Em outubro me propus a ler ao menos um thriller, para que eu pudesse sentir, de alguma forma – ainda que só de leve –, o clima de Halloween pelo qual o mês é lembrado.
O escolhido da vez foi O Homem de Giz, o primeiro livro da autora C. J. Tudor, a qual eu tive a oportunidade de conhecer pessoalmente num evento exclusivo para assinantes do Clube Intrínsecos, por ocasião de sua vinda à Bienal do Rio. Esse encontro foi uma experiência surreal para mim, porque, até então, o máximo que estive perto de algum autor foi apenas para uma foto e um autógrafo. Mas nessa noite com C. J. Tudor, houve um bate-papo com a escritora e depois uma sessão de autógrafos, com direito a petiscos deliciosos e drinks também, tudo à vontade!
C. J. Tudor me pareceu uma pessoa muito querida, e era nítida sua alegria e satisfação de ter se tornado uma autora de sucesso. Eu espero realmente que ela escreva ainda muitos livros!

Sinopse:
Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes.
Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás.
Alternando habilidosamente entre presente e passado, O Homem de Giz traz o melhor do suspense: personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados.
Minhas impressões sobre o livro:
Não li muito Stephen King na minha vida (ainda, pois pretendo consertar isso), mas até para mim, é gritante a referência e inspiração dele na obra de Tudor. E isso pode ter dois efeitos sobre leitores fãs de King: pode brindá-los com a sensação de um tributo mais que merecido, ou pode afastá-los, com um sentimento de decepção pela repetência de uma fórmula já explorada por um escritor que dispensa apresentações. Eu não sou fã de King, porque, para mim, fã é aquela pessoa que já leu praticamente tudo que o autor escreveu. Assim, acho que posso falar de uma forma mais neutra nesse quesito.
Eu adorei as referências. Senti-me revisitando, inclusive, alguns cenários, como o bando de amigos combinando, a seu modo, de ir ver o primeiro cadáver, em “The Body” (ou no filme, “Conta Comigo”). Adorei o espaço de 30 anos que dividem duas fases muito distintas da vida: a infância e a idade adulta, e o confronto necessário entre elas, como em “It”. A distinção fica principalmente por conta de que, enquanto King divide as idades em 2 partes no livro, Tudor brinca numa espécie de pingue-pongue dos tempos, o que funciona bem para os propósitos da narrativa, tornando-a dinâmica e enchendo o leitor de tensões.
Novamente, assim como no primeiro livro que li de Tudor (O que Aconteceu com Annie), achei maravilhoso como a autora consegue trabalhar o clima de suspense e nos deixa ávidos para terminar logo sua leitura.
Comparando, eu não consigo ao certo me decidir se gostei mais de O que Aconteceu com Annie ou de O Homem de Giz. Em geral, gostei mais da escrita deste, mas mais do final daquele. Tudor me pareceu, curiosamente, mais à vontade em seu livro de estreia que em sua segunda obra, mas parece ter aprimorado algumas técnicas e desenvolvido um estilo mais pessoal. Não sei se é justo comparar os dois livros, como estou fazendo, mas é inevitável.
Quem gosta de thrillers pode acabar se desapontando com O Homem de Giz, que começa e se desenrola até certo ponto maravilhosamente empolgante, mas que, na minha opinião, arremata de forma inconsistente: as pontas são atadas, mas de forma muito débil.
Fiquei muito impressionada, porém, (e impressionada a nível Stephen King) com a qualidade de alguns trechos muito belamente escritos por Tudor. Não é somente por ser um(a) autor(a) do gênero thriller/suspense/terror que eu avalio se ele(a) escreve bem determinado tipo de história. Tem que ir além disso. A pessoa tem que me convencer que aquele gênero tem muito mais a oferecer do que inicialmente supomos. Uma história de terror, por exemplo, não é boa o suficiente se tudo o que ela nos provoca é medo. E Tudor explora os sentimentos do leitor de modo arrebatador, e é por isso que sei que ela deve continuar escrevendo. Eu já havia notado tal habilidade quando me deparei pela primeira vez com sua obra, mas somente agora, com outra leitura, essa qualidade ficou evidente a tal ponto que não posso negar que ela tem talento para a coisa.

Fui surpreendida, ainda, por eu ter encontrado, onde jamais esperaria encontrar, uma passagem bastante curiosa sobre a introspecção. Sou uma pessoa muito introspectiva, e sempre vi isso de uma forma positiva (tirando um pouco o estranhamento que isso pode às vezes causar nas pessoas), mas me fez ver também um lado ruim da introspecção que eu nunca tinha notado: o de que geralmente os tipos fechadões assim “são obcecados por si mesmos e que acreditam que o mundo gira ao seu redor”. Foi um soco no estômago para mim, que me fez refletir bastante. (In)felizmente, gerando mais introspecção.
No cômputo geral, portanto, foi uma leitura muito boa, e dei, sem titubear, nota 4 (de 5) ao livro, por todo entretenimento e reflexões vividos ao longo da leitura e também pelas horas de sono que deliberadamente perdi para ler sempre um pouco mais antes de dormir (e depois ainda sofrer um pouco com a insônia advinda da curiosidade). Afinal, se um livro de suspense não desperta esses sentimentos em você, nem vale a pena ler, não é mesmo?
Agora me diz, qual seu livro de suspense/thriller/terror favorito? Aquele que além de te deixar tenso também te presentou com lindas passagens ou ensinamentos para a vida?
Informações adicionais sobre o livro:
Capa dura: 272 páginas
Editora: Intrínseca; Edição: Capa dura (15 de março de 2018)
ISBN-10: 8551002937 – ISBN-13: 978-8551002933
Título Original: The Chalk Man
Livro adquirido no stand da editora Intrínseca – Bienal Rio 2019.
Parabéns pela resenha! Sem dúvidas, tenho um carinho enorme por “It, a Coisa”, do Stephen King – que não só traz a atmosfera de terror, mas expõe as atitudes de preconceito e de ódio que permeiam a sociedade. É tão bom quando nos separamos com experiências de leitura tão completas, não é mesmo?
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*deparamos
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Gostei muito de saber a sua opinião sobre o livro. Vou comprá-lo, pois gosto muito de suspense e sua resenha está impecável!
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Não sou muita fã de thrillers, mas a para quem gosta, a resenha é excelente. Parabéns
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Experiência única conhecer quem escreveu e ainda ter tirado foto, fico muito feliz por você.
Tenho muito interesse de ler esse livro, se tiver por um bom preço no blackfriday tentarei comprar.
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Sempre tive muita vontade de ler este livro e sua resenha só me fez aumentar a curiosidade para conhecer essa história. Amo thriller! Ainda não li nada do King… Planos para 2020 ……♥♥♥
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