Na infancia, era fã de gibis. Há muito tempo não leio nada do gênero. Seu post aguçou a vontade do retorno. 😍😍😍😍😍
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