““Alma na casa sozinha” é um feixe de rastros. Cismas com esquinas da cidade, quinas da casa, vincos do rosto. Talvez cada página se revele quadrante dum mapa infinito, de rotas perdidas, aliviadas. Da mesa da cozinha, salas de espera, bancos de praça, vistas do mar, pontilhei as linhas de seus trajetos tortos. A malha de um guia difuso. Segue toda vida” – Felipe Gomes

Inicio o post agradecendo imensamente a Valéria pela parceria com a @oasyscultural durante todo este conturbado ano de 2020. Essa parceria me trouxe leituras maravilhosas que fez dele um pouco melhor, e, acreditem, cada pequena coisa conta, e uma boa leitura é algo que sempre me traz um pouco de conforto e me faz sentir melhor.
Minhas impressões:
Sempre imaginei que todo livro de poesia era uma reunião de pedaços. Partes de cá e lá da vida que não passam despercebidos pelas janelas de nossas almas — os olhos, como dizem por aí. Mas a poesia de Felipe Gomes, como bem dito por Mariana Vargas (no prefácio), é feita de estilhaços, e não apenas de pedaços, como eu costumava pensar. A mera coleta deles não possibilita a composição completa de todo o infinito que habita o poeta, assim como nossas palavras, por mais poderosas, não exprimem jamais nossa totalidade. Mas, ainda que feitos de cacos, esses poemas partem do que há de mais singelo: da alma de Felipe Gomes. Até porque, como ele mesmo diz, a vida segue. Não há poesia que alcance a borda dessa travessia.
Assim, recolhido cada um desses estilhaços, o que se percebe é que pode não ser possível termos uma imagem nítida e perfeita do que deveria ser o espelho do poeta, mas cada grão, obtuso ou não, extraído dos mais pequenos detalhes, importa para o todo.
Enquanto lia a poesia de Felipe Gomes, me peguei em muitos momentos sorrindo para o título do livro, já que ao longo da leitura, as páginas preenchiam minha madrugada, e, com elas, eu me sentia um pouco menos solitária, embora eu não estivesse de fato sozinha em casa e muito do ali registrado em versos não ressoasse com nenhum cenário de minha vida.
Favoritei alguns poemas, seja pelo texto como um todo ou por um único verso — aquele certeiro —, que fez toda a diferença e martelou direto na minha alma também; seja ainda por sua cadência ou até mesmo pela estruturação e seu apelo visual. Não vou nominá-los, porém; muitos deles sequer título têm. Pensei muito sobre esse fato, aliás, e então cheguei a uma conclusão: alguns eventos em nosso cotidiano rendem um pensamento, outros, uma poesia com muitas estrofes e são memoráveis por si só, e, ao procurarmos as palavras exatas para expressá-los, nominando-os, retiraríamos sua espontaneidade ou pelo menos a ideia da espontaneidade.
Seja como for, poesia é para ser lida e sentida, sem interpretação certa ou errada.
Quando uma poesia cravar em você, guarde-a. Guarde este frame, nem que seja recriando seu próprio poema.
Dados Técnicos do livro:
Capa comum: 92 páginas Autor: Felipe Gomes Editora: Patuá (1ª edição, 2020) ISBN: 978-65-86130-11-9 Exemplar recebido em parceria com a Oasys Cultural. Adquira o seu pelo site da editora. |
