Cidadã de Segunda Classe – Buchi Emecheta

Sinopse:

“Na Nigéria dos anos 60, Adah precisa lutar contra todo tipo de opressão cultural que recai sobre as mulheres. Nesse cenário, a estratégia para conquistar uma vida mais independente para si e seus filhos é a imigração para Londres. O que ela não esperava era encontrar, em um país visto por muitos nigerianos como uma espécie de terra prometida, novos obstáculos tão desafiadores quanto os da terra natal. Além do racismo e da xenofobia que Adah até então não sabia existir, ela se depara com uma recepção nada acolhedora de seus próprios compatriotas, enfrenta a dominação do marido e a violência doméstica e aprende que, dos cidadãos de segunda classe, espera-se apenas submissão.”


Minhas impressões do livro:

Depois de ter tido uma experiência enriquecedora com a leitura de As alegrias da maternidade, eu sempre soube que acabaria lendo outros livros da autora nigeriana Buchi Emecheta. Só que, por ter sido um livro que me entristeceu demais, por conhecer uma realidade tão dolorosa e diferente da minha, acabei postergando esse reencontro com uma outra narrativa igualmente angustiante. É verdade que sempre fui sensível, mas a maternidade parece ter aflorado ainda mais essa sensibilidade em mim, então tive medo de me acabar em prantos e desabar, mesmo que por alguns minutos. Felizmente, não foi assim que essa nova união se deu. Eu amei a leitura, sim, e não foi preciso derramar nenhuma lágrima dessa vez.

Adah nasceu na Nigéria e ainda menor de idade se tornou noiva. Como era costume em sua comunidade, quando o pai de uma família morria, a esposa era herdada pelo irmão do marido e as meninas passavam para o irmão mais velho de sua mãe, ficando como domésticas. Essa foi a infância de Adah, passando de família em família, até ser vendida, como um bem, à família de seu futuro marido. Mas Adah sempre quis estudar e fez de tudo para isso. Nutria o sonho de ir para Londres, que era visto como “o pináculo de suas ambições”, nas palavras da autora. Ela vai, mas vem a descobrir o que é ser uma cidadã de segunda classe.

Embora a sucessão dos fatos no livro seja repleta de dificuldades que Adah terá de enfrentar, pelo próprio bem e de seus filhos, ficamos na torcida incessante de vê-la dar a volta por cima — spoiler: o que nem sempre acontece. E por isso as lágrimas talvez não tenham vindo. Senti mais raiva no livro que tristeza. Um sentimento enorme de injustiça me acometeu, mas também me fortaleceu, me fazendo ver o quanto, como sociedade, precisamos ser melhores, em vez de apenas sentar e lamentar.

A escrita de Emecheta é genial nesse aspecto. Ela consegue rir das próprias desgraças, mas não convidando o leitor a rir junto, e sim a seguir em frente para entender o tamanho da injustiça que vivem milhares de mulheres como ela, que, além de cidadãs de segunda classe por serem imigrantes num país que carrega todo um histórico de colonizador e império, são mulheres e negras, renegadas pelos próprios compatriotas que ali vivem, porque não aceitam o fardo de uma cultura que separa mães e filhos e muito menos ter de sempre baixar a cabeça para seus maridos.

Outras questões são abordadas no livro; as que para mim mais se destacam são a violência doméstica (atenção para gatilhos), que existe independente do grau de instrução da mulher, e a hipocrisia com que a religião é usada como um manto capaz de acobertar a falta de caráter, migrando-se de uma crença à outra, conforme melhor convém ao suposto fiel. No que se refere à violência doméstica, é reveladora para a protagonista como existe alegria na solidão, e faz valer bem o ditado: “antes só do que mal acompanhada”.

O livro é uma ficção, mas também de cunho autobiográfico. O final é daqueles muito bem arquitetados, que instiga o leitor a querer logo iniciar a leitura do próximo livro (sim, a história de Adah continua em No fundo do poço), e eu, que resisti tanto a voltar a ler Buchi Emecheta, não consigo entender por quê demorei tanto a fazê-lo.


Dados Técnicos do Livro:

  • Capa comum: 256 páginas
  • Autora: Buchi Emecheta
  • Editora: ‎ Dublinense; 1ª edição (31 outubro 2018)
  • Tradução: Heloisa Jahn
  • Título original: Second class citizen
  • ISBN-10: ‎858318111X – ISBN-13: 978-8583181118

Exemplar adquirido na Livraria da Vila – Shopping Aurora – Londrina -PR, adquira o seu preferencialmente em uma livraria também ou pelo site da editora.

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