A Vida Compartilhada em uma Admirável Órbita Fechada – Becky Chambers

Finalmente li o livro 2 da série Wayfarers! Quem não sabe do que estou falando, pode começar lendo minha resenha sobre o livro 1, A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil. Até porque, lá já apresentei aos leitores, devidamente, quem é a autora dessa série incrível, a Becky Chambers, e também como ela deslanchou sua carreira como escritora através da publicação independente por financiamento coletivo (Kickstarter).

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Minhas impressões:

Antes de mais nada, preciso externar minha alegria de termos uma representante feminina num gênero literário ainda pouco desbravado pelas mulheres, sejam leitoras, sejam autoras, que é a Ficção Científica. Se você está querendo ler mais mulheres no ano de 2019, permita-se diversificar também, e dê uma chance ao sci-fi com as obras de Chambers. Não irá se arrepender.

Agora, o desafio é escrever minhas impressões sobre este segundo livro sem dar spoilers do primeiro. Não vou nem lhes apresentar a sinopse, porque acredito que ela já contenha um certo grau de spoiler, embora eu acredite que, quem se interessou pela resenha, e chegou até aqui, muito provavelmente já leu ao menos o primeiro livro. De todo modo, a quem interessar, deixo o link da Darkside aqui com a sinopse.

Mas se você se interessou pelo título do post e nunca leu o primeiro livro, leia-o. Novamente, friso que o link com meu review está lá em cima. 

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Preciso ler o primeiro livro antes mesmo?

Não necessariamente, mas eu altamente recomendo. Embora não seja uma continuação nos moldes clássicos, em que os mesmos personagens do livro 1 seguem com suas vidas sendo narradas num segundo livro, há personagens que aparecem em A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil. Na verdade, duas personagens, e elas são as nossas protagonistas. Assim, para que a história envolva o leitor em sua magnitude, acredito ser melhor a leitura sequencial. Sem dar muuuitos detalhes, para não estragar, as protagonistas são: Sidra é uma personagem com uma participação muito importante no primeiro livro (embora com outro nome), uma vez que, nele, o foco é justamente a tripulação da nave Andarilha, e ela, de certo modo, compõe a tripulação; e Sálvia, que apenas vai aparecer ao final do volume 1 da série, então pouco sabemos dela até ali.

Outro motivo para ler na ordem é que os fatos narrados neste segundo livro se dão imediatamente após o término do primeiro. Outros fatos, porém, se dão no passado, que é quando temos a chance de conhecer mais a fundo nossa outra protagonista que falei acima.

Por fim, é no primeiro livro que nos é apresentado o espetacular universo criado por Chambers. Conhecemos não apenas os integrantes da tripulação multiespécie da nave Andarilha, mas de todos os outros seres sapientes que habitam a Comunidade Galática — CG, e também os que vivem à margem dela. Também, somos introduzidos às tecnologias  e às ferramentas disponíveis, e tomamos noção de como se dá a vida fora do planeta Terra e do convívio, então, entre espécies diferentes dividindo a mesma imensidão do Espaço.

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Ok. E qual livro é melhor?

Sinto-lhes dizer (para quem gosta de ficar comparando e analisando se uma série vai melhorando ou piorando conforme as sequências vão chegando), mas cada livro tem seus pontes fortes.

O livro 1 é fenomenal. Eu o classifiquei como a minha melhor leitura de 2017! E eu sinceramente não creio que o livro 2 leve o mesmo título agora em 2019 no meu ranking. No livro 1 eu tive meu primeiro contato com Chambers, então foi como se minha mente tivesse se expandido para nunca mais voltar ao que era antes, entendem? Muitos temas importantes e interessantes são tratados em A Longa Viagem a um Pequeno Planeta Hostil: preconceito, racismo, gênero, política, moral, Ciências vs Ciências Humanas, etc, e é maravilhoso ver como Chambers trabalha todos essas questões difíceis de forma tão natural, tão prazerosa e com muita autoridade.

