Ojiichan – Oscar Nakasato

Num passeio sem um propósito específico pela livraria acabei trombando com o título “Ojiichan”. Por ser descendente de japoneses, a palavra me é muito familiar – avô -, muito embora eu mesma nunca tenha tido uma experiência afetiva real com os meus. Um já era falecido quando nasci, e o outro se fez ausente na época em que teria sido mais provável construir uma relação de carinho que costuma acompanhar a ideia de “avô”: a infância e a adolescência.

Mas eu vejo meu filho e como ele é agraciado por ter dois avós, e como ambos amam o neto. Esse é um tipo de relacionamento que nunca vivi, mas que tenho adorado acompanhar. Então, “jiichan” (pronuncia-se “ditchan) é uma palavra que ganhou um novo significado para mim, graças ao meu filho. Agora sim, está atrelada a essa imagem de afeição. E foi assim que enxerguei o livro quando bati meus olhos nele. Imaginei que ali encontraria um pouco desse tipo de relacionamento entre avô e neto, mas acabei encontrando uma história muito diferente e tornou o livro ainda mais precioso.

Sr. Satoshi é um professor de biologia que acaba de se aposentar no início da história que acompanhamos. A aposentadoria se deu de forma compulsória, porque se pudesse, Satoshi continuaria a lecionar até o fim de sua vida. E, assim como o fim de um ciclo de sua carreira, a história é permeada de términos.

Cada término vai gerando no leitor reflexões sobre o envelhecer. E para cada uma delas, é possível vislumbrar-se uma vida toda. Acho que a solidão que senti ao ler o livro foi o que mais me sensibilizou. Por outro lado, pude ver como a busca pela conexão dura a vida toda, e algumas amizades desabrocham em lugares surpreendentes.

Esse é o tipo de livro que eu amo, porque tem um drama familiar como pano de fundo, e aqui, especificamente, num contexto que é muito comum entre descendentes de japoneses, quando pais e filhos às vezes se separam, com uma parte da família tentando buscar uma vida melhor imigrando para o Japão. Além disso, tem o protagonismo de um homem aposentado, que traz o etarismo como tema central. Aliás, o livro já abre com uma frase de impacto:

“Um homem está velho quando não consideram mais a sua opinião.”

Houve um capítulo em especial que me deixou muito emocionada, com olhos marejados e o coração pesado, mas em vários momentos da leitura eu senti uma tristeza enorme. Então, este é um livro precioso para mim nesse sentido, de tocar os leitores com suas pequenas descrições que nos fazem olhar para os mais velhos com mais carinho e empatia.

A escrita também é muito aprazível e contribuiu para a fluidez da leitura, apesar de todas minhas longas divagações. Uma delas até gerou um post lá no outro blog (estou no Substack também, gente). E, por fim, uma outra coisa que eu amei desse livro foram os títulos dos capítulos, que são trechos extraídos de seu textos e resumem os episódios neles narrados. Tomei alguns pequenos spoilers ao ler o índice. Se você não curte spoilers, esquive-se de lê-lo.

O livro entrou para meu Desafio Lendo Asiáticos, que já fazia algum tempo que estava um pouco de lado. Não que eu não estivesse lendo livros de autoria de pessoas com alguma descendência asiática, mas o desafio busca que se leia com a meta de preencher uma espécie de alfabeto (com o título ou o nome do autor iniciando com cada letra do alfabeto), e alguns títulos não puderam entrar porque a letra já se encontrava preenchida.

Para minha surpresa também, o autor é do Estado onde moro, de uma cidade bem próxima, que é Maringá cuja população conta com muitos imigrantes japoneses e, por isso, mantém uma certa tradição da cultura japonesa, assim como aqui, em Londrina – PR. Oscar Nakasato, portanto, é um nome a que devo agora ficar mais atenta às publicações.

Mesmo que o leitor não tenha nenhum vínculo com a imigração japonesa, o livro é uma recomendação que gostaria de deixar para quem adora livros pequenos com muito peso, ou que abordem o tema do envelhecimento. As análises em sua mente que o livro irá gerar talvez façam repensar como anda seu tratamento dado às pessoas mais velhas.


Dados Técnicos do Livro:
  • Capa comum: ‎168 páginas
  • Autor: ‎Oscar Nakasato
  • Editora: ‎Fósforo Editora; 1ª edição (9 setembro 2024)
  • ISBN-10: ‎6560000435 – ISBN-13: ‎978-6560000438

5 comentários

  1. Oiê!

    Fiquei com vontade de ler esse livro, já vou anotar aqui. É muito bom quando, de alguma forma, a gente se identifica com a história, né? Vira outra experiência!

    Gostei de conhecer seu outro blog também, já estou seguindo por lá.

    Um abraço!

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  2. Terminei de ler hoje pela manhã, enquanto tomava café.

    Eu achei o livro, em sua maioria, triste (em alguns momentos quase fui às lágrimas), mas é ao mesmo tempo uma história esperançosa. Buscar significado e lugar em que o mundo ao seu redor rapidamente se desfaz exige um esforço muito grande. E Satoshi, apesar de ser um personagem um tanto triste, não é alguém totalmente conformado. A forma com lida com as perdas mostra bem isso.

    Vou tentar não dar spoiler aqui, mas os momentos em que Satoshi interage com o vizinho do 15º são hilários.

    “Ojiichan” foi uma grata surpresa e uma senhora experiência, que gostaria muito que durasse um pouco mais. Mas a forma como o livro termina meio que alivia a falta que a história de Satoshi fará ao meu café da manhã rsrsrs.

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