Vamos para a mesa: orientações e reflexões sobre crianças que comem mal – Cícero Alaor Kluppel

Quem me acompanha mais fielmente (aqui e no @percursosliterarios) sabe que estou querendo desmamar meu filho, Naoki, que agora em janeiro completou 2 anos e 4 meses. Porém, estamos atravessando mais uma turbulência por aqui; mais uma porque a maternidade é cheia delas, e pais de primeira viagem, como eu e João, às vezes ficamos um pouco muito perdidos. Naoki não come direito, é como eu resumiria a turbulência. Assim, tentando me informar ao máximo, acompanhados perfis de nutricionistas e especialistas pediátricos que abordam a alimentação infantil, lendo muito sobre, acabei me deparando com o livro “Vamos para a mesa – orientações e reflexões sobre crianças que comem mal”. Fiquei seriamente na dúvida se chegava a ponto de precisar de mais informações além das que eu já vinha extraindo de nos @ da vida, e de forma ainda gratuita. Mas achei que valia a pena, porque, afinal, estamos falando do bem-estar do meu filho.

E, no final das contas, foi muito bom realmente ter feito essa leitura, porque ela me deixou uma pouco mais tranquila. Naoki deixou de comer muitas coisas que comia ao longo da introdução alimentar (que dizem que vai até os 2 anos), ou sequer experimenta, o que era muito fácil quando ele era apenas um bebezinho curioso que levava à boca qualquer coisa que déssemos. Pois é, essa fase passa, e é ao mesmo tempo um alívio e um desespero para os pais. Alívio porque tem tanta coisa que não queríamos que ele levasse à boca; desespero porque chega a ser até frustrante ver que a criança simplesmente parece não ter curiosidade nenhuma por alimentos novos.

A tranquilidade que o livro me trouxe foi ver que, primeiro, essa é uma das reclamações mais frequentes dos pais aos pediatras: “meu filho não come”, com variáveis, “meu filho não come direito”, “meu filho não come coisas saudáveis”. Segundo porque ele explica de forma muito clara quais os principais 3 motivos pelos quais uma criança não come e os destrincha para que os pais avaliem quais pontos podem tentar adequar para que, aos poucos, a alimentação da criança se torne mais saudável.

Não irei aqui abordar cada uma dessas três razões e nem explicá-las, porque a ideia não é trazer um resumo do livro, apenas compartilhar minhas impressões de leitura com vocês.

Mesmo depois de ter lido, ainda acho difícil avaliar bem ao certo em qual situação Naoki se encaixa, até porque, conforme o próprio autor explica, pode ser uma combinação dos 3 motivos. No meu achismo de mãe (que costuma ser um bom começo, afinal, quem conhece melhor o filho do que a própria mãe?), Naoki tem uma seletividade leve, e que pode ser trabalhada para que ele se abra a uma alimentação mais variada, desde que:

a) haja paciência dos pais, porque realmente, exige tempo, dedicação e saber ser o adulto da relação (aquele que acolhe a criança que faz “birras”, mesmo quando o instinto seja de gritar ou chorar junto);

b) os pais se informem quanto aos processos de desenvolvimento da criança, compreendendo que uma criança, até os 7 anos, não sabe lidar muito bem com suas emoções (frustração, medo, raiva, etc), e cabe a nós, pais, guiá-los para que se tornem pessoas confiantes, seguras e que não têm medo de dizer aquilo que sentem e pensam (inclusive de dizer quais alimentos não gosta);

c) continuem ofertando os alimentos que queremos que eles comam/voltem a comer/experimentem, não se esquecendo que o exemplo dos pais ainda é um dos melhores caminhos para que isso aconteça;

d) tornem a hora de comer o mais agradável possível, porque a hora da refeição é uma das maiores oportunidades de criar e estreitar vínculos afetivos entre a família e amigos.

Na minha avaliação, antes de ler o livro, percebi que estava muito frustrada e preocupada, porque parecia que cada vez mais a alimentação do Naoki estava se restringindo. Depois da leitura, comecei a refletir sobre onde estávamos errando (mesmo tentando acertar), e desde então já fizemos algumas adaptações em casa. Para minha surpresa, Naoki voltou a comer alguns alimentos que faz tempo não comia, e, entendendo melhor as etapas de encadeamento, passei a avaliar como positivas as situações em que Naoki, apesar de não comer determinado alimento, chega a simplesmente manuseá-lo ou lambê-lo (vocês sabiam que provar uma comida, para uma criança, é um ato também de coragem?).

