Muros de poemas em Leiden – Holanda

Passamos as férias de julho na Holanda, mais especificamente, na cidade de Leiden, um lugar onde eu e João estivemos 10 anos atrás e pela qual nos encantamos. Daquela primeira vez, embora eu tivesse visto muitas paredes com coisas escritas, confesso que não me atentei para o conteúdo delas. Só quando retornei ao Brasil descobri que a cidade é famosa também por seus “wall poems”, ou, “muros de poesia”, em livre tradução.

Como o ritmo de viagem dessa vez foi totalmente outro (porque a gente envelhece, e, às vezes, amadurece), um objetivo que eu tinha ao revisitar a cidade, era que queria que João fotografasse alguns desses muros. Nada de comprar cartões postais dessa vez. A lembrança maior da cidade que eu queria era justamente fotos dos muros com poemas que cruzaram nosso caminho ao longo de algum passeio.

Os poemas estão em diversos idiomas, e o que mais me encantou de ver foi um poema de Pablo Neruda. Essa parede tem um significado ainda mais especial para mim (e eu o dividi aqui com vocês), e toda vez que eu olho essa foto, me dá um calorzinho no coração.

Fico pensando o quanto seria maravilhoso sair andando pela minha cidade e topar com poesias inscritas em seus muros. Será que algum artista não topa começar?

Para quem quiser ler o poema de Pablo Neruda, coloquei-o aqui abaixo, no original (espanhol), como aparece no muro:

DEJO mis viejos libros, recogidos
en rincones del mundo, venerados
en su tipografía majestuosa,
a los nuevos poetas de América,
a los que un día
hilarán en el ronco telar interrumpido
las significaciones de mañana.
Ellos habrán nacido cuando el agreste puño
de leñadores muertos y mineros
haya dado una vida innumerable
para limpiar la catedral torcida,
el grano desquiciado, el filamento
que enredó nuestras ávidas llanuras.
Toquen ellos infierno, este pasado
que aplastó los diamantes, y defiendan
los mundos cereales de su canto,
lo que nació en el árbol del martirio.
Sobre los huesos de caciques, lejos
de nuestra herencia traicionada, en pleno
aire de pueblos que caminan solos,
ellos van a poblar el estatuto
de un largo sufrimiento victorioso.
Que amen como yo amé mi Manrique, mi Góngora,
mi Garcilaso, mi Quevedo:
fueron
titánicos guardianes, armaduras
de platino y nevada transparencia,
que me enseñaron el rigor, y busquen
en mi Lautréamont viejos lamentos
entre pestilenciales agonías.
Que en Maiakovsky vean cómo ascendió la estrella
y cómo de sus rayos nacieron las espigas.

Testamento – II

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