Sinopse:
“Por anos, boatos sobre Kya Clark, a “Menina do Brejo”, assombraram Barkley Cove, uma calma cidade costeira da Carolina do Norte. Ela, no entanto, não é o que todos dizem. Sensata e inteligente, Kya sobreviveu por anos sozinha no pântano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como professora. Abandonada pela mãe, que não conseguiu suportar o marido abusivo e alcoólatra, e depois pelos irmãos, a menina viveu algum tempo na companhia negligente e por vezes brutal do pai, que acabou também por deixá-la.
Anos depois, quando dois jovens da cidade ficam intrigados com sua beleza selvagem, Kya se permite experimentar uma nova vida — até que o impensável acontece e um deles é encontrado morto.
Ao mesmo tempo uma ode à natureza, um emocionante romance de formação e uma surpreendente história de mistério, Um lugar bem longe daqui relembra que somos moldados pela criança que fomos um dia e que estamos todos sujeitos à beleza e à violência dos segredos que a natureza guarda.”
Livro nº 12 do Clube do Curinga
Este foi o livro selecionado para julho no Clube do Curinga! Eu queria ler há algum tempo já, mas quando foi decidido que o leríamos em julho, topei na hora esperar mais um pouco e depois ter a oportunidade para discutir com pessoas cujas opiniões tenho em alta conta! Sério, leitura em conjunto é uma experiência à parte. Todo mundo que gosta de ler adora comentar sobre determinado livro que leu com outras pessoas, de preferência que o leram também, e é isso que a leitura conjunta cria: a vantagem de poder comentar livremente (com spoilers e tudo a que se tem direito) sobre um livro que lemos dentro de um grupo de pessoas que optaram por aquela leitura.
Mas, deixando de lado um pouco o clube, o que eu tenho para dizer sobre o livro sem spoilers para quem não leu?
Minhas Impressões sobre o livro:
Talvez, o primeiro alerta que eu devesse dar seja: “Um lugar bem longe daqui” não é um daqueles livros para quem gosta de ler num fôlego só. Dividido em duas partes, acredito que sua leitura também poderia ser feita em duas formas. A primeira delas requer um tipo de leitura contemplativa. Com uma narrativa mais descritiva e pacata, passar por ela de forma apressada pode roubar-lhe o que ela tem de melhor, essa qualidade de retratar a natureza pelos olhos de alguém que a admira como um fim em si mesma, e que busca através de sua escrita uma forma de homenageá-la.
Para quem não sabe, Delia Owens estreou com este livro seu primeiro romance, mas com certeza não sua primeira publicação. Zoóloga por formação, especializada em comportamento animal, Owens é uma cientista coautora de 3 livros bestsellers de não ficção, voltados para sua vida e pesquisa no continente africano, onde teve algumas experiências reais de isolamento. O mais famoso desses livros é “Cry of the Kalahari”, que descreve essa experiência em que sua convivência humana se limitou à de seu marido e alguns bosquímanos (uma etnia da Botswana).
Por isso, ainda que não autobiográfico, a primeira parte do livro tem uma atmosfera inegável de verossimilhança com a vida da autora, que sempre amou muito a natureza. E por isso, acredito que a beleza do livro ecoa em sua grande maioria, nessa sua primeira fração, com a jovem criança Kya vivenciando, infelizmente, a dor do abandono pela sua própria família, mas fincando suas raízes onde encontra alegria: na vida selvagem do brejo, fazendo dela sua melhor amiga e companhia.
Já a segunda parte vai ganhando uma dinâmica ascendente por conta do suspense já esboçado, na verdade, na primeira parte do livro. Se a leitura antes estava mais serena, a ansiedade do leitor e da leitora começará a aumentar a partir de então. Eu acho que alguns integrantes dessa leitura coletiva resumiram bem a ideia: chega um momento do livro que não dá mais vontade de largar até terminá-lo. Foi exatamente assim que concluí a história: devorando-a.
Outra coisa que adorei no livro é que ele tem um mapa. Sou a doida dos mapas, então, sempre que um livro tem algum, ele já ganha pontos extras para mim! O mais interessante é que esse livro nem precisaria de fato de um mapa, mas ele me parece reforçar essa bela união entre ciência e literatura de alguma forma.
