Sinopse:
“Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais. Sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.
Mas é quando conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguira viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piratas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.”
Selecionei esse livro para ler agora no final do mês de junho no intuito de promover mais leituras com a temática LGBTQ+, e também porque com tanta gente me indicando faz tempo o livro, eu já estava muito ansiosa para finalmente pôr as mãos (e os olhos) nele! Final de junho consegui me organizar melhor também com alguns prazos e também com outras prioridades pessoais (o enxoval do bebê a caminho, por exemplo), e coloquei o livro na minha pilha de leituras!
Não poderia ter ficado mais satisfeita com minha escolha! É uma história com personagens que se encontram naquela fase de transição entre adolescência e vida adulta, pela qual também já passei, e ela é tão importante que nos deixa marcas para todo o resto de nossas vidas, acredito.
A angústia de não se encontrar profissionalmente, aquela indecisão sobre qual curso escolher, e, no caso de Jonas, sem ter condições financeiras para simplesmente sair se jogando de cabeça na primeira opção que lhe passa pela cabeça (o que é privilégio de poucos, diga-se). Ao mesmo tempo, você assistir a seu melhor amigo ou sua melhor amiga entrando na faculdade, dando-lhe a sensação de que sua vida não está avançando, que você está ficando para trás, e não se sente digno de ocupar os mesmos espaços que ele ou ela. Sei que essa sensação não deveria passar pela cabeça de ninguém, porque cada pessoa tem seu próprio ritmo e sua própria realidade, mas sei também que é uma sensação legítima, e achei incrível como, de forma tão genuína, todos esses sentimentos aparecem transcritos na narrativa de Vitor Martins.
Jonas tem um talento, que ele mesmo desconhece, para escrever histórias, mas, por algum motivo, nunca consegue levá-las adiante. Será insegurança? Talvez com a ideia #66 de seu caderninho: “Piratas Gays”, as coisas mudem.

Além de Jonas não saber exatamente o que quer fazer de sua vida, em termos de carreira, seus pais não lhe oferecem o conforto de uma família que todos esperamos de um lar: um ambiente seguro, onde podemos ser nós mesmos, onde encontramos apoio e amor incondicional. Sei que ter tudo isso também é um privilégio, e é isso que mais me corta o coração, na verdade: saber que o que Jonas passa dia a dia é a realidade de muitas pessoas.
A mãe de Jonas é uma mulher de ferrenha fé, que dedica sua vida às promoções e eventos da Igreja da qual faz parte. Um conservadorismo religioso que muitas vezes faz com que as mães não enxerguem (ou não queiram enxergar) quem são de fato seus filhos, e acabam não lhes dando o apoio que realmente precisam, embora seja inegável que elas os amem. Ela é uma mãe dedicada, que, claro, com suas crenças, apenas acredita estar fazendo o melhor pelo seu filho, e portanto, a forma pela qual vai demonstrar esse amor se permeia dos valores que ela tem como os mais altos: Deus e a Igreja. Ela também cozinha muito bem, e seus pratos deliciosos são uma das pequenas coisas realmente valiosas para Jonas sentir um pouco a ideia de um lar acolhedor. O pai, porém, distanciou-se de Jonas com o passar dos anos, mesmo ambos vivendo sob o mesmo teto. Toda vez que dirige a palavra a seu filho é no intuito de rebaixá-lo, criticá-lo e cobrar uma postura de “homem”. Às vezes os pais têm uma expectativa sobre os filhos que não se realiza, e eles descontam a frustração nos próprios filhos. É assim que vejo o pai de Jonas. Ele queria que o filho gostasse de futebol e fosse seu companheiro de sofá todas as quartas-feiras; mas isso é apenas uma das expectativas não correspondidas. Em algum grau, a sensação que temos é que ambos os pais desconfiam que Jonas não é o que eles esperavam, mas preferem fingir que não, porque lhes parece mais fácil ignorar a realidade do que lidar com um filho homossexual.
Felizmente, Jonas tem bons amigos, com os quais ele pode ser ele mesmo e falar o que realmente carrega em seu coração. E é tão gostoso ver essas amizades aflorando ao longo da história, ou mesmo testemunhar seus percalços, porque, como qualquer relacionamento, amizades também são feitas de altos e baixos. E, para completar a turbulência dessa fase de muitas incertezas, Jonas conhece um rapaz ruivo misterioso, acrescentando a pitada de amor e paixão que também acomete muitos jovens em meio a tantas transformações da vida. Delicioso de acompanhar também.
É esse o panorama geral do livro, e em meio a tudo isso, Jonas, assim como qualquer pessoa, só quer encontrar seu final feliz. Às vezes a vida não dá aquilo que queremos, mesmo assim, em boa companhia, podemos sempre escrever outras versões da história de nossas vidas, com um milhão de versões de finais felizes possíveis.
Esse livro contém amor. Fui de risadas a sensações de coração partido numa única leitura. Parece a vida, falando assim. E creio que seja.
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 352 páginas
Autor: Vitor Martins
Editora: Alt; Edição: 1 (16 de julho de 2018)
ISBN-10: 8525065374 – ISBN-13: 978-8525065377
Livro adquirido através do site Amazon Brasil.
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