Há anos corre em Dartmoor a lenda de uma fera que ronda o Solar Baskerville. A história tinha como vítima Hugo Baskerville, que embora fosse um homem profano, não merecia fim tão horrenda. Conta-se que sua garganta foi arrancada por uma criatura negra diabólica, de olhos chamejantes e com a forma de um cão de caça, mas maior que qualquer cão jamais visto. A lenda permaneceu viva por muito tempo, embora sem mais incidentes, mas os herdeiros do Solar Baskerville a conheciam, e o último dos Baskerville que morou brevemente no Solar, Sir Charles, inclusive vinha levando bastante a sério tal lenda. Sir Charles pretendia retornar a viver em Londres, mas em seu última costumeira caminhada pela Aleia de Teixos do Solar, veio a encontrar a sua morte, segundo pronunciamento do júri e parecer do médico legista, por causas naturais. Isso coloca um ponto final no inquérito, dissipando rumores da superstição local e tentando-se garantir que o próximo herdeiro viesse a ocupar o Solar sem maiores receios. E embora um grande amigo e médico do falecido, Dr. Mortimer, tenha testemunhado no mesmo sentido da convicção dos jurados, essas não eram de fato suas crenças sobre o caso, decidindo revelá-las a Sherlock Holmes, não para que o detetive investigasse a morte de Sir Charles, mas para aconselhamento, como fiduciário e executor do testamento que era Dr. Mortimer. Deveria ou não levar o novo herdeiro, Sir Henry Baskerville, a Dartmoor? O que começa com um simples pedido de conselho vem a se tornar o caso mais assustador investigado por Sherlock Holmes.
Para quem já leu alguma obra de Sir Conan Arthur Doyle que tenha o investigador Sherlock Holmes como personagem, entende porque ele é, de longe, o investigador mais famoso do mundo, tanto na literatura quanto nas adaptações para telas, telonas e peças teatrais.
Sherlock Holmes ficou muito conhecido dentro do gênero romance policial devido a seu frio método científico e lógica dedutiva aplicados a seu trabalho de investigar. Sherlock é um gênio pragmático por demasia, de modo que, embora saiba diferenciar com exímia destreza mais de 50 tipos de fragrâncias, até conhecer Dr. Watson ignorava completamente que a Terra girava em torno do Sol. O memorável encontro dos personagens é narrado com fascínio por Watson no livro “Um estudo em vermelho”.
Após esse casual mas feliz encontro, Watson torna-se fiel amigo de Holmes, e passa manter os relatos de seus casos, que é como as histórias do detetive chegam a conhecimento do público (e do leitor). O talento da narrativa de Watson inclusive humaniza Holmes aos olhos do leitor. Na opinião de Sherlock, entretanto, a escrita de Watson é sensacionalista e populista, cheia de “um sabor romântico” com a qual a investigação não deve ser tratada. Para Watson, embora as críticas de Sherlock por vezes o magoe profundamente, o detetive não apenas é o homem mais sábio que já conheceu, mas também detentor de um enorme coração; uma revelação que lhe surgiu ao analisar a reação do detetive quando Watson é atingido por uma bala.
Em “O cão dos Baskerville”, a relação de Watson e Sherlock já é bastante estreita e parece-me muito natural que Watson descreva genuinamente todas suas tentativas de impressionar ao brilhante amigo. As palavras de Sherlock, porém, ora agradam a Watson ora partem seu coração, e às vezes produzem uma sensação ambígua no amigo:
“Pode ser que você mesmo não seja luminoso, Watson, mas é certamente um condutor de luz. Algumas pessoas, sem possuir a genialidade em si, têm um notável poder de estimulá-la.”
Afora o tema da amizade de ambos, é interessante que o leitor saiba que o período em que se passa a história deste livro não é revelado.
Originalmente publicado na Strand Magazine, entre agosto de 1901 e abril de 1902, em forma de fascículos mensais, “O Cão dos Baskerville” veio depois de Conan Doyle já ter “assassinado” o célebre investigador em 1893, no conto “O problema final”, para desgosto dos leitores assíduos do periódico, que após a “morte” de Holmes, sofreu uma impressionante baixa de assinaturas.
Mas Conan Doyle não “ressucitou” Holmes ao lançar essa história, apenas a trouxe como uma de suas aventuras remanescentes, cuja trama se dá em uma época indefinida da vida do detetive, mas como dito antes, num ponto em que Sherlock e Watson já são caros amigos entre si.
Essa é a história mais assustadora de Holmes, e Conan Doyle a ambientou justamente numa região da Inglaterra onde já existiam muitas lendas de histórias de horror: Dartmoor. Era a fórmula do sucesso garantido para reavivar as assinaturas do periódico.
Neste romance, então, como sempre, Watson é nosso exímio e cativante narrador. Não deixa nenhum detalhe de fora de sua fluente narrativa, nem mesmo os que Sherlock assumiria como “românticos”, mas que acabam por emprestar ao texto uma riqueza indescritível para aguçar a percepção do leitor. O leitor sempre sabe mais que o próprio Dr. Watson, e isso, claro, é graças ao talento de Conan Doyle, reproduzido nas habilidades de relato de seu “caro Dr. Watson”. Embora este disponha dos elementos, é autêntico ao demonstrar seu desconhecimento das conclusões do caso, das quais quais o leitor consegue formular suas suspeitas, mas que também só vem a encontrar todos os esclarecimentos junto com o próprio Watson, no desfecho da história.
A trama é relatada de forma um pouco rebuscada, claro, devido à época em que o romance policial foi escrito, mas o leitor não enfrentará maiores dificuldades, afinal, ainda que datado do início do século XX, é uma história escrita para o inglês comum de sua época. E, claro, também não posso deixar de dar crédito ao papel fundamental que o excelente trabalho da tradutora tem nesse quesito.
Esta é certamente uma leitura bastante aprazível. Se eu tivesse de indicar alguma leitura mais clássica do gênero romance policial, as obras de Sir Arthur seriam minha escolha óbvia.
Essa edição bolso de luxo da Zahar é uma maravilha. Por causa do seu tamanho diminuto, a gente senta para ler umas 15 páginas e quando vê já leu 50. Fantástico. Fora a beleza da encadernação e os preços muito atraentes no mercado em geral. Abaixo, deixo as informações técnicas do livro:
Capa dura: 264 páginas
Título original: The hound of the Baskervilles
Editora: Zahar; Edição: Bolso de Luxo (12 de maio de 2013)
ISBN-10: 8537809551 – ISBN-13: 978-8537809556
Este foi o primeiro livro de Arthur Conan Doyle que eu li. Fiquei apaixonada pelas histórias de Sherlock Holmes e seu fiel amigo o Dr. Watson.
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Como não se apaixonar, não é mesmo? 😍 ainda quero ler muitas histórias de Sherlock!
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💛💛💛💛💛💛
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Como sempre, seus posts inspirarm a leitura.
Mais um pra lista. ❤️❤️🤗
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Você é a maior prova de que estou, ainda que de passinho em passinho, criando novos leitores ;*
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