Kya é abandonada pela mãe aos 6 anos de idade. Aos poucos todos seus irmãos partem também, e até seu pai que, apesar de viver embriagado e tornar-se violento, é quem surpreendentemente mais tempo permanece na cabana junto ao brejo lhe fazendo companhia, um dia simplesmente não retorna mais. Vista pela população da cidade como “lixo branco do brejo”, ela sofre muito preconceito quando faz sua primeira e única tentativa de entrosar-se na escola com outras crianças, decidindo nunca mais voltar. Uma sobrevivente, porém, ela consegue sempre fugir da assistência social e encontra formas de garantir uns trocados para suas refeições diárias e para abastecer o motor de seu barco, mas vivendo nesse ritmo: um dia de cada vez, com a ajuda de Pulinho, um senhor negro que também experimenta o preconceito e racismo à sua maneira, numa sociedade segregacionista.

Quando iniciei a leitura de “Um lugar bem longe daqui” imaginava que iria favoritá-lo para a vida. Não foi bem isso o que aconteceu, mas, para minha surpresa, se em determinados pontos o livro pareceu que não iria me impressionar, na verdade, ocorreu bem o contrário ao refletir sobre a obra. Avaliei-o com 5 estrelas, porque achei sua proposta muito diferente de tudo que já experimentei até hoje. Essa sensação vagarosa na primeira parte jamais me faria supor que eu iria querer terminar o livro numa velocidade incompatível com à da primeira parte. Também não imaginava que a narrativa em duas linhas temporais (o passado e o presente na história) iriam levar a um desfecho realmente intrigante, de modo a tornar menos batida essa técnica de escrita. Havia um receio meu de que o livro não fechasse todas as pontas, mas ele o faz, e achei a sua execução ao mesmo tempo bela e assustadora.
Creio que quando penso realmente na natureza, é assim que a vejo: bela e assustadora. Kya é uma garota que cresce ciente dessas duas qualidades da natureza e torna-se uma mulher que extrai desse conhecimento o melhor para si, tornando-se a eterna menina do brejo.
Um livro para sensibilizar mas que pode surpreender ao entregar algo a mais. Recomendo a leitura!
Dados Técnicos do Livro:
Capa comum: 336 páginas
Editora: Intrínseca; Edição: 1 (29 de julho de 2019)
ISBN-10: 8551004867 – ISBN-13: 978-8551004869
*Minha edição é a exclusiva para assinantes do Clube Intrínsecos. Saiba como se tornar um membro do Clube clicando aqui.
Itens que vieram na caixa 008: Cartão Postal com ilustração da capa, saquinho de sementes com citação do livro, edição exclusiva Intrínsecos do livro, marcador de página com citação do livro, revista 008, bloco de anotação de resenhas de livros. Demais itens da foto são meramente ilustrativos.
Fico um pouco receosa quando vejo que uma leitura é lenta no início, pois pode me desmotivar, mas lendo sua resenha percebi que ela oferece uma grata surpresa ao prosseguir. Ainda quero ler!♥
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Eu também fico hahaha, mas embora não seja um livro que as pessoas em geral tenham me dito que AMARAM, os feedbacks foram bem positivos, então sabia que por algum motivo valeria a pena. Que bom que foi isso mesmo.
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A sua resenha despertou o interesse em ler o livro.
Enquanto lia a resenha, fui “levada” para a África lembrando de um filme. Não recordo o nome do filme, mas lembro que gostei muito. Tinha paisagens exuberantes, retratava a escolha de uma culta família inglesa, a vida, os desafios em meio à natureza africana e as consequências.
Quero ler o livro.
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Olá,
Ahh, as leituras coletivas, são sempre maravilhosas. Tenho saudade disso.
Gostei da sua resenha, tenho lido muitas resenhas positivas sobre o livro, mas conhecer melhor esse início lento é um bom alerta. Nem sempre eu funciono bem com inícios assim.
Beijo!
http://www.amorpelaspaginas.com
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