No segundo livro, novamente temas da mesma ordem são trazidos à tona, alguns com uma nova roupagem: a importância das Humanidades agora ganha um personagem que cursou História; o preconceito interespécie é aborado, mas — e aqui está a vantagem de ser um livro 2 — como já fomos apresentados às várias espécies de sapientes existentes, Chambers pode focar mais nas relações interpessoais. E como é lindo de se ver tais relações. Eu NUNCA imaginei que iria chorar lendo A Vida Compartilhada em uma Admirável Órbita Fechada, mas eu chorei, e isso mostra como é poderosa a afeição  aos personagens muito bem trabalhados que Chambers consegue cativar em seus leitores.

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Chambers traz calor ao gênero sci-fi, que eu não via desde o filme AI: Inteligência Artificial, preenchendo todos seus espaços ocos com a luz que irradia das relações entre as pessoas, sejam elas familiares ou amigos.

A narrativa deste segundo livro alterna os focos do protagonismo com capítulos curtos que oscilam entre fatos do presente e fatos passados. Embora não haja muita originalidade neste formato, ele garante a dinâmica necessária da leitura e faz com que o leitor queira avançar rapidamente para o próximo capítulo e saber mais dos eventos pendentes de cada tempo narrativo. Em geral, foram as memórias (o tempo passado) que mais me emocionaram. Enquanto a história avançava no presente de Sidra, eu procurava obstinadamente saber o que havia no passado misterioso de Sálvia.

Gostaria de poder falar mais sobre o livro, mas acabaria ficando redundante com meus mesmos elogios já tecidos em relação ao primeiro livro, e um spoiler ou outro do livro 1 correria o risco de vazar, ainda que não intencionalmente. Se você tiver lido a sinopse e quiser conversar mais a respeito do livro comigo, pode me mandar um e-mail ou DM pelo instagram.

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Edição linda, com o mesmo capricho de sempre da Darkside

Se não foi o suficiente para você, mas ainda assim não quer ter spoilers do primeiro livro, vou deixar alguns trechos do volume 2 aqui:

“Não é nada agradável perceber que você estava enganada sobre algo, mas acho que isso é positivo de vez em quando”.

 

“Sidra ficou observando o casal enquanto o submarítimo cruzava a lua. Sálvia finalmente se rendeu ao sono. Azul pareceu contente em observar borrões de peixes curiosos e algas emaranhadas. Nenhum dos dois tinha sido feito para aquele lugar, Sidra considerou. E, na verdade, nenhum dos seres humanos ali fora, apesar de terem sido criados com menos intencionalidade. O mesmo poderia ser dito das outras espécies nos demais vagões. Os aeluonianos e os aandriskanos com suas máscaras para respirar. Os harmagianos com seus carrinhos motorizados. Não tinham sido feitos para habitar o mesmo mundo — habitar aquele mundo —, mas lá estavam eles.

Talvez nesse aspecto, pelo menos, ela não fosse tão diferente”.

 

Não sou que nem todo mundo. Não consigo ser que nem todo mundo”.

 

“Você quer que eu faça algo para o qual não fui feita! Não consigo mudar o que eu sou, Sálvia! Não consigo pensar ou reagir como você só porque estou presa atrás de um rosto como o seu. Este rosto, estrelas — você não faz ideia de como é passar por aquele espelho perto da porta todas as manhãs e ver um rosto que pertence a outra pessoa”.

Ficou curiosx? Espero que o suficiente.

Boa leitura!


Informações adicionais sobre o livro:

Capa dura: 336 páginas

Editora: Darkside; Edição: 1ª (13 de junho de 2018)

ISBN-10: 859454121X – ISBN-13: 978-8594541215

Título Original: A Closed and Common Orbit

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2 comentários

  1. Nao sou muito fã de filmes e leituras de ficção-científica. Por outro lado, também não dispenso.
    E o livro parece muito interessante.
    Estou recomeçando as minhas leituras no ano.
    Anotarei na minha “pilha”, que pretendo baixa-la o quanto antes.?

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