Quase 1 mês depois de ter começado a ler “Um Casamento americano”, finalmente concluí a leitura. A demora não diz nada sobre o que achei dela. Ou talvez diga, mas não demorei porque estava achando ruim. Pelo contrário, desde o começo estava gostando muito; mas fevereiro foi um mês difícil por aqui, e março não tem sido muito diferente. A demora talvez importe, porém, pra dizer que independente do ritmo de leitura ter sido super irregular, a qualidade do livro para mim foi espantosa.
Lendo histórias que retratam situações racistas a gente começa a entender como é o racismo estrutural e vai vendo suas muitas consequências. Mas, sinceramente, nunca tinha parado para pensar em como ele afeta inclusive um casamento, que é um fato social tão corriqueiro.
Em “Um Casamento americano”, Roy e Celestial estão num hotel, quando a porta do quarto deles é arrombada de madrugada, e Roy é levado preso, suspeito de cometer um estupro. Roy é condenado, mesmo sendo inocente, e sua esposa sabe disso, pois esteve com ele o tempo todo. Seu álibi, no entanto, de nada serve, e a união de ambos se interrompe abruptamente com o encarceramento de Roy.
O livro alterna inicialmente as perspectivas de ambos os personagens, ora em forma de narrativa em primeira pessoa, ora em forma epistolar, já que há muita troca de cartas entre o casal.
Fui impactada por essa história de uma forma inesperada. Não sei dizer se é pelo fato de que sou casada e fiquei me perguntando se fosse eu e meu marido no lugar de Roy e Celestial, se é porque fiquei analisando meu próprio casamento e as circunstâncias que levaram à nossa união – um ponto que Celestial traz no livro que eu cheguei a concordar, mesmo não tendo me afeiçoado à personagem -, ou se é pelo fato de que sou uma romântica incorrigível.
O que sei é que o livro me fez pensar nas circunstâncias pelas quais as pessoas se apaixonam, e pelas quais elas, depois, amam. Afinal, não acredito que as pessoas amem alguém da mesma forma e pelos mesmos motivos pelos quais se apaixonaram.
Pensei também em como até nisso o racismo interfere. Porque um casamento pode se romper por diversos motivos, mas por uma condenação injusta que tem mais a ver com a cor da pele que qualquer outra coisa, nunca tinha me ocorrido especificamente.
No livro há também uma crítica ao sistema prisional, que me lembrou da leitura de “Estarão as prisões obsoletas?” de Angela Davis, uma leitura que até hoje não encontrei forma de resenhar.
Me fez pensar também sobre família, sobre como vínculo é a presença diária, e que, justamente por isso, não significa que ela nunca possa ser expandida. Não sei por quanto tempo ainda vou permanecer sob o impacto dessa leitura, mas embora a história esteja muito distante da minha realidade, eu me identifiquei demais com algumas situações. Teve um capítulo que eu simplesmente coloquei uma flag no título, porque se pudesse, eu grifaria todas as suas páginas.
Por outro lado, exatamente por essa distância, abri meus olhos para tantas outras coisas antes impensáveis.
Me identifiquei por sentimentos talvez inerentes ao ser humano, questões ligadas ao amor, ao orgulho, à fragilidade, à vulnerabilidade, mas naquilo que não houve identidade, houve aprendizados. E é por esses aprendizados na verdade que enxergo ainda mais a humanidade sendo despertada. Obrigada Tayari Jones por ter escrito esta história, e obrigada, Bruno, por este presente.
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 368 páginas Autora: Tayari Jones Tradução: Alves Calado Editora: Editora Arqueiro; edição exclusiva para TAG (2018) ISBN-10 : 8580419468 – ISBN-13 : 978-8580419467 Título original: An american marriage |
Resenha excelente! Gostei muito de conhecer mais um livro indicado por vc. Mais um para a lista. ♥
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