Neste livro, encontraremos 10 contos narrados por escritores indígenas, das mais variadas etnias, trazendo um pouco da identidade de cada um desses povos. São eles: Mebengôkré, Kayapó, Saterê-Mawé, Maraguá, Pirá-Tapuya, Waíkhana, Balatiponé Umutina, Taurepang, Umuko Masá Desana, Guarani Mbyá, Krenak e Kurâ-Bakairi. Suas histórias são recontos de suas tradições ancestrais orais e mitos de seus povos, sobre amor, sobre guerras, sobre bravura, sobre a criação do universo, e uma infinidade de temas.
São histórias que, como bem destaca Maurício Negro, organizador e ilustrador do livro, nos ajudam a nos reconhecer como seres deste Brasil, Terra Indígena, e deste mundo, e a desatar também alguns “nós” sobre o parco conhecimento que temos dos povos indígenas, mesmo que, de fato, sejam eles os povos originários dessa terra*.
Seja honesto, quais dos povos acima citados você já tinha ao menos ouvido falar? Eu só conhecia Kayapó e Krenak. Guarani conhecia na sua denominação mais ampla, mas desconhecia que havia sub-etnias como os mbyás e outros. Esse desconhecimento leva a pré-conceitos. A cultura indígena ainda é muito pouco valorizada, e pior, tida como algo inferior. Preconceito, a meu ver, é boa parte ignorância e desconhecimento, e a outra parte, infelizmente é mau-caráter mesmo. Se podemos combater a ignorância, devemos fazer dela uma luta diária, que pode começar desde a mais tenra idade, e é por isso que essa edição leva o selo da “Companhia das Letrinhas”, voltado para o público infantil.
Foi um dos primeiros livros que comprei aqui para casa logo que soube que estava grávida, porque me deparei com uma estante sem livros de literatura indígena infantil, e eu sempre quis oportunizar a maior diversidade possível de autores e gêneros literários para a criança que estava a caminho. Como ainda vai levar alguns anos até que Naoki possa de fato desfrutar dessas histórias, fui eu mesma já conferir seu conteúdo, porque, afinal, eu também tenho muito a aprender, além de ter uma vasta bagagem de pré-conceitos para serem quebrados, já que estou simplesmente há mais tempo por aqui.
Cada conto, além das belíssimas ilustrações de Mauricio Negro, ainda possui um glossário, para que o leitor vá se familiarizando com algumas palavras de cada uma dessas etnias.
A organização, formatação e as ilustrações tornam este livro muito atraente. Os contos podem ser lidos bem rapidamente, caso você seja do tipo devorador, ou podem ser lidos aos poucos, como foi feito por aqui, o que é bem interessante para dar mais tempo e espaço para eles se assentarem, já que o livro é muito rico de informações à sua maneira.
Espero muito realmente poder ler este livro com Naoki, para que ele conheça um pouco mais dos povos originários desta nossa terra, para que entenda o valor das coisas que realmente importam. Este é o legado que fica dessa leitura.
Texto da contracapa:
“As sociedades indígenas são movidas pela magia dos mitos – narrativas ancestrais que apresentam o nascimento do mundo, dos seres e dos homens. Ouvi-las, senti-las e lê-las é mergulhar em um infinito que nos une com o desconhecido. É, sobretudo, alimentar nosso espírito com o mistério presente em todas as coisas, independente de quem somos, de como vivemos e do que temos.
“O que importa é a nossa origem: o coração do Mistério, para onde também retornaremos. É tudo isso que a leitura dessas narrativas desperta. Para senti-las, temos de aprender a ler o silêncio que habita cada ser e o silêncio que nos habita.” Daniel Munduruku
Dados Técnicos do Livro:
- Capa comum: 128 páginas
- Autor: diversos autores (vide imagem da capa)
- Organização e ilustrações: Mauricio Negro
- Editora: Companhia das Letrinhas; 1ª edição (23 agosto 2019)
- ISBN-10 : 8574068640 – ISBN-13 : 978-8574068640
*O texto original foi editado, após ter assistido o vídeo da escritora Mayra Sigwalt, sobre o uso indevido de frases como “os indígenas são os verdadeiros donos dessa terra”, porque essa relação de posse com a terra que temos hoje em dia é nada mais que fruto da colonização.
Muito interessante essa obra. Obrigada por trazê-la aqui e nos permitir conhecer sua existência. Já adicionei à wishlist!
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