O Ensaio – Eleanor Catton

Finalizei a quinta leitura do projeto/desafio #MulheresContinentais! E faltam exatamente apenas 2 livros e 2 meses para cumprir o desafio! Será que finalmente vou conseguir completar uma meta literária?

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A quinta leitura selecionada foi de um livro escrito por uma escritora da Oceania. Procurei sair do mais óbvio e aproveitar a oportunidade para conhecer um nome novo, então fugi da Liane Moriarty (australiana), que já conheço (e adoro) e fui pesquisar. Acabei topando com o nome de Eleanor Catton, e o livro O Ensaio me chamou a atenção por sua sinopse:

O mundo é um teatro – e em nenhum lugar isso é mais verdadeiro que em uma instituição de ensino. Principalmente quando surge um escândalo.

Um professor se envolve com uma jovem ainda menor de idade e as amigas dela, embora finjam consternação, no fundo sentem curiosidade  pelo ocorrido e até uma pontada de ciúme. Falam obsessivamente sobre o caso com uma enigmática professora de saxofone, durante a preparação para o recital de fim de ano.

Nesse meio-tempo, uma tradicional escola de teatro utiliza o escândalo como tema para um espetáculo. À medida que as datas da peça e do recital se aproximam, mundo real e ficção começam a se mesclar e as fronteiras entre os dramas reais e os encenados se dissolvem.

Um romance provocativo, que me deixou bastante desconfortável, não tanto, quanto  antes supunha, pelo reprovável caso do professor com a aluna, que, majoritariamente, é tratado de longe, pelo olhar de terceiros, pelo “ouvi-dizer”, pelas suposições alheias e sob a luz e enfoque de outrem que não os verdadeiramente envolvidos na relação, mas porque me senti uma intrusa lendo este livro. Fiquei muito incomodada com todos os adultos da história de um modo geral, mas principalmente com a professora de saxofone e sua postura. É para ela que as alunas contam tudo o que se passa na escola, inclusive sobre o escândalo. Mas achei-a uma intrusa, por manipular a confidência de tais informações de forma que ela pudesse revisitar seus próprios fantasmas. Quando terminei o livro, porém, entendi que o que realmente me incomodou foi eu me ver no mesmo lugar que o daquela professora. Em minha vida adulta, eu enxerguei a mim mesma enveredando-me por caminhos semelhantes ao tomar esta ou aquela decisão, ao emitir essa ou aquela opinião, e me vi também atuando em tantos momentos. O mundo é mesmo um teatro. Mas para quem estamos representando? Queremos ser uma fonte de inspiração? Queremos ser admirados, agradáveis?

Incomoda saber que não somos nós mesmos em muitas situações. E O Ensaio tem esse poder.

Por ser uma história que se passa no âmbito escolar, era de se esperar que os adolescentes e jovens adultos fossem tratados de forma bastante estereotipada, mas não é o que acontece. São justamente os adolescentes ou os jovens adultos que mais me fascinaram neste livro, e são deles as vozes e ideias que me arrebataram. Os adultos, em sua maioria, me deram um certo desgosto, e me vi, infelizmente, espelhada em tantos momentos, principalmente quando eles, iludidos, se viam revivendo num ser mais jovem, criando tantas expectativas, como os pais fazem com os filhos também:

Eu o ouço falar e o observo se mexer e é como uma espécie de renascimento.

Chamou bastante minha atenção, também – no começo de forma incômoda –, a utilização exacerbada de polissíndetos como recurso de escrita. Creio que são usados com o intuito de dar ênfase, como se martelando as palavras na mente do leitor. Um compasso empenhado em aproximar duas atmosferas: a da melodia e a da própria trama. Gosto de pensar que, de início, a presença marcante desta figura de linguagem faz as vezes de um metrônomo que indica ao leitor o andamento da narrativa, e, uma vez já familiarizado com tal pulsação, a história parece se desenvolver mais livremente. No conjunto, a narrativa é bastante oscilante, tanto em tempo quanto em espaço e perspectiva. É de uma dinamicidade gritante e que pode não agradar os menos acostumados com uma narrativa não tão linear. Para mim, porém, é um dos pontos fortes do livro.

A fusão entre realidade e ficção é outro dos elementos da narrativa que provoca o leitor, fazendo-o novamente se questionar quais os limites entre o real e o encenado. Impossível não se indagar se estamos apenas ensaiando ou, de fato, vivendo a vida.

Um livro belamente escrito, com passagens geniais, que merece muitas (re)leituras, em diferentes momentos e fases de nossa existência.


Informações adicionais sobre o livro:

Capa comum: 400 páginas

Editora: Record (7 de maio de 2012)

ISBN-10: 8501089370 – ISBN-13: 978-8501089373

Título Original: The rehearsal

Livro adquirido pelo site da Amazon.

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