Dentre as orientações do autor pediatra, as que passamos a seguir aqui em casa, foram pontos bem simples como:

  • retirar o uso de telas durante as refeições;
  • servir a comida do Naoki junto com a nossa, mesmo que ele não coma;
  • avisá-lo que tudo bem ele não comer, mas que aquelas são as opções daquela refeição, e que a próxima só acontecerá dali um tempo ou no dia seguinte, no caso da janta;
  • continuar ofertando alimentos que ele não come/não tem comido (mas sempre com outras que ele come – essa dica e outras já havia pego no @garfinhoapp);
  • e claro, paciência e também muita conversa com o marido, que tem o pavio mais curto que eu; afinal, o ambiente na hora de comer tem que ser agradável, e lugar nenhum é agradável com pessoas estressadas.

Como o livro contém muitas informações, e elas se encontram sequenciadas de uma forma bastante lógico, é muito provável que você, como adulto, também acabe por (re)avaliar a sua própria relação com a comida. Quão aberto(a) você é para experimentar pratos novos? Quão variada é sua dieta? Fico feliz em poder dizer que sou muito curiosa em relação a pratos novos (embora não tanto em relação a pratos que envolvem animais, mas isso também é ok) e que vejo minha dieta como bastante variada, mas que sempre posso tentar aumentar o repertório quando não estiver idealmente variada.

Para as gestantes, também têm boas notícias. Você pode aumentar a predisposição de seu filho a experimentar pratos diferentes ao manter uma dieta também rica e variada, já que o líquido amniótico, que é a primeira experiência de “sabor” do bebê muito antes dele nascer, irá variar tanto quanto a sua alimentação. Quem ainda amamenta, como nosso caso, deve tirar proveito da situação e também manter uma dieta bem nutritiva e variada, para que os muitos diferentes sabores cheguem ao seu filho através do LM, e assim, ele esteja também mais aberto a novos sabores.

Em suma, acho que para pais e mães que estão desesperados como eu estava, é muito válida essa leitura. Vai esclarecer muitos pontos e dúvidas, e, talvez, assim como eu, vai deixá-los mais tranquilos, vendo que a alimentação do seu filho, até que não é tão mau assim, ou, se realmente for, que os caminhos até o “ideal” são menos tortuosos do que imaginamos, porque não exigem que as mudanças aconteçam de forma brusca; muito pelo contrário. As melhoras, obviamente, assim como as etapas de mudanças e ajustes necessárias, não são gritantes, mas são consistentes, e consistência é a palavra-chave para toda mudança de estilo de alimentação balanceada.

Aqui, ainda temos muitas etapas a seguir em frente, mas também há uma tranquilidade de que existem ainda alguns anos para seguir nesse processo.

Para quem me acompanha no Insta e viu minha avaliação do livro como 3.5 estrelas pode estar se perguntando: “ué, mas se você gostou tanto assim do livro, porque deu a nota 3.5?”. Bom, isso tem a ver com a minha própria percepção, né? Até ler o livro, eu só havia visto perfis de mulheres abordando o assunto da alimentação infantil e introdução alimentar. E acho que ainda existe uma sensibilidade maior nessa comunidade que me faz me sentir mais acolhida, como mãe e mulher, e que senti um pouco a falta dela nessa leitura. Não que o autor seja grosseiro, rude nem nada do tipo, pelamordedeus, não é isso que estou dizendo, é só uma abordagem diferente, ainda assim gentil, mas com a qual eu não estou acostumada. No mais, acho muito bacana, aliás, que existam homens que abordem o assunto. É uma maneira de atrair mais pais (no sentido de homens) a se informarem mais sobre o assunto (porque, infelizmente, homens parecem confiar também mais em seus pares).

Queria, por fim, dizer que, depois que postei stories no Insta falando da dificuldade com a alimentação do Naoki, uma porção de mamães brotaram na minha DM para relatar que também estão passando ou passaram por isso. NENHUM homem veio conversar sobre isso comigo. É desse acolhimento que eu falo, entendem? Muito obrigada, mulheres. Juntas somos mais fortes, e vocês, com certeza, me fortalecem! Naoki só tem a ganhar com isso, e o mundo também, claro, cheio de mamães que se apoiam e nos dão tranquilidade e forças para continuar seguindo nos muitos desafios.

Ah, sobre o desmame? Estou pensando em escrever um outro post só sobre ele, ok? Aguardem…


Dados Técnicos do Livro:

  • Capa comum: 148 páginas
  • Autor: Cícero Alaor Kluppel
  • Editora: ‎ Editora Matrescência (23 maio 2022)
  • ISBN-10: ‎6587056369 – ISBN-13: ‎978-6587056364
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