Faz um tempo já que li esse livro, mas quando terminei não estava muito no clima de resenhá-lo. Foi bem nos piores dias de bombardeios na Faixa de Gaza, que feriu centenas de palestinos; um ataque tão violento como não se via há muitos anos. Então o desconforto de vir e falar de um livro que propõe uma solução de dois Estados como uma forma de apaziguar os conflitos entre israelenses e palestinos. Pareceu algo até desrespeitoso de se falar, tamanha a utopia por trás da proposta. Infelizmente, Amós Oz não viveu pra ver uma verdadeira trégua se concretizando, mas talvez, felizmente, também não viveu o suficiente para ver que ela parece estar bem longe de acontecer, como ele esperava.
O mais influente escritor de Israel foi também cofundador do movimento israelita Paz Agora, e nesse livro ele conta que nem sempre defendeu essa causa, assumindo-se um fanático recuperado da lavagem cerebral sofrida na infância e tendo adquirido um senso de ambivalência das coisas.
O livro reúne uma palestra, dois ensaios e um artigo, adaptados para a publicação, e uma entrevista. É um livro maravilhoso de se ler. Ficamos encantados com o seu brilhantismo e sua clareza ao expor suas opiniões. Eu grifei tanto o livro que se fosse repassar todas os trechos perigava eu estar apenas copiando e colando do começo ao fim. Mas em essência, alguns “ingredientes” para curar um fanático são: curiosidade e imaginação. Curiosidade para sempre ter o interesse de aprender. Imaginação para se colocar no lugar do outro. Curiosidade para questionar. Imaginação para enxergar narrativas diferentes das que sempre ouvimos. Aprender coisas que não sabíamos e coisas que preferiríamos não saber. Aprender a fazer concessões.
Só pra terminar, deixo um excerto:
“Acredito que a síndrome de nossa época é a luta universal entre fanáticos, todos os tipos de fanáticos, e o resto de nós. Entre os que creem que seus fins justificam os meios, todos os meios, e o resto de nós que julga que a vida humana é um fim em si mesma. O crescimento do fanatismo pode ter relação com o fato de que quanto mais complexas as questões se tornam, mais as pessoas anseiam por respostas simples. Fanatismo e fundamentalismo muitas vezes têm uma resposta com uma só sentença para todo o sofrimento humano. O fanático acredita que se alguma coisa for ruim, ela deve ser extinta, às vezes junto com seus vizinhos.”
Apenas leiam esse livro.
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