Esta Antologia de contos em HQ não poderia ter sido mais simbólica pra mim.
“Immigratitude” (que poderia ser traduzido num neologismo resultante da aglutinação de imigração + gratidão) reúne o trabalho de 18 quadrinistas asiáticos ou descendentes de asiáticos que vieram trazer um pouco de suas vivências, principalmente porque, com a pandemia da covid-19, o preconceito étnico-racial contra amarelos ficou mais evidente e levou a algumas manifestações como #eunaosouumvirus #iamnotavirus. Em alguns países de forma mais acentuada que outros, é verdade, mas ainda que menores, as microagressões não devem ser silenciadas, e por isso a importância de se falar delas.
A visualização pelo leitor de traços artísticos tão diferentes para contarem suas histórias ajuda a quebrar generalizações, à medida que a singularidade de cada HQ deixa muito clara também a singularidade da pessoa por trás de cada trabalho. Isso mostra diversidade, mesmo dentro de um mesmo grupo étnico-racial. As narrativas, ainda, têm o papel de romper com mitos que ajudam a perpetuar o racismo estrutural contra pessoas negras e indígenas, já que exigem do leitor enxergar além de seus estereótipos que formam o mito da “minoria modelo”, que “deu certo”. Esses estereótipos privilegiam amarelos dentro da supremacia branca, e, portanto, devem ser combatidos.
São histórias únicas, que trazem representatividade e ajudam no processo de busca e construção de identidade de outras pessoas amarelas, sejam por quais forem os tipos de experiências por quais elas passam: as dolorosas, as alegres, as saudosas, as solitárias, mas também de gratidão e de acolhimento.
Mas não foi só pela representatividade que este livro se mostrou um símbolo para mim. Foi também o fato de ele ter essa proposta de contos, ainda que em formato HQ. Foi durante a pandemia que passei a gostar de ler contos. Antes, ler contos exigia um certo esforço de minha parte, era um gênero que eu dispensava facilmente.
Mas durante a pandemia, fui entendendo o “barato” dos contos. Li muitos entre leituras mais leves ou leituras mais densas, e eles me mantiveram na inércia da leitura: eu estava lendo e conseguia me manter lendo, por causa dos contos. Não achava ruim que terminassem logo ou que deixassem um gosto de “quero mais”, nem mesmo quando findavam abruptamente. Eu passei a vê-los com a mesma incerteza dos dias que viriam pela frente, mas não de uma perspectiva negativa, e sim pelos olhos de quem consegue ver beleza no desconhecido, naquilo que não foi dito, naquilo que também não está escrito nos contos.
Somos condicionados a preencher lacunas, e existe a liberdade para eu preencher esses vazios como quiser, onde a criatividade me levar, e assim me conheci melhor também, porque descobri que é da minha natureza ter esperança, pensar positivo e não se deixar abater facilmente. Sei que nem todo mundo é assim, mas existem contos pra todo tipo de gente, que podem ter os mais variados significados para cada um. Eu encontrei alguns bem especiais pra mim neste aqui, e por isso o estou indicando. Mas qual conto você amou ter lido nos últimos tempos e também gostaria de indicar? Deixa nos comentários.
Onde adquirir o livro?
Vi sua indicação no Instagram e fiquei curiosa para ler essa HQ. Ao longo dos últimos dois anos, procurei mais livros que colocassem a representatividade das pessoas amarelas em foco e fiquei decepcionada em ver que existia tão pouca coisa no mercado editorial brasileiro… Espero que tragam essa HQ para cá 🤞
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Acho que por aqui falta essa preocupação mesmo de buscar essa representatividade.
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