Trem noturno da via láctea – Kenji Miyazawa

Misturando a tradicional festividade japonesa, o Tanabata, com princípios budistas e cristãos e ainda um pouco de ciência, temos esta pequena história clássica japonesa, escrita por Kenji Miyazawa.

Kenji nasceu em 1896. Era engenheiro agrônomo, mas aos 21 anos começou a publicar contos em jornais locais. Cinco anos depois, com a morte de sua irmã por tuberculose, sua produção literária cresce mais ainda, e Trem Noturno da Via Láctea é uma de suas produções de maior destaque, chegando a reescrevê-la por 4 vezes, porém morre, também de tuberculose, sem terminá-la. Criado por uma família budista fervorosa que acreditava na ideia do auto-sacrificio em prol do bem geral, foi fiel à religião até sua morte, usando seus conhecimentos de engenharia agrônoma para ajudar a população pobre a ter uma melhor técnica para colheita nos tempos difíceis em que pouco viveu.

Trem Noturno, assim, contém passagens claramente inspiradas nos princípios budistas, ainda que se mesclem com princípios cristãos (você pode conferir mais detalhes lendo a introdução no e-book).


Na história, Giovanni, um menino sem amigos na escola, é constantemente ridicularizado pelos colegas, exceto por Campannella, a quem se afeiçoa. Um dia, numa aula de ciências, o professor pergunta a Giovanni se ele sabe o que é a Via Láctea, e apesar de saber, não consegue responder. Campenella também finge não saber, para que deixem Giovanni em paz, mas a frustração do garoto ainda assim o faz imaginar como seria bom poder viajar entre as estrelas. Coincidentemente, é época de Tanabata (Festa das Estrelas), e todos da escola vão à festa ao entardecer e chegada da noite soltar lanterninhas na água, em homenagem ao encontro das estrelas Vega e Altair, que representam a mitologia japonesa sobre o amor proibido da Princesa Tecelã e um pastor de gados.

Nessa noite, Giovanni também sai de casa para as festividades, e num determinado momento, tal como Alice no País das Maravilhas, se põe a dormir, mas no topo de uma colina. O menino então sonha que tem um bilhete especial e viaja de trem pela Via Láctea. Lá encontra seu amigo Campannella. Ao despertar, porém, ele não será mais o mesmo, e nem a realidade à sua volta.

Eu gostei muito da narrativa fantástica, que, como já deixei escapar, me lembrou bastante Alice ao sonhar. Mas me lembrei ainda de outras histórias que amo muito, como “Em algum lugar nas estrelas”, de Clare Vanderpool, em que um garoto autista consegue ver toda uma narrativa no número π e faz uma viagem também surreal, guiado pelas estrelas. Lembrei-me da série “Uma Dobra no Tempo”, já que Trem Noturno também mistura elementos de religião com ciência; lembrei-me das histórias das animações do Studio Ghibli, sobretudo “Sussurros do Coração”, porque ler Trem Noturno é uma fantasia que envolve a cultura e folclore japonês.

Porém, acho que justamente por amar essas histórias, achei que o fato de o livro não ter sido concluído prejudicou minha experiência. Estava amando a leitura, e precisava de um fim para ela melhor. Para mim, onde ela parou, fica muito enfático somente a questão dos princípios budistas, e eu desejava que ela extrapolasse um pouco isso para ter um significado e um impacto maior. Mesmo assim, sua leitura é muito válida, e maior ainda o mérito da Luna Books e da Uls & Co por traduzi-la e trazer a conhecimento do público, ainda que apenas na forma eletrônica, uma história tão tradicional no Japão.

Se você tem Kindle Unlimited e tem interesse em narrativas fantásticas e na cultura japonesa, fica aí uma ótima dica.

Embora cheia de curiosidades, das quais trouxe algumas já aqui no post, outra dica é deixar para ler a introdução para depois (mas leiam sim!), pois ela contém spoilers.

Também, para quem se interessar, vi que existe um filme, em formato de animação japonesa baseada no livro. Vou querer assistir com certeza. Quem sabe eles deram à história um fim merecido.

Também, existe a edição física do livro na Estante Virtual, da editora Globo, de 2008, sob o título “Viagem noturna no trem da via láctea”.

Esta foi mais uma leitura para o meu desafio Lendo Asiáticos. Estou procurando por edições gratuitas como essa para facilitar minha meta de não comprar livros físicos este ano, e claro, para economizar. Se souber de algum livro escrito por autores do leste-asiático e descendentes, por favor, estou aceitando indicações.


Dados Técnicos do Livro:

Formato: e-book para Kindle, 81 páginas
Autor: Kenji Miyazawa
Editora ‏ : ‎ ULS & Co.; 1ª edição (17 maio 2017)
ASIN ‏ : ‎ B071S8R5D2
Tamanho do arquivo ‏ : ‎ 1506 KB
Tradução: Tomi Okiyama e Montse Watkins
Título original: Ginga tetsudo no yoru

7 comentários

      1. Até agora só meu TCC. Se tudo der certo, até final do ano minha dissertação de mestrado estará pronta (trabalho justamente com o conto Ginga Tetsudô no Yoru. Se tiver a oportunidade de ler a coletânea de contos dele, publicados pela editora Globo em 2018, recomendo muito. É maravilhosa.

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      2. Fico na torcida então pra tudo dar certo. Fiquei bem curiosa pra sua dissertação. Quero ler sim. Acho que outros estão também no Prime, mas pela Luna Books, assim como esse.

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  1. Oi Isa,
    Minha primeira vez no seu blog, e achei ele muito lindo ^^ Te acompanho mais pelo Instagram. Gostei bastante da sua resenha, uma pena que o livro não tenha o final original que o autor imaginou, lembro que também vi um drama coreano que não tinha final no mangá, pois a autora faleceu, mas mesmo assim eles conseguiram fazer um final crível para o drama.
    Espero que nessa animação que vc citou também tenha sido assim ^^
    Bjos
    Kelen Vasconcelos
    https://www.kelenvasconcelos.com.br/

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    1. Oi Kelen! Nossa, obrigada! Eu adorei a sua visita por aqui, mas sabe o que eu achei mais legal? Que você também tem um blog e eu nem sabia. Já vi que tem além de livros, séries, filmes, doramas por lá. Vou acompanhar!

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