“O Escândalo do Século” é uma coletânea de 50 reportagens escritas por Gabriel García Márquez, carinhosamente conhecido como Gabo, publicados em jornais e revistas entre os anos de 1950 e 1984. A seleção de tais reportagens, colhidas já do compilado “Obra Jornalística” – Jacques Gilard, foi feita por Cristóbal Pera, e o critério foi totalmente pessoal, com a preocupação de trazer textos que mostrassem, nas palavras do editor: a “tensão narrativa entre jornalismo e literatura”. Embora o escritor colombiano tenha ficado mundialmente célebre por seus romances como “Cem Anos de Solidão” e “O Amor nos Tempos de Cólera”, era pelo jornalismo que ele nutria sua verdadeira paixão.
Quando comecei a ler, minha ideia inicial para quando fosse escrever esta resenha era apontar os textos que mais havia gostado. Chegou um ponto da leitura, porém, que percebi que isso seria impossível, porque o livro como um todo estava me agradando muito, e então compreendi Cristóbal Pera e senti uma enorme empatia por ele, imaginando como deve ter sido difícil fazer a escolha dos textos para este volume único.
O livro, aliás, tem como título uma série de reportagens de nome homônimo: “O Escândalo do Século”, que foi um capítulo desse livro que acompanhei com a apreensão típica digna de quem lê um suspense de Agatha Christie. Muitos textos me remeteram a sensações que tenho quando me deparo lendo um livro de literatura, e acredito que foi o que realmente mais me impressionou e me fez aclamar a seleção do editor, e seu critério — ainda que pessoal — me pareceu muito acertado.
Fico agora é imaginando o leitor assíduo do escritor, acompanhando seus textos através de uma revista ou de um periódico e lendo os fatos à época de suas publicações. Devia ser ainda mais prazerosa a leitura, dada a proximidade de alguns eventos ou até sua maior notoriedade, e de repente vê-los reportados em textos tão aprazíveis como os oferecidos pela literatura.
Este foi um livro que li vagarosamente, saboreando cada texto e imaginando o que Gabo era capaz, então, de fazer num escrito puramente fictício. Mas então me recordo de um artigo em que ele fala exatamente disso, do quanto a realidade supera a ficção (“Algo mais sobre a literatura e a realidade” – El País, 1 de julho de 1981), e de como, em específico, escritores da América Latina e do Caribe vivem realidades incríveis da qual a literatura sofre de insuficiência de palavras para contá-las.
Se é verdade que Gabriel Gárcia Márquez se sentia mais repórter que escritor de ficção, também é verdade que seus textos jornalísticos despertaram em mim ainda mais vontade de explorar seus romances, baseados na realidade que o cercava, sim, mas sobretudo na forma como ele a enxergava, permeada de uma rica perspectiva literária; e isso faz toda a diferença, vocês não concordam?
Dados Técnicos do Livro: Capa comum : 350 páginas Autor: Gabriel García Márquez Editora : Record; 1ª Edição (13 julho 2020) ISBN-10 : 6555870176 – ISBN-13 : 978-6555870176 *Edição recebida em parceria com o Grupo Editorial Record. Adquira o seu exemplar preferencialmente junto ao site da editora. |