O primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher

Seguindo a proposta de não comprar livros físicos este ano, meus empréstimo do Kindle Unlimited seguem a todo vapor. E uma das leituras que fiz entre janeiro e fevereiro foi “Úrsula”, de Maria Firmino dos Reis.

E não poderia trazer essa resenha num dia mais oportuno, já que a autora nasceu em 11 de março de 1860, em São Luís do Maranhão.

Não sabia exatamente sobre o que era a história, mas já havia visto alguns posts no bookstagram que falavam que o livro era o primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher, e que ele era o precursor do tema abolicionista na nossa literatura. Assim, enquanto eu buscava alguma leitura interessante no Unlimited, me deparei com ele e fiz o empréstimo. Confesso que num primeiro momento fiquei com medo de a linguagem ser muito difícil, por se tratar de um romance publicado em 1859. Mas olhei o número de páginas (165, na contagem do Kindle), e decidi que, por mais difícil que fosse, não seria uma longa leitura pelo menos.

Assim, me pus a ler, e a primeira impressão que ficou foi muito positiva. É verdade que a linguagem é rebuscada demais para nós hoje, tão concisos e objetivos. Menos é mais, costumam dizer. Mas tem algo de delicioso na forma como Maria Firmino tece sua narrativa que fez com que eu realmente sorrisse em certos momentos e, no geral, desfrutasse de uma boa leitura.

Esta é uma história sobre um casal, que, obviamente, envolve Úrsula, e seu amor impossível. Um homem está de viagem, quando se acidenta. Um escravo, chamado Túlio, o ajuda e leva-o à casa de Úrsula, onde irá repousar até sua recuperação. Lá, o viajante se apaixona por Úrsula, detentora de uma beleza sem igual. O homem trata a Túlio com uma gentileza que o escravo, infelizmente, há muito não via em um homem, e é a primeira vez também que escravos (além de Túlio há outros; destaque para a personagem de Suzana) que são tratados como importantes dentro de uma narrativa na literatura brasileira, como pessoas com poder de influir nos fatos.

Realmente, como marco da literatura brasileira, tanto por ter sido o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, quanto pelo fato de preceder obras tidas como de cunho abolicionista (e escrita por homens, como Navio Negreiro), a leitura é muito interessante.

Por outro lado, eu torci demais para a história não focar tão-somente no romance de Úrsula e o cavaleiro salvo por Túlio. Esse romance, como todo bom romance, enfrenta um contratempo, levando o clímax da história às mãos de um vilão. Portanto, a fórmula, donzela, mocinho e bandido aqui se faz presente, e esse para mim foi um ponto negativo.

Entendo que se trata de um produto de sua época, em que o romantismo estava em seu ápice, mas ainda assim, tinha muita expectativa de que fugisse um pouco dessa fórmula. A vilania a qual acompanhamos é de uma força tão odiosa, que embora tenha impulsionado a leitura, também me fez às vezes nem querer pegar no livro porque estava cansada de passar tanta raiva (e pra isso já basta ser brasileiro, não é?).

Mas foi uma experiência muito curiosa para mim, essa de ler um livro de nossa literatura clássica, tantos anos depois de ter deixado para trás eternamente o Ensino Médio, sem obrigação nenhuma, e com uma maturidade infinitamente maior.

Amantes da literatura brasileira, não deixem de ler esse clássico e continuar a divulgar a importância dele em nossa história. Para quem quiser ler um texto mais crítico escrito por Maria Firmino, há também “A escrava”, que foi lançado à época em que ela já estava firmada como autora e professora, a primeira mulher, aliás, a passar num concurso público em seu Estado. Este ainda não li, mas me pareceu, pela breve sinopse, ser mais interessante.


Dados Técnicos do Livro:

Formato: E-book para Kindle, 165 páginas
Autora: Maria Firmino dos Reis
Editora ‏ : ‎ Simplíssimo (11 outubro 2018)
ASIN ‏ : ‎ B07JNGB6N6
Tamanho do arquivo ‏ : ‎ 1128 KB
Disponível no Kindle Unlimited (em 25/02/2022)
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5 comentários

  1. Maria Firmina dos Reis, além de fazer parte do movimento abolicionista, foi também uma mulher muito caridosa: era professora de crianças pobres e necessitadas, mas infelizmente parece não ter sido muito valorizada como escritora, porque morreu pobre e morando como agregada. Infelizmente, muitas brilhantes escritoras do século XIX até hoje não são citadas, inclusive nas escolas, embora estejamos cada vez mais verificando que elas de fato escreviam e publicavam, igualmente como Machado de Assis e os outros colegas homens. Exemplos: Auta de Souza, Nísia Floresta, Narcisa Amália, Júlia Lopes de Almeida, Maria Benedita Bormann, Francisca Júlia, além de muitas outras.

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