Começo este post falando da minha sensação ao final do livro, quando me deparei indagando-me como podem 158 páginas encerrar tantas histórias múltiplas que, ao fim, se resumem em uma única narrativa?
Esta é uma leitura densa, como bem descrito por Lilian Fontes, cuja apresentação abre o livro. Eu a descreveria também como uma verdadeira saga familiar. A sua breve sinopse não deixa entrever todas as sucessões que virão e como o tempo e seus eventos imprimem suas marcas ao longo de gerações e gerações.
Sinopse:
“A história de uma família de imigrantes russos despedaçada pela Guerra, pela persecução e preconceitos, que os tornam em quase sombras do que tinham sido. Dois dos irmãos são feitos prisioneiros do exército alemão, na Primeira Guerra Mundial. Ambos resolvem fugir do campo de exploração de carvão, em que eram submetidos a trabalhar em condições de extrema exploração com um mínimo de alimento e sob um regime de escravidão. A decisão que os leva a fugir para salvar a vida também os faz arriscá-la a cada passo que dão. Os homens parecem fadados tragicamente à dor e ao sofrimento, até quando se procura um mundo mais justo e menos desigual.”
Diante dessa breve descrição, o leitor inicia seu percurso literário crente de que o centro da narrativa é o núcleo familiar do qual os irmãos, Isaac e David, fazem parte, e que a fuga deles os levará a novas terras, onde poderão renascer, como sugere o título do livro. Os breves capítulos vão reforçando essa ideia até certo ponto, quando começam a surgir descendentes, e passa-se a compreender que a narrativa se estenderá, mas não são dadas pistas de até onde. Cabe ao leitor descobrir, sem pressa, e por uma longa trajetória carregada de informações, que conferem densidade à leitura, como havia dito inicialmente.
Mas não são apenas as inumeráveis informações (que me esquivarei de nominá-las para não retirar o prazer do próprio leitor de o fazer) que tornam esta leitura de uma rica densidade, mas também todas as belíssimas digressões existentes ao longo da narrativa, que presenteiam com um tesouro ímpar quem se deixa levar por elas.
Aliás, destaquei dentre estas passagens as que me tocaram a alma profundamente: são todas essas com os post-its amarelos!
Mas, como todo diamante precisa ser lapidado para brilhar ao máximo, acredito que, fosse o caso de o livro passar por uma nova revisão, estaríamos sem dúvida diante de uma dessas joias raras, e que as histórias contíguas tecidas por Silvia Gerschman e os fluxos de consciência presentes encontrariam os holofotes a que realmente fazem jus.
Esta é uma obra linda, que me emocionou demais, e desejo sinceramente que ela toque ainda mais leitores da mesma forma, mas com todo precioso potencial que ela merece.
Por fim, deixo a sugestão àqueles que forem ler O renascimento em outras terras para deixarem o prefácio de José Castelho para depois da leitura do livro. Algumas introduções, por mais que sejam um agradável convite à leitura da obra, retiram do leitor a experiência do primeiro contato real, e acho que este é o caso.
Aprendi muito com esse livro, sobre outras culturas e outras vivências, e, ao final, creio que, como os personagens, eu também renasci em outras terras.
Dados Técnicos do Livro:
Autora: Silvia Gerschman
Capa comum: 158 páginas
Editora: Patuá (São Paulo, 2019)
ISBN: 978-85-8297-807-8
Exemplar adquirido em parceria com a agência literária Oasys Cultural.
Adquira o seu preferencialmente no site da editora. (Primeiro capítulo disponível no link para leitura).
Do seu post, o livro parece muito interessante. Fiquei muito interessada.
Anotado para futura leitura.
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Adoro esses temas envolvendo imigração! De alguma forma, tocam fundo na minha alma!
Linda resenha!
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Também adoro livros que contem histórias de imigrantes! O último que tinha lido antes foi Longa Pétala de Mar, da Isabel Allende, que eu amei. Ao ler este, que também alcança a Segunda Guerra Mundial, até senti saudades daquele.
Obrigada!
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